Estamos no Agosto Dourado, mês dedicado a ressaltar a importância da amamentação. O leite materno é considerado a melhor fonte de nutrição para o bebê, e o Ministério da Saúde recomenda que seja esta a forma de alimentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida.
Mas e quando o bebê é prematuro ou se encontra em uma situação em que ainda não pode mamar pela boca? Para estes casos, entra em campo uma técnica que utiliza o colostro, leite produzido na primeira fase da amamentação. Na chamada colostroterapia, o recém-nascido recebe, a cada três horas, 0,2ml desse leite.
O objetivo principal da técnica, no entanto, não é nutricional, mas de estímulo da imunidade do bebê, como explica Rafaéli Arrugueti, nutricionista da maternidade do Hospital Mãe de Deus, idealizadora do protocolo da terapia na instituição:
— Muito se sabe da importância do colostro para os recém-nascidos, mas quando falamos de bebês prematuros e que serão privados desse contato imediato com a mãe, ele se torna ainda mais especial. Vai muito além da nutrição desses pequenos. A terapia mostra que cada gota importa.
A seguir, tire algumas dúvidas sobre a terapia e sobre amamentação em geral.
Quais as fases do leite materno?
São três: colostro, leite transicional ou intermediário e leite maduro. O colostro costuma durar por uma semana. Tem um aspecto mais translúcido e viscoso. Sua principal característica é ser rico em imunoglobulinas, o que fortalece a imunidade do bebê.
O leite intermediário ou de transição ainda tem imunoglobulinas, mas não em carga tão alta quanto na fase anterior. A produção aumenta e o leite ganha mais gordura e nutrientes.
Já a fase do leite maduro se estabelece depois de aproximadamente duas semanas e é a que se manterá no decorrer da amamentação. Pode ser a alimentação exclusiva do bebê por seis meses, porque é rica nos nutrientes necessários para o desenvolvimento da criança.
O que é a colostroterapia?
É uma técnica utilizada normalmente em prematuros extremos, que ainda não podem mamar. É recomendada por pelo menos sete dias, podendo se estender por mais tempo.
Como o colostro é retirado e armazenado?
Após o parto, o recomendado é que seja o mais breve possível, e assim que a mãe já está confortável para fazer a retirada do colostro, é feita a coleta, por meio de ordenha. O líquido deve ficar sob refrigeração e pode ser armazenado em pequenos frascos ou mesmo em seringas, que serão utilizadas na administração no recém-nascido. A ordenha é feita no hospital mesmo, quando a mãe ainda está internada ou em visita ao bebê.
Como o líquido é administrado no bebê prematuro?
O bebê recebe 0,2ml de colostro a cada três horas — 0,1ml em cada bochecha. Com uma seringa, o líquido é colocado na parte interna da bochecha. Uma vez absorvido pela mucosa, o leite estimulará o sistema imune da criança, criando uma barreira mais forte para as doenças.
Quais as principais vantagens da técnica?
A principal delas é funcionar como uma espécie de imunoterapia, por fortalecer o sistema imunológico do bebê em um momento delicado. Com isso, o recém-nascido corre menor risco de infecções neonatais e, consequentemente, de morte. Mas além disso, a colostroterapia também atua como forma de estímulo para a amamentação precoce e inicia o vínculo da alimentação entre mãe e filho.
Mãe que está com covid-19 ou teve a doença há pouco tempo pode oferecer o colostro para o bebê?
A doença não é contraindicação para a amamentação. Aliás, já existem estudos que mostram a capacidade do leite materno em passar ao bebê anticorpos contra o vírus para o bebê.
Por quanto tempo é preciso administrar o colostro?
Mesmo que o colostro seja produzido apenas na primeira semana, ele pode ser armazenado por mais tempo. Portanto, pode ser utilizado nos bebês que estiverem impedidos de mamar pelo tempo que for necessário.
Por quanto tempo o bebê deve receber leite materno?
A recomendação é de que o aleitamento materno ocorra até pelo menos os dois anos, sempre que possível. Até os seis meses, deve ser a alimentação exclusiva da criança.
Por que o leite materno é tão importante?
O leite materno é capaz de reduzir em até 13% os índices de mortes de crianças com menos de cinco anos, por ser a melhor e mais econômica fonte de nutrição para os bebês. O aleitamento materno protege a criança contra doenças como diarreia, infecções respiratórias e alergias. E age de forma a reduzir o risco de desenvolver hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade na vida adulta.
Por que Agosto Dourado?
A cor faz menção ao padrão ouro de qualidade do leite materno. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por ano, cerca de 6 milhões de vidas são salvas por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de idade.
Fontes: Rafaéli Arrugueti, nutricionista da maternidade do Hospital Mãe de Deus, e Ministério da Saúde