O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) recebeu, na última sexta-feira (16), denúncias de profissionais do Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas, relatando falta de insumos e problemas nas condições de trabalho da unidade. Médicos também levantaram, na última semana, a possibilidade da interrupção de cirurgias eletivas. A direção do hospital, entretanto, garante a continuidade das atividades.
Conforme o vice-presidente do Simers, Marcelo Matias, os principais pontos levantados por profissionais que trabalham no local foram a “falta e gás carbônico para a realização de cirurgias por vídeo e de clorexidina” — este último, um antisséptico químico com ação antibacteriana.
O sindicato aponta também denúncias de que equipamentos de ar-condicionado dos ambulatórios estão há um ano sem funcionar, comprometendo a qualidade no atendimento dos pacientes.
De acordo com um profissional ouvido pela reportagem, que prefere não ter a identidade publicada, a prefeitura não realizou o repasse referente ao valor que o hospital recebe mensalmente para o atendimento do SUS:
— Com a falta de insumos, não dá de continuar com o hospital aberto. Na terça-feira (13), tínhamos pacientes com glicose baixa e não tinha ampolas. Então começamos no próprio dia a pedir empréstimo para os outros hospitais, como sempre acontece, isso é de praxe. Alguns a gente conseguiu, mas, às vezes, os outros hospitais também não têm e começamos a trabalhar com o cobertor mais curto.
A falta de insumos ocorre dois meses após a prefeitura apresentar um projeto de mutirão para tentar zerar as cirurgias atrasadas, com um investimento de até R$ 14,5 milhões.
Direção do hospital garante continuidade das cirurgias
Apesar de os médicos relatarem a possibilidade da interrupção de cirurgias eletivas a partir de segunda-feira (19), a direção da unidade hospitalar admite enfrentar problemas pontuais com medicamentos, mas que isso não interrompe os procedimentos.
— O que ocorre neste período é de muitos médicos entram de férias, então é normal termos uma redução de cirurgias. Além disso, os próprios pacientes preferem aguardar para realizar os procedimentos após a virada do ano. Mas seguimos com cirurgias eletivas e alguns procedimentos — disse o diretor do diretor do Hospital Nossa Senhora das Graças, Juliano da Silva.
Conforme o diretor, existem situações pontuais que envolvem a falta de medicamentos:
— São poucos casos. Existe sim alguma falta, mas nada que interrompa as nossas atividades. Também há a questão de que muitos fornecedores entram em recesso coletivo neste período, mas a maior parte do abastecimento está em dia.
Sobre problemas estruturais, Silva garante que todos os quartos do SUS possuem ar-condicionado e o que pode ocorrer no ambulatório é de que a alta demanda comprometa o funcionamento total dos equipamentos, aliado ao forte calor dos últimos dias.
— Já sobre os recursos da prefeitura, recebemos a informação da (Secretaria da) Fazenda do município de que estamos aguardando para receber na terça-feira (20) — afirmou.
O valor aguardado, de acordo com o diretor, gira em torno de R$ 2 milhões.
Prefeitura alega problemas financeiros
Em nota, a prefeitura de Canoas aponta que a aprovação do projeto de teto do ICMS, realizada no primeiro semestre deste ano, trouxe para o município “uma grande queda na arrecadação, sem medidas de compensação aos Estados e municípios”.
A prefeitura ainda apresenta uma estimativa de que a cidade perdeu mais de R$ 70 milhões com a aprovação do teto e que o município é o segundo do Estado que mais teve queda. “A previsão é que, até o final de 2024, Canoas perderá mais de R$ 180 milhões em virtude da medida do governo federal”, aponta a nota.
O poder municipal também cita, em nota, que outro impacto na oferta dos serviços é “a redução dos repasses de insumos e medicamentos por parte das empresas fornecedoras, em função das férias coletivas dos seus trabalhadores” no fim de ano.
Por fim, a prefeitura diz que a situação do hospital será normalizada nos próximos dias.
Veja a nota do Simers na íntegra
"Simers recebe denúncias de falta de insumos e cancelamento de cirurgias no HNSG
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) recebeu denúncias dos médicos que atuam no Hospital Nossa Senhora da Graças (HNSG), em Canoas, sobre a falta de insumos e de condições e trabalho, o que tem resultado no cancelamento das cirurgias eletivas. Os fatos chegaram ao conhecimento da entidade na tarde desta sexta-feira, 16, e será levado à Prefeitura Municipal e à gestão da casa de saúde.
De acordo com o vice-presidente do Simers, Marcelo Matias, por falta e gás carbônico para a realização de cirurgias por vídeo e de clorexidina — antisséptico químico com ação antibacteriana, apenas as cirurgias oncológicas estão ocorrendo. “Enquanto o hospital se propôs, publicamente, em realizar um mutirão de cirurgias, ele não consegue executar as próprias cirurgias de demais áreas”, afirma Marcelo.
Além disso, os médicos apontam que os equipamentos de ar condicionados dos ambulatórios estão há um ano sem funcionar, o que compromete a qualidade no atendimento dos pacientes. “O ar refrigerado em unidade de saúde faz parte do atendimento e vai além do conforto”, destaca o vice-presidente do Simers.
Ele lamenta: “Temos a informação de que o hospital usou um montante significativo de recursos para a parte estética do prédio, enquanto faltam recursos para insumos básicos. Infelizmente, Canoas continua sendo a pior cidade em Saúde, de todo o Estado”."
Nota da prefeitura de Canoas
"A aprovação do Teto do ICMS pelo governo Bolsonaro, em maio deste ano, trouxe pra Canoas uma grande queda na arrecadação, sem medidas de compensação aos estados e municípios. A estimativa é de que a cidade perdeu mais de R$ 70 milhões, sendo o segundo município do Rio Grande do Sul que mais teve queda, conforme estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A previsão é que, até o final de 2024, Canoas perderá mais de R$ 180 milhões em virtude da medida do governo federal.
Os municípios da Região Metropolitana já haviam previsto que o último trimestre de 2022 seria o período mais difícil nas contas públicas diante do impacto da queda de ICMS.
Outro fato que tem impactado a oferta de serviços na maioria dos hospitais no final de ano é a redução dos repasses de insumos e medicamentos por parte das empresas fornecedoras, em função das férias coletivas dos seus trabalhadores.
Por fim, a Fazenda Municipal segue buscando, diariamente, soluções para a queda na arrecadação, contando, inclusive, com os recursos do IPTU de 2023, que foi recentemente lançado, e garante que a situação do HNSG será normalizada nos próximos dias."