Em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, em média, oito internações de bebês menores de um ano por dia devido à desnutrição no Brasil, sequelas das deficiências nutricionais. Os dados são de um levantamento do Observa Infância, da Fiocruz. No total, foram 2.979 hospitalizações nessa faixa etária durante o período, o maior número absoluto dos últimos 13 anos, conforme o órgão.
Em 2022, até 30 de agosto, a rede pública de saúde registrou o total de 2.115 internações de bebês por desnutrição, o que eleva para 8,7 a taxa média de hospitalizações diárias — um aumento de 7% em comparação com 2021.
A região Sul foi a única que registrou queda na taxa de hospitalização por desnutrição em menores de um ano entre 2020 e 2021. Já a região Centro-Oeste foi a que registrou o maior aumento: 30% entre o primeiro e o segundo ano da pandemia. Ainda assim, a pior taxa de hospitalização por desnutrição foi registrada no Nordeste, região onde foram informadas 171 internações de bebês menores de um ano para cada 100 mil nascidos vivos em 2021, 51% acima da taxa nacional.
Desde 2016, a taxa de hospitalização por desnutrição entre bebês menores de um ano vem subindo no Brasil, mas chegou à pior marca em 2021, com 113 internações para cada 100 mil nascidos vivos, um aumento de 51% em relação a 2011, quando o país registrou 75 hospitalizações de bebês para cada 100 mil nascidos vivos, a menor taxa do período analisado, considerando os anos completos (2009-2021).
A tendência é diferente da observada no número de mortes e na taxa de mortalidade pela mesma causa nessa faixa etária, que registra queda constante desde 2009 e chegou à menor marca em 2020, último ano com dados consolidados.
Raça
Os dados também mostram que bebês negros (pretos e pardos) respondem por duas de cada três internações por desnutrição registradas entre janeiro de 2018 e agosto de 2022 no sistema público de saúde. Para o cálculo, foram considerados apenas os casos em que há registro de raça/cor. Entre 2018 e 2021, o país registrou 13.202 hospitalizações por desnutrição entre menores de um ano. Destas, 5.246 foram de bebês pretos e pardos, mas falta informação sobre raça/cor em um de cada três registros.
— Ainda precisamos melhorar muito a identificação por raça e cor nos nossos sistemas de informação, mas com os dados que temos é possível afirmar que temos uma proporção maior de crianças pretas e pardas internadas por desnutrição — afirma Cristiano Boccolini, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e coordenador do Observa Infância.