As crianças do Instituto Infantil Pé de Moleque, em Porto Alegre, notaram algo diferente na escola na manhã desta quarta-feira (31). Como estratégia para ampliar a imunização, equipes de unidades de saúde estão se deslocando para os colégios para aplicar doses atrasadas previstas no calendário vacinal. O governo do Estado do Rio Grande do Sul anunciou a medida na semana passada.
Nesta manhã, os alunos da Pé de Moleque receberam as gotinhas da vacina da pólio, que começa a ser aplicada já nos primeiros meses de vida e tem reforço anual para a faixa etária de um ano a cinco anos incompletos. Até 10h, 15 pequenos já haviam tomado as gotinhas.
Com laço no cabelo e sorridente, uma menina de quatro anos se posiciona e abre o “bocão” para uma das técnicas de enfermagem.
— Tem gosto de remédio! — comenta logo após tomar a dose.
A escola, que é conveniada com a prefeitura, se antecipou e pediu autorização dos pais previamente.
— Temos um grupo com os pais e pedimos que enviassem as carteiras de vacinação — explica o diretor, Airton Merel.
A poliomielite é uma da doença que atinge as articulações e pode até causar a morte, por isso a importância de receber as gotinhas.
— Os pais não estão levando aos postos de saúde, por isso iniciamos essa busca ativa para chegar até as escolas — enfatiza a técnica de enfermagem Kely Lichtel, que trabalha na Unidade de Saúde Mário Quintana.
Ao lado das colegas da Unidade Fradique Vizeu, Kely animava os pequenos com óculos coloridos e tiaras temáticas. Ao final de cada dose aplicada, a equipe aplaudia e elogiava a coragem dos pequenos.
Campanha segue em outras cidades
A campanha oficial foi lançada pelo governo do Estado nesta quarta-feira (31), motivada pelos baixos índices de vacinação deste público. A iniciativa dá liberdade para que cada município defina locais e datas para a aplicação das doses nas suas instituições de ensino. Com isso, enquanto algumas cidades ainda realizam um planejamento para a vacinação escolar, sem data prevista para iniciar, outros já estão com a campanha de vacinação em escolas ocorrendo desde janeiro.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), todas escolas — de Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio — públicas ou particulares, estão convidadas a participar. Além disso, todos os alunos poderão se vacinar, independentemente da instituição que estejam matriculados. Segundo a secretária adjunta da Saúde do RS, Ana Costa, trata-se de um trabalho conjunto.
— O objetivo, hoje, é que todos os municípios desenhem estratégias junto às escolas para garantir a cobertura vacinal, tanto da covid quanto da pólio, no caso das escolas onde há crianças menores de cinco anos — afirmou, em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.
Conforme a secretária, estas duas vacinas são os principais alvos da campanha neste momento. Porém, cada município tem liberdade para ampliar os imunizantes ofertados, de acordo com a disponibilidade e da manutenção da qualidade das doses, já que cada vacina pode demandar diferentes armazenagens, por exemplo.
— Vacina é proteção, é alegria. Proteger nossos filhos antigamente já era importante. Com a globalização, uma doença que aparece nos Estados Unidos hoje, em algumas horas pode estar no Brasil, não há mais dificuldade de circulação. A gente precisa correr pra vacinar — disse Ana.
Importância da vacina
Conforme o calendário básico de vacinação, até os sete anos de idade são 14 vacinas previstas pelo Programa Nacional de Imunizações e nove, a partir dos sete anos. Existem ainda outras vacinas de campanhas, como a da covid-19 e da gripe (influenza).
A redução de vacinação aumenta os riscos para doenças imunopreveníveis, como coqueluche, poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, varicela, meningite, gastroenterite por rotavírus, hepatites A e B, entre outras. Na vacinação da covid-19, há 156 mil crianças dos 5 aos 11 anos com a segunda dose em atraso e outras 52 mil, dos 12 aos 14 anos.
A campanha nacional de vacinação contra a poliomielite segue até 9 de setembro para crianças menores de cinco anos, assim como a multivacinação para atualização da caderneta de vacinação de crianças e adolescentes menores de 15 anos.
De acordo com a SES, nos últimos anos nenhuma das seis vacinas previstas até o primeiro ano de idade alcançou a meta de vacinação de pelo menos 95% do público da idade preconizada. Na primeiro ano de pandemia, em 2020, nenhuma ficou acima dos 90%.
Os dados de 2021 ainda são parciais, pois essas vacinas de rotina têm um prazo de até 12 meses para o município registrar as aplicações no sistema do Programa Nacional de Imunizações, no entanto, informações do Estado já indicam que também ficarão abaixo do esperado.