Natália Mansan
Pedagoga, especialista em gestão da educação, pesquisadora da primeira infância e autora do livro “Florisbela, a Super-heroína da Natureza”
Em tempos nos quais, parece, os dias deveriam ter mais horas e as semanas, mais dias, percebemos a necessidade da relação dual entre as pessoas. A correria é tão grande, que não podemos perder tempo com assuntos desnecessários.
E as nossas crianças? Ah, elas sempre têm algo a dizer. Uma opinião, uma pergunta ou uma experiência para compartilhar. O que elas falam e relatam é de uma importância tremenda.
O chamado "phubbing", termo inglês criado para descrever o ato de ignorar alguém por utilizar o smartphone, tem trazido reflexões sobre as relações estabelecidas atualmente.
Essa prática é cada vez mais evidenciada na parentalidade distraída da nossa geração. Precisamos falar sobre isso e entender seus prejuízos a curto e longo prazo.
A realidade é que menosprezamos a criança quando dividimos sua atenção com as telas. Respeitamos as pessoas às quais damos atenção por inteiro.
Rubem Alves já dizia: “A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar”. Ele complementou: “É preciso que haja silêncio dentro da alma”.
Esse é o ponto crucial. Nos dias atuais, observamos corpos tão apressados, que não conseguem parar para escutar. Além de apressados, são corpos cheios, talvez de si mesmos, que não possuem espaço interno para a escuta do outro.
Estamos tão preocupados com os estímulos que os nossos filhos precisam receber que não nos damos conta que, mais do que os brinquedos e as atividades ofertadas, a atenção dispensada é fundamental. A principal ferramenta de estipulação é a interação.
As crianças precisam de mais estímulos orgânicos. Quanto mais familiaridade com o entorno, mais essa criança estará preparada para a vida. Quando a rotina nos engole e não conseguimos dispensar um período satisfatório de qualidade com nossas crianças, precisamos encontrar maneiras de que isso ocorra entre uma tarefa e outra. Um exemplo é o banho. Podemos brincar com os pequenos, conversar e dar atenção enquanto realizamos uma simples tarefa cotidiana.
Brincar sozinho se aprende brincando junto
Na minha prática diária, muitas vezes escuto famílias que buscam entender como que as crianças aprendem a brincar sozinhas. Sabemos que brincar sozinho é uma habilidade que se aprende. Brincar sozinho se aprende brincando junto. A resposta é bem simples: quando a criança tem tempo de qualidade com os pais, ela enche o “tanque do amor”, fica saciada dessa interação e aprende a brincar sozinha também. Se sistematizarmos esse hábito na rotina das crianças, elas aprenderão a brincar sozinhas, e sabemos o quanto essa habilidade é importante também para o exercício da criatividade e uma série de outras competências.
As telas não são opções de brincadeiras. O uso excessivo pode comprometer o desenvolvimento da linguagem, da concentração, provocar irritabilidade, agitação, ansiedade.
E quando os adultos estão envolvidos com as telas, naturalmente as crianças também buscarão esse recurso. Eles copiam tudo que observam e experimentam no dia a dia. Entretanto, as telas não são opções de brincadeiras. O uso excessivo pode comprometer o desenvolvimento da linguagem, da concentração, provocar irritabilidade, agitação, ansiedade e por aí vai.
As crianças precisam brincar. Brincar com outras crianças, com adultos, com seus pais. Por meio do brincar, as crianças se relacionam, experimentam o mundo ao redor, testam habilidades, entram em contato com o outro.
A vida está muito corrida ultimamente. Até nos finais de semana e nas férias precisamos ser produtivos. Se não corrermos contra o tempo, ficamos para trás. Já dizia Rubem Alves: “Os processos vitais são vagarosos. Quando a vida se apressa, é porque algo não vai bem”.
Que possamos parar, refletir, fazer uma autoavaliação e redirecionar. Que a gente não perca a essência dos relacionamentos, afinal eles são a maior riqueza que temos nessa vida!