O programa Gaúcha + da Rádio Gaúcha desta quarta-feira (19) discutiu, durante o quadro Mais Vozes, as estratégias dos municípios gaúchos para avançar na imunização das crianças contra a poliomielite. No Rio Grande do Sul, 403,4 mil doses foram aplicadas em crianças de um a quatro anos, o que equivale a 72,8% do público-alvo segundo dados consultados na terça-feira (18) no site do Ministério de Saúde.
Faltando poucos dias para o final da campanha de vacinação contra a pólio no RS, que tem previsão de acabar nesta sexta-feira (22), algumas cidades do Estado ainda estão longe de alcançar a meta de 95% de cobertura vacinal. Porto Alegre, com 44,8% do público-alvo vacinado, é um exemplo. Por outro lado, Bento Gonçalves, na serra gaúcha, que já passou dos 100%.
No Estado, a campanha já foi prorrogada duas vezes como estratégia de ampliar o grupo de crianças imunizadas. Outras alternativas são discutidas para alcançar a meta. Para falar sobre isso, participaram do programa a diretora de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Caroline Schirmer, o secretário da Saúde de Canoas, Aristeu Ismailow, a diretora da Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Pelotas, Aline Machado e a secretária de Saúde de Bento Gonçalves, Tatiane Misturini Fiorio.
A diretora de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS), Caroline Schirmer, chama a atenção para o baixo número de pequenos vacinados contra a pólio na Capital. Segundo ela, a SMS tem realizado ações como aumentar o horário de funcionamento de 16 unidades de saúde, que recebem o público até 22h.
— Temos em Porto Alegre aproximadamente 30 mil crianças que tomaram a dose extra da vacina da poliomielite. Isso nos causa preocupação pois, na verdade, deveriam haver 66 mil crianças que têm essa faixa etária.
A Secretaria de Saúde de Canoas, município da Região Metropolitana, também promove ações para aumentar a cobertura vacinal, como ampliação do horário de funcionamento das unidades de saúde e vacinações nos shoppings da cidade. A população na faixa etária de um a quatro anos é de aproximadamente 18,9 mil crianças, segundo o secretário de Saúde de Canoas, Aristeu Ismailow. A cobertura vacinal atual é de 8,4 mil crianças vacinadas, menos de 45%.
— A secretaria está promovendo ações desde o mês de junho. Seguiremos sempre tentando a maior cobertura possível, mas é imprescindível que os pais e responsáveis estejam engajados juntos conosco para que, em conjunto, nós possamos manter essa doença longe das nossas crianças — ressalta Ismailow.
Pelotas, na Região Sul, também apresenta baixa cobertura vacinal, com 46,1% das 15,7 mil crianças imunizadas. As unidades básicas de saúde (UBS) da cidade têm feito busca ativa para tentar entender e melhorar as taxas.
— Um dos motivos que a gente considera importante para a hesitação de se levar as crianças para vacinar é a impressão que os pais têm de que essa doença não existe mais ou que não se corre mais o risco — avalia a Diretora da Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Pelotas, Aline Machado.
Bons números
Um case de sucesso do Estado é o município de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, que já atingiu 109% de cobertura vacinal. O número foi superior a 100% porque a população alvo é definida conforme estimativa do Ministério de Saúde. Para Bento Gonçalves, a pasta federal estimava 5.329 crianças, mas a Secretaria de Saúde municipal conseguiu identificar e vacinar 5.819 crianças na faixa etária.
Assim como as outras cidades citadas, Bento Gonçalves também ofereceu mais horários de atendimento e realizou ações nos finais de semana, em pontos estratégicos do município.
— Mas a principal ação foi uma parceria feita entre a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Educação, com a vacinação nas escolas. Fizemos um mapeamento de todas as escolas e as unidades de saúde que pertencem ao território foram até as escolas. Foi feito contato prévio com os pais, uma análise das carteiras de vacinação e marcados os dias para fazer a vacina — relata Tatiane Misturini Fiorio, secretária da saúde de Bento Gonçalves.
Ouça as entrevistas:
A poliomielite e seus riscos
Causada por um vírus que vive no intestino, chamado poliovírus, a poliomielite geralmente atinge crianças com menos de quatro anos, mas também pode contaminar adultos. Seus sintomas são semelhantes aos de infecções respiratórias como febre e dor de garganta e as gastrointestinais náusea, vômito e prisão de ventre. Cerca de 1% dos infectados pelo vírus pode desenvolver a forma paralítica da doença, capaz de causar sequelas permanentes, insuficiência respiratória e, em alguns casos, levar à morte.
A última vez que um caso foi registrado no Brasil foi em 1989. Cinco anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que o país eliminara o vírus da paralisia infantil (como a pólio também é chamada) em todo território nacional. Só que nos últimos anos, desde 2016, a cobertura vacinal começou a cair e a OMS colocou o Brasil na lista de países em que o vírus pode voltar a circular.