Às vésperas do início da vacinação contra a covid-19 para uma nova faixa etária, médicos renovam o apelo a mães, pais e responsáveis para que levem as crianças aos postos de saúde, conforme os calendários das cidades.
O grupo de seis meses a três anos incompletos receberá uma nova versão de imunizante pediátrico da Pfizer (outra apresentação já está liberado para crianças a partir de cinco anos) em três aplicações. O Rio Grande do Sul recebeu o primeiro lote de vacinas, com 48 mil doses, na sexta-feira (11). Porto Alegre prevê começar a oferta à população após o feriadão da Proclamação da República. Terão prioridade as crianças com comorbidades (veja lista ao final desta reportagem).
Pediatra e chefe da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Guilherme Guaragna Filho ressalta a segurança das vacinas contra a covid-19, desenvolvidas a partir de uma sólida base de testes e acompanhamento. Entidades americanas de referência para o mundo todo, como o FDA, que regula medicamentos, e o CDC, agência de saúde, monitoram de perto a imunização dessa parcela da população, a mais recente a ser contemplada.
— A vacina é segura, é muito bem estudada. Passa pelo mesmo protocolo de qualquer remédio. Sou superfavorável à vacina. Foram poucas as reações adversas. Nenhum caso de miocardite (doença inflamatória no coração). Isso está documentado — comenta Guaragna Filho.
Quando ocorrem, as reações mais comuns são dor no local da injeção ao longo das primeiras 24 horas, diminuição do apetite, sonolência, choro e febre. Em um universo de oito mil crianças avaliadas para efeitos adversos, um levantamento apontou oito ocorrências de crise convulsiva — dessas, duas tinham alterações cerebrais prévias.
No Brasil, antes de aprovar o imunizante, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) consultou especialistas externos, representantes de importantes sociedades médicas do país: Infectologia, Pediatria, Imunologia e Imunizações.
— É uma vacina superbem avaliada — garante Guaragna Filho.
O pediatra destaca que, nesta segunda-feira (14), não havia nenhum paciente internado com covid-19 na ala pediátrica do HCPA, mas relembrou episódios anteriores:
— Tínhamos pacientes com covid e mais alguma coisa. Às vezes, era uma “festa” de vírus. Se essas crianças tivessem se vacinado para a covid, talvez nem tivessem sido internadas.
Clécio Homrich da Silva, pediatra do HCPA e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que vacinas são aplicadas desde muito cedo nos bebês pelo fato de o sistema imunológico (defesas do organismo) ainda estar imaturo, em desenvolvimento.
— Algumas vacinas preveem reforços para se ter uma proteção para a vida inteira ou por um longo período de tempo. Os dois primeiros anos são os de maior vulnerabilidade, particularmente para as que têm comorbidades. Prematuros têm vulnerabilidade maior para uma série de doenças. Quanto mais prematuro e quanto menor o peso de nascimento, maior a vulnerabilidade — afirma Homrich.
O professor reforça a importância da imunização contra a doença provocada pelo coronavírus:
— Vacinem seus filhos. Recomendamos a vacina para todas as crianças e, especialmente, para o grupo das comorbidades.
Comorbidades a serem consideradas para vacinação contra a covid-19 de crianças de seis meses a três anos incompletos:
- Diabetes
- Pneumopatias crônicas graves
- Hipertensão arterial resistente
- Hipertensão arterial estágio 3
- Hipertensão arterial estágios 1 e 2 com lesão em órgão-alvo
- Insuficiência cardíaca
- Cor-pulmonale e hipertensão pulmonar
- Cardiopatia hipertensiva
- Síndromes coronarianas
- Valvopatias
- Miocardiopatias e pericardiopatias
- Doenças da aorta, dos grandes vasos e fístulas arteriovenosas
- Arritmias cardíacas
- Cardiopatias congênitas
- Próteses valvares e dispositivos cardíacos implantados
- Doenças neurológicas crônicas
- Doença renal crônica
- Imunocomprometidos
- Hemoglobinopatias graves
- Obesidade mórbida
- Síndrome de Down
- Cirrose hepática