O Ministério da Saúde abriu conversas com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que seja liberado, no Brasil, a realização do autoteste para covid-19. Com isso, a população poderia comprar o exame e fazer em casa – atualmente, a venda desta modalidade é proibida no país.
A pasta deve formalizar o pedido para a agência reguladora até o final desta semana. A mudança é avaliada devido ao aumento no número de casos da doença registrado por conta do avanço da variante Ômicron, mais transmissível.
A busca por testagem tem aumentado consideravelmente após as festas de fim de ano, provocando filas em postos de saúde em todo o país. O Ministério da Saúde decidiu reforçar a distribuição de testes e a previsão é de que estados e municípios recebam, até o fim do mês, 28,2 milhões de kits para diagnóstico – 13 milhões já serão enviados pelo governo federal nas próximas duas semanas.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, enfatiza que o autoteste em casa pode ajudar mais gente a testar, mas que ele não tem a mesma eficácia do diagnóstico feito por profissionais de saúde.
— A mensagem é que o autoteste é uma ferramenta de apoio e não substitui o diagnóstico do profissional de saúde. A pessoa deve fazer o teste e, caso esteja com sintomas, deve ir ao posto de saúde ou hospital se certificar do diagnóstico — afirmou Cruz.
Na última sexta-feira (7), a Anvisa esclareceu que as regras atuais só permitem o registro de autoteste de doenças como a covid-19 caso haja uma política de saúde pública e uma estratégia elaborada pelo Ministério da Saúde. O autoteste já é utilizado em outros países para agilizar o diagnóstico e a notificação compulsória da doença.
Atualmente, os testes para covid-19 são realizados no Brasil em unidades de saúde de forma gratuita ou em farmácias e laboratórios da rede privada. No Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde tem priorizado o teste rápido de antígeno, que usa o cotonete para a coleta da amostra, mas o resultado sai em até 30 minutos, mais rapidamente que o RT-PCR, considerado o “padrão-ouro” da testagem.
Especialistas defendem autoteste
Lauro Ferreira Pinto Neto, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Escola de Medicina da Santa Casa de Vitória, concorda que o autoteste de covid-19 seria uma ferramenta a mais diante do atual cenário nacional e própria preocupação da população com diagnóstico da doença.
— A pandemia mudou um pouco a cultura do cidadão, pois ele quer saber o que ele tem. Existe preocupação com os riscos provocados pela doença respiratória aguda. Seja na rede pública ou privada, se tem covid-19 ou gripe, por exemplo. Qualquer ferramenta de diagnóstico confiável é favorável — acredita.
Na opinião do especialista, seria ideal ter uma maior rotina de diagnósticos de doenças respiratórias.
— Os autotestes e também a maior disponibilidade de testes em redes públicas e privadas facilitariam o tratamento do paciente e evitariam uso desnecessário de remédios, que acabou se agravando durante a pandemia — disse.
O presidente executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), Carlos Eduardo Gouvêa, também cobrou a medida na última semana:
— Já há um consenso da importância crescente de novas ferramentas, ficando agora a cargo da Anvisa prosseguir com a mesma celeridade que adotou no início da pandemia, para uma avaliação que autorize o processo de registro destes produtos. É fundamental ainda que o Ministério da Saúde apoie esta medida, até para que a discussão seja bem completa e ágil.