A declaração do candidato Onyx Lorenzoni (PL) de que “a melhor vacina é pegar a doença”, em debate na RBS TV na noite de quinta-feira (27), reativou críticas sobre a eficácia das vacinas.
O efeito protetor no controle da epidemia, todavia, é consenso entre sociedades médicas e profissionais que atuam no combate à covid-19, como infectologia, medicina intensiva e epidemiologia.
Até esta sexta-feira (28), o Rio Grande do Sul vacinou 82,4% de toda a população com duas doses, 54% com três e 16,4%, com quatro doses.
Com grande cobertura vacinal, a média móvel de mortes por coronavírus é de três vítimas diárias, a menor desde abril de 2020, quando o Sars-Cov-2 começava a avançar no Estado. A diferença é que, hoje, não há medidas de isolamento ou obrigatoriedade de uso de máscaras, diferentemente de 2020 e 2021.
Se, no auge da pandemia, em março do ano passado, mais de 2,6 mil pessoas estavam internadas com coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), hoje são cerca de 25 em todo o Estado — muitos dos quais não internaram por causa do Sars-Cov-2, mas foram diagnosticados com covid no hospital e então isolados.
Médico epidemiologista e professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Airton Stein pontua que “o jogo virou” quando as vacinas começaram a ser aplicadas na população.
— As vacinas foram essenciais para diminuir mortes e hospitalização. Antes, ocorria um grande número de hospitalizações, o que colapsou sistemas de saúde. Depois das vacinas, diminuíram as mortes e as hospitalizações. As curvas mostram isso. Continuam acontecendo novos casos, mas são leves — diz Stein.
O efeito das vacinas pode ser visualizado em gráfico a partir de junho do ano passado, quando a segunda dose já havia sido aplicada em idosos com 60 anos e o número de hospitalizações e mortes começou a cair no Estado.
O cenário melhorou ainda mais quando a terceira dose passou a ser aplicada — em idosos, a oferta começou em outubro do ano passado. Houve repique com a entrada da Ômicron no Rio Grande do Sul, mas a cobertura vacinal já era alta e a piora foi pequena.
— O número de óbitos foi diminuindo à medida que a cobertura vacinal foi aumentando. Além disso, não chegamos mais, nem perto, do número de óbitos que tivemos antes da vacinação. A mesma análise pode ser feita em relação às hospitalizações — pontua Suzi Camey, professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e referência estadual em indicadores de covid-19.
No Brasil, a cobertura vacinal é alta, mas, nos Estados Unidos, onde o movimento antivacina é forte, regiões com menor vacinação têm mais casos e mortes por coronavírus do que em locais onde a população buscou se imunizar.
Médico intensivista em hospitais de Porto Alegre e ex-presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Rio Grande do Sul (Sotirgs), Wagner Nedel lembra que o perfil de internados por coronavírus mudou ao longo da pandemia após a vacinação.
Antes da vacina, internados em UTIs não tinham um perfil claro: eram jovens, adultos e idosos, com e sem doenças crônicas, em uma aleatoriedade espantosa. Foi quando hospitais colapsaram, sem leitos para todos os doentes.
Após serem imunizados com CoronaVac, idosos pararam de ser hospitalizados e a média de idade de pacientes em hospitais começou gradativamente a cair, uma vez que os mais vulneráveis eram os adultos não vacinados.
Quando jovens foram vacinados, adultos pararam de ir para a UTI e o número de idosos hospitalizados voltou a crescer, uma vez que a segunda dose da CoronaVac começava a perder efeito. Quando a terceira dose chegou, idosos saudáveis pararam de internar e hospitais esvaziaram. A Ômicron pode ter contribuído para melhorar o cenário, por ser mais leve, mas Nedel lembra que grande parte da população já estava protegida com duas doses.
— Hoje, um ano e meio depois do início da campanha da vacinação, são muito infrequentes os casos de internação por covid. Basicamente, são não vacinados ou vacinados com imunidade baixa por algum problema de saúde, como transplantados e pessoas com doença imune. A vacina nos deu a segurança de voltar a ter uma vida praticamente normal. Não há dúvidas sobre isso. Sem vacinas, se as pessoas só tivessem se contaminado, seria uma chacina. Hoje, podemos sair sem medo, viajar sem medo, comer em um restaurante sem medo e deixar o filho na escola sem medo de pegar um vírus grave que poderia matar. A vacina nos deu a liberdade de viver sem medo — afirma Nedel.
Repúdio
A Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico-Brasil) publicou uma nota de repúdio após a declaração. Veja o manifesto na íntegra:
"A Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO-BRASIL) manifesta sua indignação e repúdio às declarações do candidato Onyx Lorenzoni, as quais se inserem no marco da disputa eleitoral para o governo de um estado cuja pandemia vitimou mais de 40 mil pessoas, muitas das quais poderiam estar vivas não fosse a crueldade e incompetência do governo Bolsonaro.
É estarrecedor e assombroso o que o candidato ao Governo do Rio Grande do Sul disse durante o debate da Rede Globo na noite de ontem (27/10) sobre o combate à Covid-19. Para ele, “a melhor vacina que existe é pegar a doença”.
Como ex-ministro e um dos maiores aliados do governo Bolsonaro, Lorenzoni repete inverdades e evidencia a estratégia mortífera de que se valeram o Presidente da República e seus aliados para viabilizar a chamada “imunidade de rebanho por contaminação”.
Após dois anos e 9 meses de pandemia de covid-19, o Brasil se encontra com mais de 688 mil mortos e 34 milhões de sobreviventes da doença, sendo que segundo a OMS, de 10% a 20% apresentam sequelas da Covid Longa. Do total de vítimas fatais, mais de 2500 óbitos são de crianças e adolescentes de até 17 anos que não puderam se vacinar. Das crianças de até 5 anos, os óbitos por covid são o triplo das causas, em uma década, se comparados com outras 14 doenças que podem ser evitadas por vacinação e outras medidas de promoção à saúde por parte do governo.
As falas de Lorenzoni corroboram com o que foi denunciado nas recentes declarações de Andrea Barbosa, ex-esposa de Eduardo Pazuello, o qual esteve à frente do Ministério da Saúde no decorrer da pandemia: existiu no país uma estratégia que, no mínimo, expôs ao risco toda população brasileira.
É por aqueles que poderiam estar vivos e pela paz de espírito dos que continuam vivos que estamos aqui, familiares de vítimas e sobreviventes da Covid-19, em luta constante contra as políticas que consideramos genocidas do atual governo. Nestas eleições apoiaremos criticamente o candidato que se mostra em defesa da vida e da ciência em contraposição ao candidato Onyx Lorenzoni, aquele que representa a morte, o obscuro, a desumanidade.
ELES PODERIAM ESTAR VIVOS!
Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO-BRASIL)"