Com cinco mortes por coronavírus registradas neste domingo (10), o Rio Grande do Sul observou um novo recuo de 29% na média de notificações ao longo de sete dias em comparação a duas semanas atrás.
O comportamento recente da pandemia no Estado confirma outra tendência: a disparada na proporção de idosos entre os mortos pela covid-19, especialmente aqueles de 80 anos ou mais. O percentual de vítimas nessa faixa etária praticamente dobrou desde o final do ano passado — de pouco mais de 20%, entre novembro e dezembro, chegou a 44% no começo deste mês, conforme o Boletim Diário de Casos produzido pelo Comitê de Dados.
Em números absolutos de vítimas, também há um aumento na comparação com o final do ano passado. Morreram 217 idosos nessa faixa etária em março deste ano, contra 122 em novembro de 2021, antes da onda provocada pela variante Ômicron, quando representaram 20,8% das notificações. Em dezembro, em um momento de baixa da pandemia, somaram 60 vítimas e 23,7% de todas as notificações oficiais.
Para o virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki, o fenômeno não é exclusivo dos gaúchos e aponta um caminho a ser seguido pelas políticas nacionais de saúde pública.
— Esse é um fator típico desta fase da pandemia, já observado também em outros países. Os idosos, em especial aqueles acima de 80 anos, à medida que se distanciam da última dose de reforço (da vacina) recebida, são um grupo muito suscetível ao vírus. Daí a importância das estratégias de se reforçar prioritariamente o calendário vacinal nessa faixa etária — sustenta Spilki.
Quando a população mais jovem ainda estava pouco vacinada em comparação aos mais velhos, que receberam as doses de imunizante em primeiro lugar, representavam uma proporção mais elevada entre os mortos. Com o avanço da campanha de imunização até as crianças, os idosos voltaram a figurar como vítimas preferenciais. E, à medida que passa o tempo desde a última aplicação recebida, o risco aumenta.
Em março, o Estado determinou a oferta de uma segunda dose de reforço para quem tem 80 anos ou mais, ou cerca de 326 mil pessoas. Em nota divulgada quando anunciou a medida, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) sustentou que "o monitoramento dos casos e óbitos (...) aponta para o aumento da incidência na faixa etária acima de 80 anos de idade, o que demonstra uma tendência de perda de proteção em idosos adequadamente vacinados após alguns meses. Alguns estudos têm demonstrado a redução da efetividade das vacinas contra o coronavírus a partir de três a quatro meses de sua aplicação e, de maneira mais pronunciada, após cinco meses. A redução da efetividade das plataformas vacinais em idosos pode ser explicada, em parte, pelo envelhecimento natural do sistema imunológico".
Ainda conforme a SES, um idoso com aplicação de dose de reforço tem 17 vezes menos risco de morrer em razão da pandemia em comparação a outra pessoa da mesma idade sem nenhuma proteção vacinal. O painel estadual aponta 75% da população octagenária ou acima disso com aplicação de reforço, e 2% com a nova dose adicional.
Levando-se em conta todas as idades, a média diária de mortos por covid (calculada com base nos sete dias anteriores) caiu de 14,7 duas semanas atrás para 10,4 neste domingo. Todas as cinco notificações registradas na mais recente atualização eram idosos – três delas envolvendo pessoas com mais de oito décadas de vida.
Percentual de idosos com 80 anos ou mais entre as vítimas de covid
Novembro/21
- Proporção: 20,8%
- Vítimas: 122
Dezembro/21
- Proporção: 23,7%
- Vítimas: 60
Janeiro/22
- Proporção: 37,7%
- Vítimas: 246
Fevereiro/22
- Proporção: 41,4%
- Vítimas: 574
Março/22
- Proporção: 37,4%
- Vítimas: 217
Abril/22 (dados parciais)
- Proporção: 44%
- Vítimas: 22
Fonte: Boletim Diário de Casos (10/4)