Reflexo da explosão sem precedentes de casos de covid-19 em função da variante Ômicron, o Rio Grande do Sul contabiliza, ao longo deste mês de fevereiro, os números mais elevados de óbitos pela doença desde julho do ano passado. Considerando os dados registrados até esta sexta-feira (25), o Estado já tem em fevereiro 1.327 mortes por covid-19. Apenas nos últimos sete dias (entre 19 e 25 de fevereiro), foram 354 óbitos.
Nesta sexta-feira, foram incluídos 61 óbitos pela doença em um intervalo de 24 horas. Com essa atualização, está em 50,6 a média móvel diária de mortes por covid-19 no Estado.
— Os números atuais de óbitos já eram esperados, dado o número de casos que tivemos nas semanas anteriores. E a gente deve permanecer nesse patamar de cerca de 300 óbitos por semana no Estado até depois do Carnaval. Este é um patamar baixo de mortes perto do que já tivemos (nos piores momentos), mas ainda é muito, muito alto. A pandemia não terminou, o que terminou é a nossa paciência, a nossa resiliência de tomar algumas medidas — avalia Suzi Camey, professora de Estatística e Epidemiologia da UFRGS, e integrante do comitê de dados do governo do Estado.
O cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, diz que é possível identificar um movimento de “fim social” da pandemia, em que um número crescente de pessoas passa a desconsiderar a realidade de contágio e mortes. Isso se deve, na avaliação de Isaac, ao fato de que, individualmente, um grande número de pessoas está mais protegida por conta da vacina, ainda que coletivamente o risco continue elevado.
— O vírus está aí. O status de pandemia segue. A covid hoje é a maior causa de mortes de todas do Brasil. E, por outro lado, temos o fim social da pandemia. Uma espécie de normalização dessa realidade parece estar ocorrendo. A gente está aceitando o inaceitável. Por que agora parece mais fácil conviver com a doença? Porque, o que a gente fez, ao distribuir a vacina, foi reduzir o risco individual. A pessoa sem comorbidades, que não é idosa, e que está com as três doses realmente tem uma chance muito menor de morrer do que antes. Mas o risco coletivo ainda é alto: basta ver os os 61 mortos hoje no Rio Grande do Sul — avalia Schrarstzhaupt.
Depois de o Estado atingir o pico de contágio da Ômicron no fim de janeiro, a curva de novos casos vem caindo. As curvas de internações hospitalares por covid também registram queda nas últimas semanas. As mortes, contudo, ainda estão em um platô, oscilando em patamar elevado. Isso se deve ao fato de que o indicador de mortes é o último a refletir mudanças de comportamento da pandemia. Assim, as mortes que estão sendo registradas agora têm relação com pessoas que se contaminaram semanas atrás. Por essa razão, esse indicador é classificado por estudiosos como “tardio”.
A professora de Estatística e Epidemiologia da UFRGS lembra que ainda levará algumas semanas, caso a situação siga melhorando, para que o Estado volte a indicadores considerados mais positivos, nos patamares do que foi registrado em dezembro.
— Estimo que no início de abril a gente deve voltar a registrar patamares próximos de dezembro, se tudo continuar na velocidade atual. É bastante tempo pela frente ainda. Essa queda de hospitalizações e mortes é lenta — diz Suzi.
Os especialistas ouvidos por GZH reforçam que, graças ao efeito positivo da vacinação, o Rio Grande do Sul vem batendo recordes de contaminação sem registrar recordes de mortes. A média móvel diária de mortes atual (50,6) é seis vezes menor do que no pior momento da pandemia no Estado, entre março e abril de 2021.
— Durante a Ômicron estamos vivendo em uma espécie de cabo de guerra: de um lado, temos a alta mobilidade das pessoas, que amplia muito a transmissão do vírus, e de outro temos a vacina, que reduz muito as mortes. Então, a gente está deixando os casos chegarem em números gigantes, mas também estamos freando as mortes com a vacina. Seria muito, muito pior sem a vacina — destaca Schrarstzhaupt.
Na terça-feira (25), o gabinete de crise do governo do Estado decidiu manter todas as regiões do Rio Grande do Sul por mais duas semanas em alerta — nível mais alto de risco do sistema 3As de gestão da pandemia. Ao anunciar a medida, o governo lembrou que, por conta do Carnaval, o Estado deve registrar grande atraso na inclusão de dados, hospitalizações e óbitos, o que pode levar a queda artificial dos indicadores.