A vacinação contra a covid-19 avançou no último semestre e derrubou o número de internações e mortes, mas é grande a parcela de indivíduos com esquema vacinal incompleto. No Rio Grande do Sul, até esta terça-feira (5), 2,75 milhões de gaúchos estavam com a terceira dose atrasada, o que representa 24% da população do Estado, de 11,4 milhões. Os dados são de levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (SES) a pedido de GZH.
Desde a metade de abril, o governo do Estado segue diretriz da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde e considera que o esquema vacinal básico envolve três doses, e não apenas duas, como era anteriormente. Para quem recebeu Janssen, agora são necessárias três doses, no mínimo. Quem tem mais de 40 anos ou é imunossuprimido deve tomar quatro doses, independentemente da marca utilizada.
A mudança ocorreu depois de estudos provarem que, a partir de cinco meses, a proteção oferecida pela segunda dose ou pela dose única da Janssen cai, o que exige a aplicação do reforço.
As estatísticas ainda mostram que 6% dos gaúchos sequer buscaram a primeira dose e outros 6% estão com a segunda aplicação atrasada. A quarta dose, que avança semanalmente em faixa etária, já poderia ter sido tomada por 23% dos gaúchos, como mostra o gráfico a seguir.
— Se houvesse cobertura universal de pessoas vacinadas com as doses atualizadas, não teríamos ocupação hospitalar por covid, praticamente. Não teríamos morte e o vírus circularia em menor quantidade. Com esquema atualizado, a covid será menos grave do que se eu não estivesse com a vacina — diz o médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Para a população acima de 40 anos, é indicada também a quarta dose (chamada ainda de segundo reforço) para elevar os níveis de anticorpos no corpo. Porto Alegre iniciou a oferta de quarta dose para essa faixa etária a partir desta terça-feira (5).
Na capital gaúcha, das 1,3 milhão de pessoas aptas a se vacinar contra o coronavírus, 41,6 mil não tomaram a primeira dose – cerca de 3% do público-alvo. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) foi contatada no fim da manhã de segunda-feira (4), mas não forneceu, até a tarde desta terça-feira (5), dados públicos sobre porto-alegrenses com vacina atrasada.
A despeito do grande número de abstenções, o Rio Grande do Sul tem uma das melhores campanhas de vacinação do Brasil: 59,3% dos gaúchos tomaram as três doses, segundo dados da SES. É a terceira maior cobertura do país, atrás apenas de São Paulo (71% da população com esquema completo) e Piauí (61%), de acordo com o portal coronavirusbra1.github.io, que compila dados dos governos estaduais.
A vacinação permite a retomada o mais próximo da normalidade, mas o grande número de indivíduos com vacina atrasada eleva o risco de transmissão viral, de surgimento de novas variantes e de adoecimento dos mais vulneráveis, pontua o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
— Se observamos o que acontece no restante do mundo, há novas variantes “filhas” da Ômicron. A que mais circula no Brasil é a B.A.2, mas, nos países da Europa e os Estados Unidos, onde há aumento de casos, circulam a B.A.4 e B.A.5. Mesmo que tenhamos altos percentuais de pessoas vacinadas, é fundamental ter esquema completo porque essas variantes vão circular por aqui — destaca Cunha.
Aumentar o número de pessoas vacinadas é importante para diminuir a chance de novos infectados, uma vez que, nas atuais subvariantes da Ômicron, o vírus é transmitido ainda mais cedo, em uma janela de tempo na qual os sintomas ainda são leves ou nem estão presentes.
Estudos mostram que pessoas vacinadas, quando infectadas, transmitem o vírus por até metade dos dias do que pessoas sem esquema vacinal completo. Portanto, imunizados, além de estarem mais protegidos contra o adoecimento, também infectam menos pessoas.
Tani Ranieri, chefe do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do governo do Estado, diz que o governo gaúcho está promovendo campanhas publicitárias na internet e em meios de comunicação para convocar a população a se vacinar e que as ações focadas em adolescentes já elevaram a cobertura na faixa etária – 76% dos jovens já tomaram a segunda dose.
Ela acrescenta que o Estado está reforçando junto a prefeituras a importância de postos de saúde irem atrás dos atrasados na vacinação:
— Continuamos com essa população de faltosos, o que cria a possibilidade de esse vírus altamente mutável criar novas variante e reiniciar nova circulação. Algumas pessoas têm a falsa ilusão de que a pandemia está controlada e pensam que não precisam fazer mais a vacina. Há também um grupo que fez a vacina, teve efeito adverso e têm medo de fazer a próxima dose. E há muitas pessoas que levam informações falsas sobre a segurança e a eficácia da vacina. Mas a vacinação é a única medida de controle a médio e longo prazo. Não vamos controlar a circulação do vírus se abrirmos mão da vacinação.