Entre 2020 e 2021, 40.830 crianças e adolescentes perderam mães devido à covid-19 no Brasil. A informação consta em um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância). O artigo com os resultados foi publicado no periódico Archives of Public Health, do periódico científico Springer Nature.
O trabalho foi feito com base nos óbitos por covid-19 registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) em 2020 e 2021 e nos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), entre 2003 e 2020.
A pesquisa mostra que a covid-19 foi responsável por um terço de todas as mortes entre mulheres jovens relacionadas a complicações no parto e no nascimento, o que representa um aumento de 37% nas taxas de mortalidade materna no Brasil, em relação a 2019. Foi apurado que, durante os dois primeiros anos da pandemia, uma mãe morreu no Brasil a cada mil bebês nascidos vivos.
O estudo revela que, em 2020 e 2021, o coronavírus foi responsável por um quinto de todas as mortes registradas no Brasil (19%). O pico da pandemia ocorreu em março de 2021, com quase quatro mil mortes por dia, número superior à média de mortes por dia por todas as causas em 2019.
Os pesquisadores descobriram que a faixa etária de 40 a 59 anos foi a que apresentou a maior proporção de vítimas da covid-19, em comparação à mortalidade por outras causas: nesse grupo, um a cada quatro brasileiros que morreram em 2020 e 2021 por causa da doença.
Os pesquisadores utilizaram dados de óbitos pela doença e a distribuição da população brasileira por nível de escolaridade da Pesquisa Nacional de Saúde para estimar o impacto da escolaridade na mortalidade por covid-19. Os resultados atestam que entre adultos analfabetos a mortalidade na pandemia foi três vezes maior que entre aqueles que concluíram o Ensino Superior.
O Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até cinco anos.
O levantamento foi feito pelos pesquisadores Patricia Boccolini e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (FMP/Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.