Ao longo de toda a pandemia, com auge durante a pior onda, entre fevereiro e abril, prefeitura e hospitais de Porto Alegre criaram 556 novas vagas gratuitas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e 705 novos leitos clínicos, destinados a casos de menor gravidade. Para o futuro, ficarão de legado ao menos 85 vagas intensivas e 213 leitos de enfermaria para atendimento a outras doenças.
Nem todas as vagas ficarão de "herança" porque foram fechadas – após chegar a 1.168 leitos de UTI, agora, Porto Alegre conta com cerca de 850 disponíveis. Os leitos desapareceram porque estavam improvisados em locais excepcionais, como blocos cirúrgicos (cirurgias foram canceladas durante a pior época da covid-19, por exemplo), salas de recuperação e salas de Emergência.
— Trinta leitos de UTI geral serão disponibilizados ao longo de 2022 no Clínicas. Mas temos o compromisso de ser uma retaguarda mais robusta contra a covid. Os contratos temporários de recursos humanos disponibilizados se encerram em 31 de maio, então perderemos uma capacidade operacional. A pandemia não acabou, não gostaríamos de disparar novas contingências, mas isso depende de as pessoas usarem máscaras e se vacinarem — afirma o diretor-médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Brasil Silva Neto.
Uma das maiores expansões foi no Hospital Vila Nova. A instituição informou, por meio de nota, que abriu 120 leitos clínicos na pandemia. Em dezembro, 90 deles já estavam em uso para atendimento a outras doenças, e 30 seguiam destinados à covid-19. Porém, esses últimos também passaram a atender outras enfermidades em 1º de janeiro.
Em hospitais privados ou filantrópicos, há menos leitos como "legado" porque as instituições fecharam as vagas com a menor demanda após o aumento da vacinação. A Santa Casa de Misericórdia informou que já retornou ao patamar pré-covid, mas contratou 48 médicos e entre 200 e 300 profissionais técnicos, dos quais 70% seguirão empregados.
O Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) também voltou ao normal nas UTIs - ainda assim, quatro leitos clínicos novos ficarão para a cidade.
— Nossa relação com convênios não é por contratação de leitos. O hospital ajusta a demanda. Quando ele tem mais procura, a tendência é aumentar o número de leitos. Quando há menor demanda, vai manter o número de leitos estável ou reduzir. O que ficou é o aprendizado: como o sistema pode se adequar para lidar com uma crise, que foi muito intensa. Se criou uma rede de colaboração entre hospitais, e isso certamente fica como legado — diz o diretor-técnico do São Lucas, Saulo Bornhorst.
O Hospital Moinhos de Vento chegou a dobrar o número de leitos de UTI, passando para 106 vagas. Hoje, fechou os leitos improvisados e mantém 76 vagas – 20 ficaram de “herança”.
— Quando diminuiu a covid, aumentou o número de pacientes que não fizeram diagnósticos e cirurgias durante a pandemia. Mas, no projeto de expansão do hospital, o planejamento é manter 76 leitos de UTI — diz Juçara Gasparetto Maccari, gerente-médica do Hospital Moinhos de Vento.
Os 60 leitos clínicos do anexo do Hospital Independência, financiado com doações de Zaffari, Gerdau e Ipiranga, serão transformados em 34 vagas para atendimentos focados em traumatologia e ortopedia, conforme o diretor-técnico da instituição, Angelo Giugliani Chaves.
— A Vigilância Sanitária informou que, para a conversão em vagas para traumatologia e ortopedia, será preciso aumentar o espaçamento. Esses 34 leitos serão do SUS, de herança para a cidade. Vamos contratar mais dois médicos, aumentar em 20% o número de consultas e também realizar mais cirurgias na área — diz Chaves.
No Hospital Conceição, em março deste ano, uma obra permitiu que fossem inaugurados 55 leitos clínicos que ficarão de legado para Porto Alegre, diz Cláudio Oliveira, diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição:
— Temos uma unidade cujas obras começaram em fevereiro de 2020 e que foram entregues em março de 2021: 55 leitos clínicos, o nosso quarto B1. Se houver aumento (das internações por covid-19) entre janeiro e fevereiro, estaremos preparados — afirma Oliveira.
No Hospital Beneficência Portuguesa, 15 leitos de UTI foram criados e pagos pela prefeitura, via recursos do SUS. As vagas ficaram para atendimento por convênio, mas podem voltar ao sistema público se a Secretaria Municipal da Saúde assim o desejar, diz o diretor-médico da instituição, Rafael França.