Febre, tosse, náusea ou diarreia. Todos sintomas já relatados em casos de infecção por coronavírus, mas a ordem de aparecimento deles pode variar de acordo com a variante do sars-cov-2 que gerou a doença. A conclusão é de um estudo feito por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia e publicado no jornal científico PLOS Computational Biology.
Os pesquisadores desenvolveram um modelo matemático que previa a ordem de surgimento dos sintomas com base nas informações do surto inicial na China. No estudo publicado agora, esse mesmo modelo foi aplicado em dados de 373.883 casos nos Estados Unidos, coletados de 22 de janeiro a 30 de maio de 2020. O resultado foi que a ordem de sintomas mais provável diferiu entre o surto inicial na China e a propagação subsequente nos Estados Unidos. Entre os chineses, o sintoma primário foi febre em 76,9% dos pacientes. Já entre norte-americanos, 47,5% das pessoas tiveram tosse primeiramente.
Os sintomas sequentes da China, conforme a análise do conjunto de dados, foram tosse e náusea/vômito, respectivamente. Para o conjunto de dados dos EUA, febre e diarreia elencaram como segundo e terceiro lugar.
Segundo os especialistas, a ordem desses sintomas está associada às variantes. A população chinesa foi afetada pela cepa original do vírus, que apareceu em Wuhan no final de 2019. Já o conjunto de dados dos Estados Unidos consiste em aproximadamente 70% dos casos de variantes "D614G", uma mutação que está na origem de variantes como a Delta, por exemplo.
Para validar essa diferença observada na provável ordem dos sintomas, os pesquisadores ainda analisaram dados de Hong Kong e do Brasil. O momento da coleta de dados em Hong Kong foi durante um período em que a cepa de referência Wuhan dominava a região, enquanto a variante D614G era predominante no Brasil na época do estudo.
Semelhante aos resultados na China e nos EUA, respectivamente, a modelagem previu que os pacientes sintomáticos em Hong Kong são muito propensos a sentir febre e tosse, enquanto os pacientes sintomáticos no estudo no Brasil são apenas ligeiramente mais propensos a primeiro sentir tosse e depois febre.
Em 2020, acredita-se que a D614G foi a forma viral mais infecciosa do mundo.
— Essas descobertas indicam que a ordem dos sintomas pode mudar com a mutação na doença viral e aumenta a possibilidade de que a variante D614G seja mais transmissível porque as pessoas infectadas têm maior probabilidade de tossir em público antes de ficarem incapacitadas pela febre — afirmaram os responsáveis pela pesquisa.