Um convênio entre pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a prefeitura de Curitiba pretende vacinar cerca de 80 animais selvagens do Zoológico Municipal e do Passeio Público da cidade contra a covid-19. As doses do imunizante da farmacêutica Zoetis podem ser aplicadas ainda em dezembro.
Os animais pertencem a grupos considerados mais suscetíveis à infecção por Sars-CoV-2, como felídeos (onça-pintada, leão e tigre, por exemplo), primatas (macacos) e mustelídeos (como lontras, texugos e furões).
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já autorizou o uso experimental da vacina da Zoetis nos animais, e as doses já estão sendo aplicadas naquele país. Nesta semana, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou a importação do imunizante para o Brasil para esta finalidade.
Desde o começo da pandemia, várias entidades realizam estudos com animais domésticos, selvagens e exóticos com o objetivo de monitorar a infecção por coronavírus. A pesquisa do Projeto PetCovid-19 identificou que cerca de 15% dos animais que tiveram contato próximo com tutores que testaram positivo para o coronavírus acabaram também sendo infectados. Apesar dos resultados, foi descartada a transmissão de animal para ser humano.
O projeto que iniciará em Curitiba poderá ser utilizado pelo Mapa para uma possível vacinação em massa dos animais mais suscetíveis que habitam instituições de pesquisa, reservas, santuários e zoológicos.
Os animais do Zoológico Municipal e do Passeio Público de Curitiba que já vinham sendo monitorados deverão ter seu comportamento molecular e sorológico avaliados após a aplicação da vacina.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba informou que a aplicação de doses nos animais não afetará a vacinação regular dos seres humanos, que é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde.
Ainda não há pesquisas que comprovem a morte de cães, gatos e outros animais domésticos por coronavírus no Brasil e há poucos registros em outros países. Por este motivo, pesquisadores recomendam que estes animais não devam ser priorizados nas primeiras remessas de imunizantes.
Já no caso dos animais selvagens, como leopardos, foram registradas mortes decorrentes da Sars-CoV-2. Nos Estados Unidos e em países europeus foi comprovado que ratos selvagens e visons tornaram-se reservatório do vírus, o que significa que podem transmitir para seres humanos, alertaram os pesquisadores brasileiros.
De acordo com a literatura médica, os primatas não humanos, felinos e mustelídeos estão entre os animais mais sensíveis ao coronavírus.
— Com a transição da pandemia de covid-19 para uma endemia, animais não vacinados estão expostos ao contato com visitantes e funcionários. Por isso, acreditamos que haja risco permanente de infecção em animais selvagens nativos e exóticos, particularmente lontras, ariranhas, furões e doninhas da fauna nativa brasileira — explicou Alexander Biondo, coordenador do PetCovid-19 e professor de Medicina Veterinária da UFPR.
Farmacêutica Zoetis
A farmacêutica Zoetis será a responsável por distribuir doses de vacinas contra a covid-19 para aplicação em animais. A empresa começou a trabalhar nos imunizantes logo após o primeiro relato de infecção por SARS-CoV-2 em um cão, em Hong Kong, no ano passado.
O imunizante foi produzido para ser utilizado exclusivamente em animais, embora o antígeno presente seja o mesmo utilizado em vacinas aplicadas em seres humanos. A diferença está no adjuvante adicionado — substância utilizada para potencializar a resposta imunológica ao antígeno.
Nos Estados Unidos, desde julho deste ano, mais de cem espécies já foram imunizadas com a autorização do Departamento de Agricultura do país.