A endometriose é uma doença benigna, relacionada com a menstruação, em que o corpo da mulher passa por um processo inflamatório sistêmico. Ela acontece quando o endométrio — camada uterina interna que descama durante o ciclo menstrual — começa a crescer fora do útero. Essa alteração pode causar sintomas como fortes dores abdominais, cólicas e problemas relacionados com a infertilidade feminina.
Além disso, a endometriose é uma patologia hormônio-dependente, o que significa que os sintomas se manifestam geralmente depois que as mulheres começam a menstruar. Ainda na adolescência é possível perceber sinais da doença, como cólicas intensas. Por ser crônica, não há cura, apenas tratamento.
Existem três tipos de endometriose. O primeiro é o superficial, que acomete o peritônio, uma membrana presente na cavidade abdominal e que envolve os órgãos internos, como estômago, intestinos, fígado e baço. Existe ainda a endometriose ovariana, onde a doença se manifesta por cistos no ovário, conhecidos como endometriomas. Por fim, a endometriose profunda, que como o nome sugere, as lesões, por conta da inflamação, são mais acentuadas, superando a marca de cinco milímetros de infiltração no peritônio e pode acometer órgãos como bexiga e intestino, por exemplo — geralmente, é um agravamento da forma superficial.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a estimativa é de que uma em cada 10 mulheres tenha endometriose no Brasil. Só em 2021, mais de 26,4 mil atendimentos foram feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 8 mil internações foram registradas na rede pública de saúde em razão da doença.
Causas da endometriose
Os estudos ainda não conseguiram definir qual é a causa da doença. Entretanto, já existem alguns fatores de predisposição identificados, como explica a médica ginecologista do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Raquel Dibi.
— Já existem comprovações de que tem causa genética, mas não isoladamente. Causas relacionadas ao meio ambiente, como lugares muito industrializados, podem interferir. Ou então disfunções imunológicas características de cada paciente, que são outro fator ainda pouco esclarecido, mas que podem propiciar o aparecimento da doença — detalha a ginecologista.
Sintomas
O principal sintoma de alerta para a endometriose é a cólica menstrual, principalmente se ela piorar com o passar do tempo. Ou seja, a cada ciclo menstrual a paciente sente que a dor abdominal aumenta. Além disso, as mulheres podem ter outros sintomas associados, como por exemplo, dificuldade para engravidar, dor para evacuar e/ou urinar e dor durante as relações sexuais.
Diagnóstico
De acordo com Raquel, não só no Brasil, mas no mundo, a descoberta da doença ainda acontece de forma tardia, com um atraso de sete a 10 anos. Um dos motivos apontados pela médica é a dificuldade da população de entender a cólica como um problema e não como "algo normal".
— Existe algo cultural em achar que dor é normal. Cada vez nós estamos evoluindo mais, e entendo a importância de escutar a queixa das pacientes. Se a dor é incômoda, tem que buscar atendimento — destaca a médica.
Para solucionar este atraso, a ginecologista salienta que a informação é a melhor aposta.
— No momento que a gente conversa sobre a doença, que a gente leva informação e que se incentiva a busca por uma consulta médica, de preferência especializada, nós contribuímos para o diagnóstico mais precoce — explica.
Tratamento
Apesar de não ter cura, a ginecologista afirma que é possível controlar o avanço da endometriose e deixar a doença em estágio de remissão, o que proporciona mais qualidade de vida para a mulher. Segundo Raquel, existem dois tipos de tratamento para a endometriose, definidos a partir do que a paciente precisa tratar, se a dor ou a infertilidade.
No combate à dor, explica a ginecologista, o indicado é bloquear a menstruação e iniciar atividades como fisioterapia pélvica e acupuntura. Também é importante ter uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios como gengibre, brócolis, alho, frutas vermelhas e azeite de oliva. Em casos mais graves, é possível que uma cirurgia minimamente invasiva seja feita para a retirada dos focos de dor causados pelos tecidos que crescem fora do útero. Não são retirados nem o útero nem os ovários para tratar especificamente a endometriose.
Quando o objetivo da paciente é tratar a infertilidade, as únicas alternativas são o procedimento cirúrgico ou a reprodução assistida. O tratamento hormonal não é indicado nestes casos, pois impossibilita a chance de gestar.
— É importante destacar que ter endometriose não significa que a mulher não poderá ter filhos. Nem todas as mulheres diagnosticadas têm dificuldades para engravidar — destaca Raquel.
Produção: Rochane Carvalho