A campanha de vacinação contra a covid-19 alcançou alta cobertura de duas doses no Rio Grande do Sul, mas estacionou na terceira aplicação há pelo menos quatro meses, segundo estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) analisadas por GZH.
Em maio, o Rio Grande do Sul aplicava, em média, mais de 4,5 mil terceiras doses por dia. Hoje, são cerca de 1,2 mil. Já a quarta dose era aplicada em mais de 25 mil pessoas em maio e, hoje, menos de 2 mil.
Até esta quarta-feira (7), 55% de todos os gaúchos a partir dos três anos de idade haviam tomado três doses contra o coronavírus, e 85% tomaram duas. Cerca de 8% das pessoas aptas para a vacinação no RS não receberam sequer uma injeção.
Se a cobertura de duas doses no Estado é alta e semelhante às taxas de países ricos, a proporção que buscou a terceira dose, de 55%, é baixa no comparativo. No Chile, toda a população tomou a dose de reforço. Na França, mais de 63%. Na Argentina, 67%.
Os números chamam a atenção porque, desde abril, há cinco meses, autoridades mundiais e nacionais estipularam que o esquema vacinal completo é de três doses. Portanto, quem recebeu apenas duas aplicações precisa buscar o posto de saúde.
Desde maio, a cobertura vacinal de três doses avançou pouco no Estado. Em idosos com 80 anos ou mais, atingiu 80% da faixa etária na metade de maio e, quatro meses depois, cresceu para apenas 81,3%. Já entre adultos com 18 a 79 anos, atingiu 60% no fim de julho e chegou a apenas 60,8% neste início de setembro.
Certa queda no ritmo de vacinação é esperada porque, conforme o tempo passa, mais pessoas se vacinam e cai o número de indivíduos com calendário atrasado. Todavia, o contingente de retardatários ainda é grande: 3 milhões de gaúchos estão com a terceira dose atrasada e 2,2 milhões, com a quarta aplicação, também chamada de segundo reforço.
A perda de ritmo da campanha pode ser explicada em um paradoxo: justamente graças ao avanço da vacinação, a epidemia foi controlada e, agora, a população sente menos medo, o que move um número menor pessoas aos postos de saúde, reflete o médico Alessandro Pasqualotto, chefe do setor de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI).
De fato, desde sexta-feira passada (2), a média móvel de mortes por coronavírus no Rio Grande do Sul é de 10 óbitos por dia. Dois meses atrás, eram 17 e, no pior momento da pandemia, no verão do ano passado, mais de 300 vítimas diárias.
Pasqualotto não vê risco de surgimento de nova variante, mas destaca a importância de atualizar o calendário vacinal para se manter protegido contra a covid-19.
— Passados de quatro a seis meses, a vacina perde eficácia, em especial idosos e imunossuprimidos. Para eles, a vacina é importante, mas para a população em geral também. Essa doença fez sua história, mas não foi embora, segue afetando pessoas que necessitam de hospitalização. Ainda há gente morrendo de covid, isso reduziu em frequência, mas há populações com resposta mais baixa à vacina — diz o infectologista.
Entre crianças de cinco a 11 anos, a vacinação melhorou no Estado e atingiu 47% do grupo — mas segue baixa e longe da cobertura de 90% esperada pelo Ministério da Saúde. Para melhorar a proteção contra a covid-19 e outras doenças, sobretudo a poliomielite, o governo do Estado iniciou, em 31 de agosto, um programa de oferta de doses em escolas.
De acordo com o Palácio Piratini, todas escolas — de Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio — públicas ou particulares, estão convidadas a participar. Qualquer aluno poderá se vacinar, independentemente da instituição onde estude.
O médico Eduardo Sprinz, chefe do setor de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que a experiência do mundo real mostra que as vacinas funcionam, mas que a desinformação divulgada em redes sociais deixou sua marca.
— Temos um cenário no qual a Ômicron e suas subvariantes são dominantes. Tomar uma nova dose nos deixa ainda mais seguros de que, se tivermos covid, a chance de evoluir para uma forma mais grave será menor. O número de óbitos continua diminuindo há meses, está em número ruim ainda, mas, se comparar com o que existia meses atrás e nos picos, isso deve ser comemorado — diz Sprinz.