Levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (SES) revela dois indicadores importantes na área de saúde materna e infantil. Considerando-se um período de cinco anos, o Rio Grande do Sul teve, em 2020, o maior índice de óbitos de gestantes e puérperas e o menor de óbitos de bebês de até um ano de idade.
O Boletim Epidemiológico de Mortalidade Materna, Infantil e Fetal 2022 trabalhou com dois parâmetros: razão de mortalidade materna (RMM), que avalia a qualidade da assistência à mulher durante o pré-natal, o parto e o nascimento, e a taxa de mortalidade infantil (TMI), que estima o risco de um nascido vivo falecer antes de completar 12 meses. Não são comparados números absolutos entre um e outro, mas sim os índices obtidos a partir de determinadas fórmulas (veja as duas tabelas nesta reportagem). As informações são coletadas junto a instituições da rede pública.
Em 2020, o Estado contabilizou a maior RMM desde 2015: 41,3 óbitos por 100 mil nascidos vivos, taxa considerada média (em escala que varia de baixa a muito alta). Para comparação, o Brasil teve 74,7 óbitos maternos por 100 mil nascimentos no mesmo ano. Conforme dados compilados para o boletim, o Rio Grande do Sul, entre os outros Estados, apresenta a quarta menor RMN nacional: fica atrás de Mato Grosso (39), Acre (33) e Santa Catarina (32). Já a TMI no Rio Grande do Sul, em 2020, foi de 8,62 óbitos por mil nascidos vivos, a mais baixa desde 2015.
Nas 54 mortes de mulheres ocorridas no ano de início da pandemia de coronavírus, apenas quatro registros se referem à covid-19. De acordo com a enfermeira Karen Chisini, especialista em saúde do Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde da SES, a doença provocada pelo sars-cov-2 pode ter vitimado mais pacientes, que tiveram outras causas de morte anotadas, em um momento em que a enfermidade começava a ser desvendada e classificada. Com os dados parciais de 2021, já é possível observar elevação da quantidade de vítimas da covid-19 nesse segmento da população.
Em relação às 50 mortes por outros motivos, destacam-se problemas bem conhecidos: pré-eclâmpsia (pressão alta na gestação) e hemorragia durante ou após o parto. Mesmo nesses quesitos, a crise sanitária pode ter impactado, dificultando ou impedindo o acesso das pacientes à assistência adequada.
— Os serviços de saúde voltaram a atenção para a covid e ficaram sobrecarregados. Muitas mulheres ficaram com medo de ir às consultas de pré-natal, ainda não tínhamos vacina. Houve casos de poucas consultas médicas ou consultas muito espaçadas — comenta Karen.
Antes mesmo da conclusão do boletim epidemiológico, segundo Karen, já estava em elaboração um protocolo orientando condutas em casos de hemorragias. Na sequência, equipes da SES, que contam com o apoio de especialistas de universidades e daqueles que vivem o dia a dia do atendimento à população, devem focar na pré-eclâmpsia e em outros temas. O objetivo é disseminar essas práticas pelo Estado.
— Queremos fazer capacitações para diminuir esses problemas, sempre focando na importância do pré-natal, quando muitas questões podem ser identificadas, e permitindo que a mulher seja encaminhada em tempo hábil para uma instituição adequada — diz Karen.
Mortalidade infantil reflete condições de vida
Quanto ao indicador dos bebês, de acordo com a SES, a TMI reflete as condições de vida da população. As principais causas de óbito infantil se referem a afecções perinatais (associadas, sobretudo, a condições maternas sensíveis ao pré-natal, como hipertensão, diabetes e infecções, situações que podem desencadear parto prematuro) e malformações congênitas. Em 2020, foram registradas 1.124 mortes, contra 1.495 em 2015. Após os cálculos, chegou-se à TMI de 8,62.
A médica pediatra Andrea Leusin de Carvalho, da Divisão das Políticas dos Ciclos de Vida da SES, informou, por e-mail, que a redução da TMI gaúcha se deve, principalmente, aos seguintes fatores: ampliação do acesso aos serviços de saúde; implantação de equipes de saúde da família; qualificação da atenção ao pré-natal, ao parto e ao nascimento; pactuação de referências para ocorrência do parto em serviços com infraestrutura adequada e equipe de saúde qualificada; organização e ampliação da rede de cuidados intensivos neonatais e pediátricos; acompanhamento do desenvolvimento infantil por meio de visitas domiciliares do programa Primeira Infância Melhor.
Andrea acrescenta que, em 2021, institui-se o Comitê Estadual de Enfrentamento e Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal. A partir da análise das circunstâncias em que se deram os óbitos, o objetivo do grupo é tentar identificar as causas e propor ações para a redução das mortes evitáveis.