A Secretaria de Saúde do Pará anunciou nesta quinta-feira (6) que investiga um caso de paralisia em uma criança de três anos. O poliovírus, que provoca a poliomielite, foi identificado nas fezes do paciente, mas, apesar do resultado, outras hipóteses não estão descartadas, como a Síndrome de Guillain Barré, por exemplo.
A chance real de a doença voltar a circular pelo país – o último caso é de 1989 – coloca as autoridades de saúde em alerta, ainda mais com a baixa cobertura vacinal dos últimos anos. Os especialistas fazem o alerta: o vírus consegue se espalhar facilmente quando as pessoas não são vacinadas, facilitando a retomada da doença entre as crianças.
A seguir, entenda por que não dá para deixar de vacinar as crianças contra o vírus que causa a paralisia infantil:
A poliomielite já foi erradicada, ela ainda é uma ameaça?
A última vez que um caso foi registrado no Brasil foi em 1989. Cinco anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que o país eliminara o vírus da paralisia infantil (como a pólio também é chamada) em todo território nacional. Só que nos últimos anos, desde 2016, a cobertura vacinal começou a cair. Em maio deste ano, estimava-se que 500 mil crianças não tinham recebido as doses necessárias para garantir a proteção. Com isso, a Organização Panamericana de Saúde (Opas), vinculada à OMS, incluiu o Brasil na lista de países onde há risco da volta da infecção.
Estima-se que três em cada 10 bebês brasileiros nascidos em 2021 não tomaram as doses da vacina intramuscular contra a pólio, previstas para os dois, quatro e seis meses de idade. A proteção contra a doença também requer doses em gotinhas aos 15 meses e aos quatro anos de idade. Segundo o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, somente 54% das crianças completaram o esquema vacinal no ano passado, enquanto a meta que deve ser atingida para garantir a imunidade coletiva é de 95% das crianças vacinadas.
Em outros países, também houve indícios. Neste ano, um caso foi confirmado em Nova York, nos Estados Unidos, após quase uma década sem registros. Também em 2022, o vírus foi encontrado no esgoto de Londres, no Reino Unido. Em abril, um caso foi confirmado em Malawi, considerado livre da doença. Também houve um em Israel, que é um país tradicionalmente de altas coberturas vacinais.
Quantas doses e em qual idade a criança deve ser vacinada?
No Brasil, de acordo com o Programa Nacional de Imunização (PNI), as crianças devem tomar a vacina injetável (de vírus inativado), aos dois, quatro e seis meses de idade. Depois, tomam ainda duas doses do imunizante oral (de vírus vivo atenuado),a primeira aos 15 meses de idade e outra aos quatro anos. Quem não completou o esquema vacinal pode, a qualquer momento, retomar de onde parou.
Por que é importante o esquema vacinal completo?
Mesmo com os dois regimes incompletos, as crianças já têm algum grau de proteção. Do ponto de vista da saúde coletiva, no entanto, o ideal é que todas as crianças estivessem com os dois esquemas completos justamente para impedir a circulação do vírus e eventuais mutações.
Existe risco real de a pólio voltar ao Brasil?
Sim, a importação da pólio existe. Por conta da baixa cobertura vacinal, o país já é considerado de alto risco para reinfecção, conforme a Opas. Assim como o Brasil, estão nesta classificação Equador, Venezuela, Guatemala, República Dominicana e Suriname, além de outros dois países onde o risco é considerado altíssimo: Haiti e Bolívia.
O que é a doença?
Causada por um vírus que vive no intestino, chamado poliovírus, a poliomielite geralmente atinge crianças com menos de quatro anos, mas também pode contaminar adultos. Seus sintomas são semelhantes aos de infecções respiratórias — febre e dor de garganta —, e gastrointestinais — náusea, vômito e prisão de ventre.
Cerca de 1% dos infectados pelo vírus pode desenvolver a forma paralítica da doença, capaz de causar sequelas permanentes, insuficiência respiratória e, em alguns casos, levar à morte.
Como se pega poliomielite?
A transmissão pode ocorrer de uma pessoa para outra por meio de saliva e contato com fezes, assim como água, objetos e alimentos contaminados. A falta de saneamento, as más condições habitacionais e a higiene pessoal precária constituem fatores que favorecem a transmissão do poliovírus.
Como se proteger?
A vacina é a única forma de prevenção da doença, sendo aplicada nos postos da rede pública de saúde.
O que fazer em caso de doença?
A poliomielite não tem tratamento específico. Todas as vítimas de contágio devem ser hospitalizadas, com supervisão médica.
Quem não se lembra ou não sabe se foi vacinado precisa se vacinar?
Adolescentes ou adultos que não saibam ou que não foram imunizados na infância devem se vacinar contra a doença.