Duas potências do mercado de medicamentos trabalham no desenvolvimento de uma vacina contra o câncer de pele baseada na tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) — a mesma utilizada em alguns imunizantes contra a covid-19. Os laboratórios MSD e Moderna conduzem o estudo, que atualmente está na fase chamada de 2b. Trata-se de uma esperança contra a recidiva de melanoma, o mais grave dos tipos de câncer de pele.
A ofensiva combina imunoterapia (quando o sistema imunológico é estimulado para combater o agente agressor), tratamento já bem estabelecido na oncologia e o novo imunizante, personalizado para cada paciente. Destina-se a quem já teve a remoção cirúrgica do melanoma com o objetivo de impedir o retorno do tumor no mesmo local ou em outras partes do corpo.
O estudo clínico passou pela fase 1, que avalia a toxicidade e a segurança, seguiu para a 2, quando se observa se a substância funciona ou não para a doença a que se destina, e chegou até a 2b, em que há comparação entre um número pequeno de voluntários: um grupo recebendo a terapia padrão (pembrolizumabe, com o nome comercial de Keytruda) e o outro com a inovação, que é a combinação entre a imunoterapia e a vacina de mRNA. A próxima etapa, prevista para começar em 2023, prevê o recrutamento de cerca de mil participantes. Há a possibilidade de que parte da seleção ocorra no Brasil.
No total, até aqui, 157 pessoas, de diferentes países, foram acompanhados por cerca de dois anos. A partir da realização de biópsias em amostras individuais, a Moderna analisou as mutações do tumor de cada paciente para formular a vacina sob medida. Injetada em nove doses, fez com que o sistema imunológico “aprendesse” a detectar e enfrentar de forma mais eficiente as células tumorais. A imunoterapia foi aplicada em até 18 ciclos. Essa etapa durou em torno de um ano.
Os resultados preliminares demonstram que houve redução de 44% do risco de recorrência da doença e de morte para aqueles que se submeteram ao tratamento combinado. Márcia Datz Abadi, diretora médica da MSD Brasil, está otimista.
— Estamos falando de pacientes com alto risco de a doença voltar. Na cirurgia, retira-se todo o tumor, mas pode sobrar alguma célula microscópica e o câncer voltar. Foi justamente nessa população que o estudo foi feito, mostrando que a combinação de imunoterapia e vacina é o melhor — afirma Márcia.
Ainda não há previsão sobre quando haverá resultados finais e a eventual disponibilização da vacina no mercado.
— Fizemos um avanço enorme na última década adicionando a imunoterapia a outros tratamentos contra o câncer. Isso nos permitiu mudar a vida de pacientes com melanoma. Precisávamos de um passo a mais. Como aumentar a chance do nosso sistema imunológico de reconhecer e combater esse câncer? Aí que entra esse grande avanço. Temos um estudo muito promissor para ir além da imunoterapia no caminho da sobrevida e até da cura dos pacientes — diz Márcia.