Faltando 15 dias para o encerramento da campanha de vacinação contra a poliomielite no Estado, cidades gaúchas buscam alternativas para incentivar a imunização e driblar a baixa adesão. Nesta sexta-feira (7), dados do Ministério da Saúde mostram que o Rio Grande do Sul tem 68,51% de cobertura vacinal. A meta é conseguir chegar a 95% das 553.814 crianças do público-alvo.
Uma das estratégias adotadas em algumas cidades é a vacinação em escolas, proposta pela Secretaria Estadual da Saúde para melhorar os índices de coberturas do calendário vacinal. Em Gravataí, a gestão municipal estima um crescimento de mais de 20% na imunização da pólio após essas iniciativas. O mesmo cenário aconteceu em Santa Maria, onde foi constatado um aumento de 2.951 doses aplicadas em 13 dias, chegando a uma média de 220 doses diárias, após as divulgações e ampliações de ações em escolas, comunidades e eventos.
Outras cidades gaúchas também estão apostando na busca ativa. Em Viamão, foi registrada uma elevação de 18% na imunização contra pólio com esse tipo de medida, segundo a prefeitura. Já em Novo Hamburgo, a procura nas casas, somada à imunização nas escolas e à abertura de unidades de saúde aos sábados resultaram em mais 1,3 mil crianças vacinadas na cidade, aumentando o percentual de imunização de 39,74% em 20 de setembro para 54,3%, nesta sexta-feira.
Autorização dos pais ainda é um desafio
Com relação às escolas, prefeituras das cidades de maior população no Estado admitem que a ação ainda esbarra em dificuldades, como a falta de autorização dos pais ou responsáveis para que as doses sejam aplicadas. A reportagem de GZH já havia constatado esse problema no primeiro dia de imunização em escolas, realizado em Porto Alegre, no dia 31 de agosto. Na ocasião, apenas 15 crianças puderam ser imunizadas no Instituto Infantil Pé de Moleque, no bairro Farrapos, porque vários pequenos não estavam com a permissão dos pais registrada.
Apesar desse obstáculo, a Secretaria Municipal de Saúde estima que cerca de 10% do público vacinado contra a pólio na Capital veio por meio dessas ações. Até esta sexta-feira, Porto Alegre havia atingido apenas 40% da cobertura vacinal para a doença (veja abaixo o percentual de outras cidades).
— É uma opção muito válida, mas os pais têm que autorizar. A escola pode cobrar que as crianças estejam com a vacinação em dia para fazer a rematrícula. Muitas doenças são transmitidas nas escolas, porque as crianças convivem muito, então se todos estão protegidos é válido para todos. Pode-se fazer também palestras para os pais estimulando a importância de todos estarem vacinados — defende a infectopediatra do departamento de imunização da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Euzanete Maria Coser.
A especialista explica que quanto mais alunos estiverem vacinados, menos doenças circularão em uma instituição. De acordo com a médica, se apenas metade de uma turma está imunizada, por exemplo, a outra parte pode passar a doença mesmo para os vacinados por haver uma pressão seletiva muito grande, significando que não há anticorpos suficientes para impedir uma contaminação.
Para Coser, a disseminação de notícias falsas, a pandemia e a sensação de que algumas doenças não existem mais são fatores que podem explicar a baixa cobertura de imunização, como está ocorrendo com a pólio.
— As sequelas da poliomielite são voltar a ter criança andando de cadeira de rodas e muleta, além da alta taxa de óbito. É vacinar para não voltar, porque se retornar vai ser difícil de eliminar de novo — alerta a médica.
A última vez que um caso de pólio foi registrado no Brasil foi em 1989. Cinco anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que o país eliminou o vírus da paralisia infantil (como a pólio também é chamada) em todo território nacional. No entanto, desde 2016, a cobertura vacinal começou a cair. Com isso, a Organização Panamericana de Saúde (Opas), vinculada à OMS, incluiu o Brasil na lista de países onde há risco da volta da infecção. A Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa) investiga um caso suspeito de poliomielite em uma criança de três anos.
Confira as estratégias nas 10 cidades com maior população no Estado
Porto Alegre
Na Capital, 250 escolas estão na programação para realizar vacinação contra pólio e outras doenças. A ação ocorre desde 31 de agosto, em parceria com equipes das unidades de saúde. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, aos menos 2.172 crianças foram imunizadas contra poliomielite nas instituições de ensino.
A pasta estima que cerca de 10% do público vacinado contra a pólio veio dessas ações. O público-alvo da poliomielite é de 66.300 na Capital. Até esta sexta-feira (7), apenas 40% da meta havia sido atingida.
Algumas dificuldades ainda precisam ser superadas nas escolas. De acordo com a prefeitura, muitos pais não enviam a autorização por escrito ou não estão presentes no momento da vacinação, o que impede a imunização dos pequenos.
As escolas de Porto Alegre seguirão com iniciativas para a dose extra contra pólio até 22 de outubro, quando termina a campanha no Estado. Depois disso, permanecerão realizando as ações para verificação da carteira vacinal por tempo indeterminado através do Programa Saúde na Escola.
Caxias do Sul
Caxias do Sul iniciou vacinação contra covid-19 em escolas ainda em outubro de 2021. De acordo com a prefeitura, foi realizado um trabalho junto às direções, para que os pais encaminhassem autorização por escrito. A gestão salienta, no entanto, que a adesão foi muito baixa devido ao pequeno número de autorizações enviadas. Nas ações de 2022, foram aplicadas apenas 54 doses.
Em relação à poliomielite, todas as unidades básicas de saúde estão realizando a conferência de cadernetas de vacinas diretamente nas escolas de seus territórios. Os profissionais conferem se há alguma dose em atraso e orientam os pais para que levem os filhos a uma unidade básica de saúde.
Também há aplicação de doses contra a poliomielite em escolas de educação infantil, mediante autorização, o que gera pouca adesão, segundo a prefeitura. Até o momento, somente 262 doses foram aplicadas em escolinhas. Em toda a cidade, a cobertura está em 58,91%.
As ações continuam sendo realizadas nas unidades de saúde até 22 de outubro.
Canoas
A aplicação de vacina contra a pólio ocorreu em 39 escolas de educação infantil, imunizando apenas 180 crianças. Em todo município, foram vacinadas até esta sexta-feira (7), 7.604 crianças com idades entre um e quatro anos, chegando a 40% desta população.
Segundo a prefeitura, pais relataram que aproveitaram o horário de deixar a criança no local e se vacinaram, sem precisar faltar ou se atrasar para o trabalho. Na avaliação da gestão municipal, a baixa adesão está relacionada a pouca preocupação das famílias, que “não presenciaram situações epidemiológicas de doenças infectocontagiosas graves, como a poliomielite, devido à erradicação e/ou a diminuição significativa de casos graves”.
A vacinação segue, sem prazo de conclusão, por enquanto. O município afirma estar focado em buscas ativas em áreas mais vulneráveis e de difícil acesso.
Pelotas
A cidade tem investido em ações de incentivo à vacinação infantil e cita como um dos exemplos o deslocamento do Trailer da Vacina, que vai para a frente das escolas das redes de ensino estadual e municipal. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a unidade itinerante disponibiliza diariamente os imunizantes, tanto para covid-19, quanto para poliomielite. Além disso, entre agosto e setembro, equipes realizaram o processo de imunização em diversas escolas do município para ampliar a cobertura vacinal infantil.
De acordo com a diretora da Vigilância em Saúde, Aline Machado, as ações itinerantes têm apresentado “resultados exitosos, demonstrando uma maior cobertura vacinal na faixa etária infantil”. A gestora explica ainda que as iniciativas atuam como um ponto extra do serviço de imunização, que pode ser buscado nas unidades básicas de saúde.
A prefeitura pretende manter o serviço itinerante no município. As ações de vacinação contra a poliomielite seguem até o dia 22 deste mês, e a vacina está disponível para as crianças em mais de 50 locais espalhados pela cidade e também nas bancas 16 e 17 do Mercado Central.
Até esta sexta-feira (7), Pelotas tinha atingido 44,54% da cobertura vacinal contra a pólio.
Santa Maria
O município da Região Central fez um mutirão de imunização da poliomielite em todas as escolas na última quarta-feira (5), com mais de 300 aplicações. Agora, a vacinação segue nos bairros e unidades de saúde. A campanha iniciou em 8 de agosto e até esta sexta-feira, 8.457 crianças foram imunizadas, o corresponde a 63,72% do público-alvo, conforme dados dos Ministério da Saúde.
Como forma de comparação, a prefeitura afirma que até o dia 23 de setembro havia cerca de 4.870 crianças vacinadas, ou seja, em 45 dias de campanha, a média era de 108 doses aplicada por dia. Após intensificar as divulgações e ampliar as ações em escolas, comunidades, e eventos, a gestão constatou que um aumento de 2.951 doses aplicadas em 13 dias, chegando a uma média de 220 doses diárias.
Com relação à covid-19, foram mais de quatro mil doses aplicadas desde junho nas instituições escolares, incluindo as populações de crianças, adolescentes e adultos da comunidade. Conforme a prefeitura, no caso das crianças, o maior aumento foi na segunda dose, com mais de 2,5 mil imunizados.
Gravataí
Conforme a prefeitura, houve aumento da cobertura vacinal da pólio com ajuda das escolas. Antes das ações, o percentual atingido era de 27,27%. Nesta sexta-feira, a cobertura está em 49,5%.
Nas 30 instituições que fazem parte do Programa Saúde na Escola, está sendo feita a avaliação da carteira vacinal, com notificação aos pais, caso haja alguma vacina em atraso. A vacinação também ocorre em escolas municipais e privadas, onde as unidades de saúde se organizam para se deslocar até as instituições de ensino.
O município planeja seguir realizando as mobilizações até o último dia da campanha, em 22 de outubro.
Viamão
A cidade implantou a vacinação contra covid-19 nas escolas em 19 de janeiro e continuou aplicando as doses até meados de junho, conseguindo ampla cobertura vacinal. A cidade mantém uma unidade móvel durante todo o ano letivo que, diariamente, está em uma das 66 escolas levando todas as vacinas da caderneta. Segundo a prefeitura, 89% das crianças de cinco a 11 anos tomaram a primeira dose e 79% a segunda.
Para a pólio, a estratégia está sendo a busca ativa porta a porta até 20 de outubro. A prefeitura afirma que, em 10 dias de ação, houve elevação de 18% na cobertura. Conforme dados do Ministério da Saúde, o município imunizou 53,6% do público-alvo.
Novo Hamburgo
A cidade do Vale do Sinos ofereceu a vacinação contra pólio em escolas de educação infantil pública e privadas durante a campanha nacional. Foram cerca de 700 crianças vacinas na rede pública, além de 227 na rede privada. Em razão do baixo estoque, Novo Hamburgo não conseguiu oferecer a vacina contra a covid-19 para crianças nas escolas.
Desde setembro, o município intensificou a campanha de vacinação com busca ativa de crianças em suas casas, imunização nas escolas e abertura de unidades de saúde aos sábados. Estas ações resultaram em mais 1,3 mil crianças vacinadas na cidade, aumentando o percentual de imunização de 39,74% em 20 de setembro para 54,3%, nesta sexta-feira. Atualmente, Novo Hamburgo tem 6.545 crianças vacinadas contra a paralisia infantil. A meta é imunizar 12.053. O maior problema verificado, segundo o Executivo, foi a baixa procura por parte de pais e responsáveis pela imunização das crianças.
Durante a semana, todas as unidades de saúde, além da Casa da Vacina, estão aptas a oferecer a vacina. Neste sábado (8), haverá vacinação durante a ação na Praça Punta Del Este, a partir das 10h. Ainda dentro da programação do mês, no dia 15, todas as unidades de saúde estarão abertas para vacinação contra a poliomielite.
São Leopoldo
A unidade móvel de vacinação visita diariamente uma escola de educação infantil no horário de saída dos estudantes, no final da tarde. Assim, 12 escolas de ensino infantil foram contempladas e todas as crianças do bairro podem receber os imunizantes. A ação vai até o dia 19 de outubro.
De acordo com a prefeitura, em dois dias, foram aplicadas 50 doses de covid-19, 33 de poliomielite e 20 doses das demais vacinas de rotina. O número é considerado bom pela Secretaria Municipal da Saúde por se tratar de uma ação extra. No entanto, as iniciativas serão intensificadas em toda a cidade. Até esta sexta-feira, São Leopoldo havia vacinado 38,8% do público-alvo de 12.566 crianças contra a pólio.
No dia 15 de outubro haverá um novo dia D com abertura das unidades básicas de saúde no sábado. Nos demais finais de semana seguem ocorrendo a blitz de vacinação em supermercados e eventos, que registram grande procura, segundo a gestão municipal. Além disso, agentes de saúde foram instruídos a reforçar a busca ativa nas unidades básicas com estratégia de saúde da família nos bairros.
Rio Grande
A cidade vacina contra poliomielite em escolas públicas e privadas desde o dia 19 de setembro. De acordo com a dirigente do Núcleo de Imunizações de Rio Grande, Valéria Risso, cerca de 400 crianças foram vacinadas nessa ação. Equipes aproveitam para avaliar a carteira de vacinação e enviam orientação aos responsáveis sobre doses em atraso. A prefeitura diz que há um discreto, porém crescente movimento de busca aos postos de saúde após a visita dos profissionais.
Segundo Risso, a grande dificuldade do processo está nos pais ou responsáveis enviarem a caderneta de vacinação para análise da equipe e anotação da vacinação aplicada.
— A logística não é simples, pois os profissionais ao se deslocarem para as escolas, deixam a unidade de saúde com menor número de profissionais, o que pode interferir na dinâmica das atividades em andamento.
Rio Grande imunizou 49,6% das 10.694 crianças estimadas como público-alvo da vacina da pólio. O município pretende seguir com as visitas até alcançar todas as escolas ou terminar o prazo da campanha contra a poliomielite. A prefeitura ainda avalia dar continuidade à vacinação nas escolas, para doses contra covid-19 e do calendário vacinal de crianças e adolescentes.
A gestão está fazendo parcerias com os representantes da educação no município para divulgação da necessidade de se manter as vacinas atualizadas e atua em eventos nas escolas para disponibilizar todas as vacinas do calendário e de covid-19 para a comunidade.