O crescimento vertiginoso do contágio por covid-19 registrado nas últimas semanas faz o Rio Grande do Sul atingir, nesta sexta-feira (14), o ponto mais alto da curva, desde o início da pandemia, em relação ao número de novos casos. Nesta sexta-feira, o Estado registrou mais 14.345 novos casos em 24 horas, fazendo a média móvel diária superar o pico anterior.
Com a atualização de dados desta sexta, subiu para 8.783 a média móvel de casos de covid-19 no Estado. O pico anterior, de 7.727, havia sido registrado em março de 2021.
Em julho de 2021, conforme mostra o gráfico abaixo, a curva de novos casos chegou a dar um salto pontual, mas o movimento foi antecipado pelas autoridades de saúde e se tratava da inclusão retroativa de dados antigos. Já a subida vertiginosa atual é reflexo de novos casos.
O número de novos casos ainda tende a se agravar, antes de arrefecer. É o cenário que desenham especialistas, com base no comportamento da variante Ômicron nos países pelos quais ela passou nos últimos meses.
— A gente viu nos outros países: foi uma onda mais rápida, mas muito forte. Levou, mais ou menos, umas cinco semanas de subida. Aqui no Brasil a gente está muito dirigindo em uma neblina, por causa da subnotificação de casos. Mas, olhando para o que aconteceu nos outros países, ainda tem subida pela frente antes de começar a descer. A gente, aqui no Rio Grande do Sul, está por volta da segunda semana — diz Lucia Pellanda, epidemiologista e reitora da UFCSPA.
O coordenador do GT Saúde do gabinete de crise do governo do Estado, Pedro Zuanazzi, concorda que os dados não sugerem, ainda, um horizonte de redução de casos.
— Estamos crescendo à taxa geométrica (de casos). Toda a expectativa é de que os casos sigam aumentando. Isso porque, antes de começar a cair, primeiro é preciso ver desaceleração e estabilização. E, pelo contrário, ainda estamos na fase de aceleração — diz Zuanazzi.
Internações sobem, mas em patamar baixo
A explosão atual de casos tem sido percebida em hospitais, especialmente nos leitos clínicos (também chamados de leitos de enfermaria). O total de pacientes com confirmação da doença hospitalizados nesses espaços teve um aumento de 212,7% – passando de 149 para 466 em duas semanas, considerando os dados parciais desta sexta-feira.
Apesar do aumento, o Estado segue com números relativos a internações por covid-19 melhores do que nas três ondas anteriores da pandemia. A título de comparação, no momento mais grave, em março, havia 5.435 pessoas nessa situação.
A epidemiologista Lucia Pellanda reforça que o principal freio nas internações vem da cobertura vacinal. Também há indicativos de que a variante Ômicron possa ser menos agressiva do que as anteriores. A epidemiologista destaca que, mesmo neste cenário em que uma parcela menor de pessoas tem a doença agravada, o risco existe por conta do alto índice de contaminados.
— É um cenário de preocupação porque a gente tem casos aumentando muito e internações que começam a subir. Em outros lugares a gente viu isso, especialmente as internações de pessoas não vacinadas. A minha preocupação é se vamos conseguir dar conta. Em uma conta simples, digamos que a Ômicron fosse dez vezes menos grave, mas dez vezes mais gente pegasse essa variante: vai dar na mesma em termos de sobrecarga nos hospitais. Em resumo, é um cenário em que temos que ficar atentos — afirma Lucia.
Como nas ondas anteriores da pandemia, a primeira curva a subir é sempre a de casos confirmados. Dias depois, sobem os números de internados em leitos clínicos. Como parte desses pacientes apresenta agravamento da doença, em mais alguns dias há aumento na curva de pessoas com covid-19 em UTIs. No Rio Grande do Sul, o indicador de internados em UTIs aumentou 26,1% nas últimas duas semanas.
Além da vacinação, que reduz as chances de agravamento da doença, especialistas reforçam o tripé para evitar o contágio: priorizar ambientes com ventilação natural, evitar aglomerações e utilizar máscaras de qualidade.