Desde o início do mês, luzes cor-de-rosa enfeitam diferentes prédios e locais públicos de Porto Alegre à noite. O objetivo da iluminação especial é chamar a atenção para o Outubro Rosa, movimento internacional de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama. Essa neoplasia é a mais comum no Brasil, depois do tumor de pele não melanoma, e a de maior mortalidade em mulheres. A estimativa do país é de 66.280 novos casos somente neste ano, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Celebrado com o objetivo de compartilhar informações sobre o câncer de mama e contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença, o Outubro Rosa foi criado no início da década de 1990. Segundo o Inca, o movimento surgiu quando o símbolo da prevenção à neoplasia, um laço cor-de-rosa, foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, nos Estados Unidos — que, desde então, é promovida anualmente.
Neste ano, além da divulgação de dados, o objetivo da campanha é fortalecer as recomendações do Ministério da Saúde para prevenção, diagnóstico precoce e rastreamento da doença. Entre os locais da Capital que aderiram à iluminação rosa estão: a sede do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o Palácio Piratini, o prédio da Assembleia Legislativa gaúcha, a fonte Talavera de La Reina, em frente ao Paço Municipal, o prédio da Defensoria Pública e o Palácio da Polícia.
Sobre a doença
Ainda de acordo com o Inca, esea doença é causada pela “multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos”. Há diferentes tipos de câncer de mama, sendo alguns com desenvolvimento rápido, outros não.
Na maioria dos casos, quando tratados de forma adequada, apresentam bom prognóstico. Entretanto, trata-se de uma doença agressiva, que pode levar a óbito se não for tratada, ressalta o chefe do Serviço de Mama do Hospital Nossa Senhora da Conceição e diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia, José Luiz Pedrini. Cerca de 17 mil pessoas morrem devido ao câncer de mama por ano no Brasil.
Esta neoplasia também atinge os homens, apesar de ser um quadro raro, representando somente 1% do total de casos da doença.
Incidência maior no Sul e Sudeste
Pedrini destaca que o câncer de mama é o tipo mais incidente no mundo, com 2,3 bilhões de novos casos por ano. Já no território brasileiro, entre os mais de 66 mil diagnósticos anuais, dados do Inca apontam que as taxas mais altas são nas regiões Sul e Sudeste. Na estimativa de 2022, o Rio Grande do Sul aparece em quarto lugar, com 4.050 casos, ficando atrás de Minas Gerais (8.250), Rio de Janeiro (9.150) e São Paulo (18.280).
— Uma das explicações é a longevidade (a doença é considerada rara em mulheres jovens, tendo incidência maior a partir dos 50 anos). A outra, sem dúvida nenhuma, é o tipo racial. Essa raça caucasiana, que é formada de italianos, alemães e portugueses, tem uma incidência maior. Isso é uma coisa que está no gene — explica o pesquisador.
Entre os principais sinais e sintomas do câncer de mama, estão: caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor, pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja, alterações no mamilo e saída espontânea de líquido dos mamilos. Nódulos pequenos também podem aparecer no pescoço ou nas axilas.
Fatores de risco e prevenção
A doença não está relacionada a uma causa única, mas sim a diversos fatores, como envelhecimento, determinantes relacionados à vida reprodutiva da mulher (não ter tido filho, primeira gravidez após 30 anos, menopausa após 55 anos, uso de contraceptivos orais por tempo prolongado), histórico familiar de câncer de mama, excesso de peso, atividade física insuficiente e exposição frequente à radiação ionizante (raios X, mamografia e tomografia). Por isso, existem dois tipos de prevenção, conforme Pedrini: a primária e a secundária.
— Uma alimentação baseada na dieta mediterrânea, com frutas, verduras e, principalmente, grãos, junto a duas colheres de azeite de oliva, podem reduzir até 20% dos casos de câncer de mama. É bem importante. Então, se aconselha como prevenção primária essa dieta, exercício físico, redução do estresse e respeito ao ciclo circadiano (dormir à noite e ficar acordado durante o dia) — indica o especialista.
A detecção precoce é chamada de prevenção secundária, afirma Pedrini, e se refere à tentativa de detectar o câncer no menor tamanho possível. Segundo o pesquisador, a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que a mamografia seja feita anualmente dos 40 aos 70 anos. A indicação do Ministério da Saúde é que, quando não há sinais ou sintomas suspeitos, o exame seja ofertado para mulheres entre 50 e 69 anos a cada dois anos. Já a ecografia e a ressonância das mamas devem ser feitas quando indicadas pelos médicos.
Mulheres com histórico familiar de câncer de mama, contudo, devem começar a fazer a mamografia 10 anos antes da idade com a qual seu familiar descobriu a doença. Por exemplo, se a mãe foi diagnosticada com a neoplasia aos 40 anos, a filha deve começar o exame aos 30. Entre os benefícios de detectar a doença em fases inicias, está o aumento da possibilidade de tratamento menos agressivo e com taxas de sucesso mais satisfatórias.
Tratamento
De acordo com o Inca, nas últimas décadas, foram registrados muitos avanços no tratamento do câncer de mama. Hoje, existem diversas práticas terapêuticas disponíveis, mas a indicação depende da fase em que a doença se encontra e do tipo de tumor, podendo incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.
Quando a paciente é diagnosticada no início da doença, há maior potencial de cura. Porém, se já houver metástases — quando o câncer se espalha para outros órgãos —, o tratamento tem como objetivo prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida da mulher.
Além dos 60 dias entre o diagnóstico e o início do tratamento, Pedrini cita uma informação importante para as mulheres que precisam tratar um câncer de mama: a reconstrução imediata das mamas, que é um direito de todas as pacientes que tem que retirá-las como parte do tratamento.