O índice de avaliação negativa que os brasileiros fazem da própria saúde disparou na pandemia. Entre o período anterior à crise sanitária do coronavírus e o primeiro trimestre de 2022, o relato de que a condição está “ruim” ou “muito ruim” aumentou 91,8%. Este é um dos resultados do Covitel — Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, divulgado nesta quarta-feira (27).
No total, 9 mil brasileiros de todo o país responderam a questões por telefone (fixo e celular) na pesquisa desenvolvida pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A iniciativa teve articulação e financiamento da associação civil sem fins lucrativos Umane, cofinanciamento do Instituto Ibirapitanga e apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
As perguntas tratavam de percepção geral de saúde, prática de atividade física, hábitos alimentares, saúde mental e prevalência de hipertensão arterial e diabetes, além de consumo de álcool e tabaco. O Covitel incluiu ainda questionamentos sobre a covid-19 e a vacinação. Consideraram-se informações a respeito de gênero, faixa etária, raça, escolaridade e situação de trabalho.
Queda de 12,5% no consumo de legumes e verduras e redução na prática de atividade física — 21,4% na proporção de praticantes que cumprem o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — também estão entre os achados. Chamaram a atenção dos pesquisadores, ainda, o crescimento no diagnóstico de depressão entre adultos e a estagnação nos indicadores de tabagismo, que vinham melhorando e tiveram tendência positiva interrompida, estagnando-se.
O relatório destaca que, no Brasil, cerca de 70% das mortes ocorrem por doenças crônicas não transmissíveis e suas complicações. Pedro Hallal, professor da Escola Superior de Educação Física da UFPel e um dos coordenadores do trabalho, ressalta o impacto de hábitos negativos, como inatividade física e dieta inadequada, neste cenário:
— A redução da prática de pelo menos 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana aconteceu ao mesmo tempo em que os hábitos alimentares pioraram, com a diminuição do consumo de verduras e legumes, por exemplo.
Hallal menciona o único destaque positivo constatado com relação à alimentação: a redução do consumo de refrigerantes e sucos artificiais caiu 25,4%.
Indicadores relativos a hipertensão e diabetes não demonstraram aumento estatístico significativo. Em vez de uma boa notícia, os dados podem significar que essa estabilidade está relacionada ao menor acesso a serviços e diagnósticos médicos durante o isolamento social.