Desde a última semana, a vacina contra a gripe está sendo ofertada para toda a população a partir de seis meses de idade em Porto Alegre. Ao mesmo tempo, a dose de reforço contra a covid-19 já foi liberada para adolescentes acima de 16 anos e, a quarta aplicação, para profissionais de saúde da linha de frente — públicos que ainda devem ser ampliados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a fim de atender as orientações do Ministério da Saúde.
Neste cenário, muitas pessoas poderão receber os dois imunizantes em apenas uma ida aos postos de saúde da Capital. Isso porque, em setembro do ano passado, o Ministério da Saúde autorizou que as doses contra a covid-19 e contra a gripe fossem aplicadas no mesmo dia ou com qualquer intervalo na população acima de 12 anos. A orientação vale para as demais vacinas do Calendário Nacional de Vacinação, mas não inclui as crianças entre cinco e 11 anos, que devem respeitar o intervalo mínimo de 15 dias entre as injeções.
Mas algumas pessoas ainda têm dúvidas sobre a aplicação simultânea. Afinal, é seguro tomar as vacinas da covid-19 e da gripe no mesmo dia? Há risco de reações mais intensas ou de que uma atrapalhe o efeito da outra? Por que antes era recomendado intervalo para todos e, agora, não?
Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que, atualmente, já se sabe que as duas vacinas podem ser aplicadas simultaneamente ou com qualquer intervalo, sem que haja interferência imunológica (quando uma altera a capacidade de proteção da outra) ou aumento de reações adversas:
— Isso já é um consenso mundial entre os órgãos regulatórios. A partir dos 12 anos, temos uma experiência mundial e também brasileira, já que estamos vacinando há um ano e meio nossa população contra a covid-19, de que não há problemas.
Segundo a especialista, em um primeiro momento, optou-se pelo intervalo entre as vacinas da covid e outros imunizantes em todos os públicos para que houvesse uma vigilância mais rígida dos efeitos adversos — o que é feito sempre que uma nova vacina é licenciada e começa a ser aplicada em massa na população. Ela ressalta que os imunizantes contra o coronavírus foram desenvolvidos em tempo recorde e eram de plataformas diferentes, ou seja, não se tinha uma experiência prévia com os produtos nem em outros países. Então, não havia informações sobre a segurança da aplicação simultânea.
— De janeiro a setembro de 2021, mantivemos o intervalo para conhecermos melhor os efeitos colaterais das vacinas e termos a nossa experiência. Nesse período, foram bilhões de doses aplicadas no mundo e, em outros países, começaram a fazer a vacinação contra a gripe e covid juntas para não complicar a vacinação. Hoje, as pessoas recebem uma dose em cada braço — aponta.
Elaborada pelo Ministério da Saúde e publicada em maio deste ano, a 13ª edição do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 destaca que “em consonância com as recomendações de outros países e devido ao melhor conhecimento e experiência adquiridos até o momento em relação às vacinas em utilização no Brasil, o intervalo de 14 dias preconizado anteriormente entre vacinas contra covid-19 e outras vacinas não será necessário”. O documento ainda afirma que a medida contribui para melhorar as coberturas vacinais e amplia as chances de a população ter um cartão de vacinação atualizado.
Para crianças, intervalo ainda é recomendado
O Ministério da Saúde ainda mantém crianças entre cinco e 11 anos como exceção porque a aplicação de doses contra a covid nesta faixa etária iniciou há pouco tempo e também precisa de uma vigilância rígida dos efeitos adversos, ressalta Mônica. Mas, agora, a Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (CTAI-Covid) também está começando a avaliar a liberação da aplicação simultânea com outras vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI) neste público, conforme a especialista.
Ao apontar a necessidade do intervalo de 15 dias para as crianças, o texto do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 aponta que a “orientação é temporária e foi pautada em medidas de famarcovigilância uma vez que a utilização de vacinas covid em crianças no Brasil é recente”.
Na visão da diretora da SBIm, a decisão de fazer uma vigilância rígida da vacina isolada foi muito correta, assim como a liberação da aplicação simultânea após uma experiência maior.
— Provavelmente é isso que vai acontecer logo mais com as crianças, que estão com coberturas vacinais muito baixas. Obviamente, o intervalo é um dificultador, pois não se pode aproveitar que a criança já está no posto para aplicar as vacinas que ela ainda não tomou. Tudo isso está sendo ponderado, conversado e é provável que a recomendação de 15 dias para as crianças deixe de existir também — projeta Mônica.