Vilson Saueressig, 60 anos, agricultor e músico, protagonizou uma cena peculiar durante a cirurgia a que se submeteu para a retirada de um tumor cerebral realizada no Hospital São José, da Santa Casa, em Porto Alegre, na segunda-feira (14). Enquanto a equipe liderada pelo neurocirurgião Marcelo Schuster realizava o procedimento dentro da cabeça do paciente, Saueressig tocou seu saxofone, ajudando a guiar a conduta dos especialistas.
Operações no cérebro com o paciente acordado são realizadas há muito tempo. O diferencial, neste episódio, foi a atividade executada. Após realizar exames e receber o diagnóstico, Saueressig, de Candelária, no Vale do Rio Pardo, externou o medo de esquecer de como tocar o instrumento predileto e as músicas de que mais gosta.
— Minha paixão maior é o saxofone — contou o agricultor.
A intervenção foi no lado esquerdo do órgão, relacionada, para a maioria dos indivíduos, com a capacidade de falar, interpretar textos e situações, associar figuras — os chamados mecanismos de linguagem. No caso do paciente saxofonista, também é a área responsável pela capacidade de interpretar canções, lembrar de notas musicais e dos movimentos com o instrumento, conseguir ler as partituras.
Schuster explicou, em entrevista ao Timeline da Rádio Gaúcha, que, na cirurgia, foram feitos estímulos elétricos no cérebro para verificar possíveis alterações neurológicas.
— Conseguimos identificar as regiões onde se pode mexer e onde não dá para mexer — relatou o neurocirurgião.
Nem todo paciente e quadro clínico são elegíveis para esse tipo de procedimento, segundo Schuster. Informações detalhadas são passadas previamente. Saueressig se manteve tranquilo e se comportou muito bem.
Quanto à dor, o médico explica que o tecido cerebral não tem terminações nervosas.
— Um órgão tão complexo, que comanda quase tudo no corpo, mas que não sente dor. Doem a pele, o osso, a meninge (membrana que recobre o cérebro), os vasos. Fazemos uma anestesia local especial — descreve Schuster.
Nesta terça-feira (15), o paciente, internado na unidade de terapia intensiva (UTI), encontrava-se em estado estável.