A partir dos relatos de mulheres que sofrem com a endometriose, a professora de bioinformática Noemie Elhadad, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, colocou a tecnologia a serviço da saúde e criou um aplicativo que auxilia na coleta de dados e identificação dos sintomas.
A endometriose provoca a presença de células do endométrio — tecido interno do útero que sai na menstruação — em outros lugares e órgãos do corpo, como a bexiga. Os sintomas são de difícil identificação, mas, geralmente, são fortes cólicas, alteração no funcionamento do intestino durante a menstruação e dores na relação sexual. Noemie — que também sofre com a doença — descobriu que seus sintomas não se alinhavam com o que é atualmente representado na pesquisa sobre a patologia ou até mesmo reconhecido por alguns profissionais da área médica.
Por isso, por meio de uma doação de U$ 50 mil da Endometriosis Foundation of America (EFA), a professora desenvolveu o aplicativo Phendo, que está disponível nos sistemas iOS e Android. Ao realizarem o download da plataforma e aceitarem participar do estudo, as pacientes fornecem, por meio de relatos, uma série de informações, desde o histórico médico, tratamentos feitos, medicamentos utilizados até os sintomas e o nível de dor no período menstrual. Atualmente, o aplicativo conta com mais de 6 mil participantes, está presente em 65 países e identificou diferentes características da doença.
Podem participar do estudo adolescentes de qualquer parte do mundo, com idade acima de 13 anos — desde que com a autorização dos responsáveis — e adultos que tiveram pelo menos um período menstrual. É preciso que elas tenham apresentado sintomas de endometriose nos últimos três meses. Também são aceitas aquelas que já menstruaram, mas não tenham experimentado sintomas no último trimestre. O aplicativo é apenas em inglês.
Um levantamento, de 2018, feito pelo Grupo de Apoio às Portadoras de Endometriose e Infertilidade (Gapendi) evidenciou a dificuldade de diagnóstico da enfermidade. Das 3 mil brasileiras com a enfermidade ouvidas pelos pesquisadores 57,3% delas afirmaram que consultaram mais de três médicos para chegar ao diagnóstico final e 38% disseram que levaram entre cinco a oito anos para saber o motivo das dores. E, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), 7 milhões de mulheres são afetadas pela mazela somente no Brasil.