O Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados do Reino Unido (Nice) autorizou, nesta quarta-feira (31), o transplante de bactérias oriundas de fezes em pacientes do Sistema Nacional de Saúde (NHS) que estejam infectados com a superbactéria Clostridium difficile e que apresentem resistência aos medicamentos. A técnica, considerada inovadora, é utilizada para o tratamento de doença infecciosa causada pelo microrganismo e, de acordo com os pesquisadores, pode ser mais eficaz do que alguns remédios. As informações são do jornal O Globo.
O tratamento inovador é chamado de Transplante de Microbiota Fecal (TMF) e será realizado em pacientes que já passaram por dois ou mais tratamentos para combater a bactéria e não apresentaram melhora no quadro. Segundo o Nice, de 450 a 500 pessoas por ano poderão optar pelo uso da TMF como terapia.
A técnica consiste na coleta de bactérias consideradas "boas" que são originadas das fezes de doadores que estão com a microbiota intestinal equilibrada (conjunto de microrganismos importantes na decomposição da matéria orgânica). Essas bactérias são então introduzidas no paciente de duas formas: a primeira é por meio de um tubo que é inserido diretamente no estômago ou pelo nariz chegando até o intestino. Já o segundo método consiste na ingestão de um pílula que contém o microrganismo.
O principal objetivo do tratamento é restaurar a população de bactérias consideradas como boas para o corpo humano e que habitam o intestino. Desse modo, com o reequilíbrio da microbiota, há uma concentração maior de microrganismos saudáveis no paciente e fica mais difícil acontecer infecção pela Clostridium difficile.
De acordo com o Nice, o transplante poderá reduzir a quantidade de antibióticos, se tornando uma opção mais barata tanto para o paciente quanto para a instituição médica. Um estudo realizado pelo Comitê Consultivo de Tecnologia Médica do Instituto revelou que pode haver uma economia de centenas de milhares de libras para o serviço público de saúde britânico.
Quanto à eficácia do tratamento, cinco estudos encomendados pelo Nice, que contaram com a testagem em 274 adultos, demonstraram que a terapia pode resolver 94% dos casos de infecção com a superbactéria.
Agora que a terapia foi autorizada para ser aplicada, ela precisa seguir as orientações da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA). Além disso, o procedimento integrará um rigoroso programa que fará testagens nos doadores para verificar se não há riscos de transmissão de doenças e se a microbiota intestinal daqueles que irão doar está devidamente equilibrada.
A superbactéria
A Clostridium difficile costuma provocar diarreia e inflamação de colite — ardor no intestino que pode ser aguda ou crônica — em pacientes com a microbiota desregulada. A bactéria deve ser tratada com antibióticos, mas o crescimento da doença pode fazer com que outras alternativas sejam necessárias para combatê-la, como transplante fecal ou até mesmo um procedimento cirúrgico.
Essa doença é considerada comum no Brasil e, se o indivíduo tiver suspeitas de infecção, deve procurar ajuda médica.