A morte da musa do cinema Gina Lollobrigida, aos 95 anos, na última segunda-feira (16), chama a atenção para um dos maiores riscos à saúde de idosos: quedas e fraturas. A atriz italiana estava internada desde setembro passado, após quebrar o fêmur (osso da coxa).
Uma série de fatores contribui para essas ocorrências com o avançar da idade. De acordo com o médico geriatra Virgílio Olsen, chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre, podem interferir na mobilidade e no equilíbrio a fraqueza muscular, a instabilidade das articulações, doenças neurológicas, a perda de visão e o uso de múltiplos medicamentos, entre outras condições.
Estimativas indicam que até um terço dos idosos sofre uma queda anual a partir dos 65 anos. Aos 80 anos, metade dessa população enfrentará um episódio desses no mesmo período de tempo.
— Em cerca de 10% das quedas, haverá uma fratura menor, de punho, vértebra, braço. Fraturas maiores, como de fêmur ou crânio, representam menos de 1% do total de quedas, mas com um impacto tremendo na qualidade e na quantidade de vida — afirma Olsen.
Fraturas de fêmur são as mais temidas, pela gravidade e necessidade de cirurgia. Representam longos períodos de recuperação e limitações.
— A mortalidade é de 30%, comparável a insuficiência cardíaca ou infarto — observa o geriatra.
No grupo de pacientes que não vai a óbito, metade não recupera a mobilidade que tinha antes de se machucar. Isso significa viver com sequelas permanentes para tarefas simples, como subir e descer escadas. Muitos começam a ter medo de andar na rua, e familiares podem passar a restringir as saídas devido ao mesmo temor.
— Abala o emocional: os idosos ficam mais deprimidos, têm ansiedade, deixam de fazer as coisas. Restringe a atividade social. Os filhos tomam as rédeas mais do que os pacientes gostariam — diz Olsen.
Recomenda-se que a reabilitação pós-cirúrgica comece de imediato, ainda na internação. O objetivo é que o paciente, sob supervisão do fisioterapeuta, comece a sentar e levantar mesmo que não consiga apoiar o peso do corpo na perna operada. Na grande maioria dos casos, será necessário passar a usar bengala, muleta ou andador.
— A reabilitação precoce para o fêmur é importante para mudar o paradigma de ficar na cama, imóvel, por um mês. Com imobilidade prolongada, há perda de massa muscular, risco de trombose e infecções de pele, uso de fraldas. No primeiro mês, o risco de trombose é muito alto. A imobilidade pode se perpetuar. Quanto mais tempo imóvel, mais difícil fica. É um ciclo vicioso — pontua Olsen.
Fraturas menores também forçam restrições e maior dependência. É preciso encará-las como um grande alerta. O médico decidirá se é necessário começar a usar medicação para fortalecer os ossos e praticar atividades para reforço muscular (exercícios são recomendados para todas as faixas etárias). A osteoporose é comum, principalmente em mulheres. Os ossos ficam mais porosos em mulheres depois da menopausa e, nos homens, a partir dos 70 anos.
— Além de o idoso cair mais do que os mais jovens, existe essa fragilidade óssea, que aumenta o risco de fratura também por causas menores. Ele quebra um osso que não era para quebrar. Osteoporose tem tratamento, mas talvez seja uma das doenças mais ignoradas da medicina. Trata-se preventivamente, durante a vida, aumentando a massa óssea, com alimentação saudável e rica em cálcio, atividade física aeróbica e de força — orienta o chefe da Geriatria da Santa Casa.
O ideal é que a adaptação da casa onde vive o idoso comece antes do primeiro susto. Há inúmeras mudanças que podem ser implementadas para evitar desequilíbrio, escorregões e tombos (leia mais abaixo). A quantidade de modificações é proporcional ao risco de cada indivíduo, o que deverá ser avaliado pelo médico. Medidas simples, como uso de calçados fechados (como sandálias com alças, que não caiam do pé, em vez de chinelos de dedo) e de solado antiderrapante, são muito efetivas.
Como adaptar a casa para prevenir quedas
- Coloque uma luminária — ou mesmo uma lanterna — ao lado da cama para facilitar a movimentação à noite. Manter uma luz próxima acesa, como a do corredor, é recomendado
- Um telefone deve estar ao alcance da mão
- Em imóveis de dois ou mais andares, interruptores precisam ser instalados nas partes inferior e superior das escadas para que todo o trajeto seja percorrido com luz acesa. Iluminação que opera por detecção de movimento é um facilitador. Faixas adesivas antiderrapantes na borda dos degraus e corrimãos dos dois lados também são indicados
- Interruptores devem estar, idealmente, na entrada de cada cômodo, evitando ter de caminhar no escuro
- No guarda-roupa, mantenha as peças em prateleiras de fácil acesso, evitando lugares mais altos. Vale a mesma orientação para armários que contenham objetos e alimentos acessados com frequência
- Fixe bem as estantes às paredes, para que possam servir de apoio seguro se necessário
- O idoso não deve subir em cadeiras, caixas ou escadas para alcançar algo no alto
- Em todas as peças, deixe espaços livres suficientes entre os móveis para permitir uma boa circulação
- Mantenha fios de telefones, eletrônicos e extensões fora das áreas de trânsito
- Evite tapetes, que podem provocar tropeços e escorregões. Se utilizá-los, opte por artigos não deslizantes
- Cadeiras e sofás baixos exigem mais na hora de sentar e levantar. Caso necessário, faça adaptações com almofadas. Móveis com apoio para os braços são melhores
- Instale barras de apoio no banheiro
- O assento do vaso sanitário pode ser substituído para ficar mais elevado
- Tapetes antiderrapantes são essenciais dentro e fora do boxe
- Cuidado ao escolher a cadeira de banho. Os pés devem ficar firmes no piso molhado
- Limpe líquidos, gordura ou comida que caírem no chão imediatamente
Fonte: Ministério da Saúde