O aumento de casos de meningite em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, com registro de mortes, tem provocado preocupação nas famílias. Bebês de até um ano são os mais vulneráveis à doença — caracterizada por inflamação das membranas que recobrem o cérebro —, que também pode acometer outras faixas etárias. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), mães e pais não devem entrar em pânico — o que precisa ser feito é manter atualizada a caderneta de vacinação dos filhos. Se alguma dose estiver faltando, precisa ser feita imediatamente.
No Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a situação não está fora da curva em comparação com anos anteriores. “Não temos surtos de doença meningocócica desde 2015. Houve uma redução considerável nas notificações durante os anos intensos da pandemia. O padrão de letalidade se mantém constante”, informa em nota a assessoria de imprensa da pasta.
O calendário de imunização contra a meningite (veja detalhes abaixo) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) prevê doses aos três e aos cinco meses, com reforço aos 12 meses e mais um reforço na adolescência. Há variações para quem prefere adquirir as doses em clínicas privadas. Provisoriamente, o Ministério da Saúde está oferecendo vacinas para adolescentes de 13 e 14 anos que não tomaram o reforço previsto entre 11 e 12 anos. Quem tiver dúvida sobre a situação vacinal deve pedir orientação ao médico pediatra ou a um profissional de saúde dos postos.
Na avaliação de Mônica Levi, diretora da Sbim e presidente da Comissão de Revisão dos Calendários Vacinais da entidade, o cenário atual está dentro do esperado.
— A vacinação é para meningite meningocócica e para doença meningocócica invasiva. Nunca se eliminou ou erradicou nada disso — observa a pediatra.
A meningite pode ser causada por vírus, bactérias e fungos. A meningite viral é comum principalmente no inverno e não tem prevenção. Os imunizantes protegem contra as meningites provocadas por bactérias, sendo a meningococo a mais frequente.
— A meningite meningocócica é potencialmente fatal. Acomete de forma fulminante e tem rápida disseminação. Mesmo com diagnóstico rápido e tratamento adequado no hospital, pode acontecer. E, dos casos tratados, tem aqueles que ficam com sequelas, como surdez, problemas motores, amputação de membros (por causa da gangrena), retardo mental. Alguns pacientes aparentemente saem ilesos e, lá na frente, têm problemas cognitivos. Existe tratamento para a meningite, mas não dá para dizer que, porque tratou, não vai ter sequelas — adverte a diretora da Sbim.
Cobertura vacinal
Índices decrescentes de imunização para diversas enfermidades e a intensa circulação de notícias falsas, especialmente durante a pandemia e em relação às vacinas contra a covid-19, atrapalham de forma geral a proteção da população. No Rio Grande do Sul, conforme a SES, a cobertura vacinal para a meningite (esquema com duas doses; o reforço tem um indicador de cobertura separado) vem caindo: 90,8% em 2019, 87,5% em 2020 e 77,4% em 2021 — os números referentes ao ano passado ainda são considerados preliminares, pois o prazo para o lançamento das doses aplicadas pelos municípios no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) é de até 12 meses. Em 2022, a cobertura está em 48,7% no momento. A meta de cobertura é de 95% da população-alvo.
Adolescentes e adultos jovens são personagens importantes na estratégia de contenção da doença porque podem não apresentar sintomas da infecção, mas, mesmo assim, transmiti-la. Não há recomendação para imunização rotineira de adultos e idosos. Quem desejar, no entanto, pode se vacinar em uma clínica particular. Em surtos como o de São Paulo, o bloqueio é feito localmente, na região afetada, com medicação dos contatantes diretos dos doentes.
— As pessoas estão com medo. Para crianças e adolescentes vacinados, não tem nada a ser feito, não precisa nenhuma dose extra. Adultos e idosos que quiserem fazer a vacina podem fazer, não há contraindicação. O risco (de meningite) para eles é baixo, mas a doença é grave. O adulto de hoje que foi vacinado na infância não tem proteção. Eram vacinas com outras tecnologias, duravam no máximo dois anos — diz Mônica.
A reportagem de GZH perguntou ao Ministério da Saúde que avaliação o governo federal faz do quadro atual da meningite no país e aguarda retorno.
Calendário de imunização contra a meningite
Pelo SUS
Vacina meningocócica C conjugada
- Doses aos três meses e aos cinco meses, com reforço aos 12 meses
Vacina meningocócica ACWY
- Uma dose entre 11 e 12 anos
- Para quem não tomou a dose entre 11 e 12 anos, o Ministério da Saúde está disponibilizando, temporariamente, uma dose para a faixa de 13 a 14 anos
Indicação das sociedades médicas (em clínicas privadas)
Vacina meningocócica ACWY e B
- Doses aos três e aos cinco meses, com reforço entre 12 e 15 meses
- Reforços com a vacina ACWY: entre cinco e seis anos, aos 11 anos e aos 16 anos
O que é a meningite
- Inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. É causada, principalmente, por bactérias ou vírus; mais raramente, pode ser provocada por fungos ou pelo bacilo de Koch, causador da tuberculose.
- Pessoas de qualquer idade podem contrair meningite, mas crianças menores de cinco anos são mais vulneráveis.
Transmissão
- Costuma ocorrer de pessoa para pessoa, pelas vias respiratórias — por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Também pode acontecer por meio da ingestão de água e alimentos contaminados e contato com fezes.
- No caso da meningite bacteriana, algumas bactérias se espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta, enquanto outras são transmitidas pelos alimentos.
- Quanto à meningite de origem viral, a transmissão depende do tipo de vírus, podendo ocorrer contaminação fecal-oral, por contato próximo com pessoa infectada, toque em objetos ou superfícies com o vírus — que pode ser levado a olhos, nariz ou boca —, troca de fraldas de pessoa infectada, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus. Alguns vírus (arbovírus) são transmitidos pela picada de mosquitos contaminados.
Sintomas
- Meningites virais tendem a ser mais leves, com sintomas semelhantes aos de gripes e resfriados. Crianças apresentam febre, dor de cabeça, um pouco de rigidez da nuca, falta de apetite, irritação.
- Meningites bacterianas são mais graves, provocando febre alta, mal-estar, vômitos, dor forte de cabeça e no pescoço, dificuldade para encostar o queixo no peito e, às vezes, manchas vermelhas pelo corpo. Esses sinais indicam que a infecção está se espalhando rapidamente, e o risco de infecção generalizada aumenta muito.
- Bebês podem apresentar moleira tensa ou elevada, gemido quando é tocado, inquietação e choro agudo, rigidez corporal com movimentos involuntários ou corpo mole.
Tratamento
- Depende de avaliação médica e exames, variando conforme a causa da infecção.
- Meningites bacterianas são mais graves e devem ser tratadas imediatamente, em ambiente hospitalar.
Fonte: Ministério da Saúde