Anunciada pelo Ministério da Saúde, mas ainda não distribuída a Estados e municípios, a dose de reforço da vacina contra a covid-19 da Janssen tem gerado ansiedade em quem recebeu o imunizante, até então de aplicação única, em meados deste ano. A demora para liberação das novas remessas, que estão sob análise do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, abre espaço para dúvidas, desinformação e até desrespeito a orientações oficiais.
GZH teve conhecimento de dois casos ocorridos em Porto Alegre em que pessoas que ganharam o imunizante da Janssen, ao chegarem a postos de saúde para acompanhar a vacinação de familiares, acabaram recebendo, em unidades diferentes, uma dose de Pfizer para completar o esquema vacinal — por oferta espontânea de um vacinador ou após o usuário questionar sobre previsão de chegada de lotes da Janssen.
De acordo com o governo federal, a segunda dose ou dose de reforço da Janssen deve ser feita com o mesmo imunizante (vacinação homóloga), com intervalo mínimo de dois meses que poderá ser estendido para até seis meses. Essa decisão veio na sequência de divulgação inicial confusa, feita dias antes, quando o ministro Marcelo Queiroga deu a entender que seriam necessárias três injeções (duas de Janssen e uma de Pfizer) para completar o esquema vacinal específico de quem recebeu primeiro a vacina produzida pelo setor farmacêutico da Johnson & Johnson.
Após o relato dos casos pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que os profissionais de saúde envolvidos na campanha de vacinação não foram orientados a proceder dessa forma e que a população deve aguardar para completar a vacinação.
“Em virtude da falta de doses de Janssen no município, não está autorizada a aplicação da dose de reforço em pessoas vacinadas com a primeira dose do imunizante nos pontos de vacinação da Capital. Após o relato do ocorrido, a SMS irá reforçar esta orientação para as equipes”, diz a nota.
À Secretaria Estadual da Saúde (SES), GZH questionou se, em algum momento, a pasta orientou um esquema provisório de Janssen seguida de Pfizer. A assessoria de imprensa se limitou a responder, por e-mail, que “o Estado segue recomendação do Ministério da Saúde de que a dose de reforço/segunda dose seja com a mesma vacina”. No Rio Grande do Sul, mais de 300 mil pessoas receberam a Janssen.
Nesta semana, a cidade de São Paulo começou a aplicar doses de Pfizer em quem recebeu Janssen devido à demora do governo federal em enviar novos carregamentos do imunizante da Johnson & Johnson e também por conta da identificação da variante Ômicron na África — que já está no Brasil.
Estudo sobre combinação está em andamento
O infectologista Eduardo Sprinz, membro da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI) e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), explica que, entre as vacinas disponíveis no Brasil neste momento, as que mais se assemelham são Janssen e AstraZeneca, pois ambas utilizam um vetor viral para estimular a defesa contra o coronavírus. Diante disso, afirma que já se sabe que o reforço com Pfizer em quem já recebeu doses de AstraZeneca é benéfico e seguro:
— O princípio é rigorosamente o mesmo, partindo da premissa que quem utilizou a vacina da Janssen, que era dita como dose única, também necessita de um reforço.
De acordo com o especialista, um estudo sobre a combinação de Janssen com Pfizer está sendo feito e, assim, será possível saber qual o impacto do reforço em quem recebeu a vacina produzida pelo setor farmacêutico da Johnson & Johnson. No momento, entretanto, não há conhecimento sobre esses resultados.
Mesmo assim, Sprinz destaca que o que se sabe é que as pessoas que receberam Janssen precisam de reforço e que tomar duas doses é melhor do que uma, assim como três aplicações são mais protetoras do que duas. E isso se aplica a qualquer uma das vacinas disponíveis no Brasil, especialmente quando se considera as variantes do vírus, reforça.
— A intercambialidade das vacinas disponíveis no Brasil é segura e é melhor do que se não houver essa combinação. Então, qualquer dose de reforço será melhor. O benefício ultrapassa totalmente qualquer risco — conclui.