Uma metodologia para simplificar e baratear o custo de testes para detecção do coronavírus colocou a farmacêutica porto-alegrense Andreza Francisco Martins, 45 anos, entre as vencedoras do prêmio 25 Mulheres na Ciência: América Latina, promovido pela multinacional 3M. A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre é a única representante da região sul do Brasil e uma das seis do país a receberem a distinção neste ano.
O projeto, que obteve recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs), prevê um processamento mais rápido, em comparação com o exame do tipo RT-PCR, das amostras de secreção coletadas do nariz e da garganta dos pacientes. Utiliza-se o equipamento chamado MALDI-TOF, onde o material tem suas moléculas fragmentadas por laser. A observação de características como tamanho (massa) e carga elétrica das moléculas permite identificar diferentes proteínas, entre elas a Spike, do coronavírus (sars-cov-2).
— Se a Spike está ali, significa que o coronavírus está ali — explica Andreza.
O tempo total para processar e analisar as amostras é de cerca de 35 minutos, enquanto, no caso do RT-PCR, mesmo que totalmente automatizado, leva de cinco a seis horas.
— O RT-PCR tem etapas mais complexas. Agora, até conseguimos fazê-las no robô, automatizadas, mas, no início da pandemia, era tudo manual. Não havia laboratório preparado, gente, equipamento — constata a professora.
Com a imensa demanda provocada pela pandemia, vieram a escassez e a forte alta dos preços dos insumos necessários para os testes, muitos deles importados. E aí está outra vantagem do método premiado: a possibilidade de utilizar produtos nacionais, de valor mais acessível.
— A maior parte do diagnóstico de doenças virais, atualmente, é molecular (com teste do tipo RT-PCR). Alguns insumos, além de terem o preço triplicado, não tínhamos de onde comprar. Demoramos até 60 dias para receber materiais comuns — recorda a cientista. — Com a metodologia baseada no MALDI-TOF, necessitamos de poucos insumos, muito simples e mais baratos. Apenas um é importado, e o resto já temos no laboratório. O preço é incomparável — destaca.
O custo da técnica inovadora, por teste, fica em torno de R$ 20 para o laboratório, enquanto para o RT-PCR pode chegar a R$ 150.
— Do ponto de vista de saúde pública, em um país que tem uma demanda muito grande, é necessário que o sistema de saúde tenha oferta de exames bons e com custo menor. No meio de uma pandemia, precisamos ofertar as coisas para as pessoas. O governo gastou milhões, e nunca tivemos a quantidade de testes de que precisávamos. Ter um outro método mais barato é muito importante — avalia Andreza.
O reconhecimento internacional deixou a pesquisadora honrada, e a visibilidade é fator essencial para as próximas etapas.
— Nessa área, não ganhamos nada a mais, do ponto de vista financeiro, por desenvolver um método novo, fazer uma pesquisa mais de ponta. Mas o reconhecimento, a divulgação do trabalho, as possibilidades que podem surgir são muito importantes para a nossa carreira. Acho importante mostrar que as mulheres podem fazer pesquisa de ponta.
O método também pode ser aplicado para o diagnóstico de outras doenças virais, como gripe, dengue e chikungunya. A etapa de aquisição dos dados está concluída, faltando analisar os resultados para validar o procedimento. A expectativa de Andreza é concluir essa fase ainda neste ano, com disponibilização das informações para a população e publicação em um periódico científico. Na sequência, será o momento de firmar parcerias.
— Aí dependemos do interesse para comercialização, do interesse do governo de colocar isso no SUS (Sistema Único de Saúde)— diz Andreza.