Criticado pela demora para comprar vacinas contra covid-19 no ano passado, o Ministério da Saúde decidiu se antecipar e negocia com a Pfizer para adquirir 40 milhões de doses para imunizar crianças de cinco a 11 anos. As conversas com a farmacêutica norte-america, em estágio avançado, acontecem antes mesmo de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso do produto nesta faixa etária. A entrega dos imunizantes, porém, está condicionada ao aval do órgão.
Nesta sexta-feira (12), a Pfizer protocolou na Anvisa o pedido para o uso da vacina em crianças, que já foi autorizado nos Estados Unidos. A agência tem prazo de um mês para analisar o pedido. Nas próximas semanas, o governo deve fechar com o laboratório um contrato para entrega de 100 milhões de novos imunizantes, que começaria em janeiro.
A ideia é incluir nesse contrato uma previsão de que, caso a agência brasileira dê o aval para o uso da vacina em crianças, os primeiros 40 milhões de imunizantes sejam específicos para esse grupo etário. A entrega poderia, inclusive, ser adiantada para dezembro, caso a Anvisa avalie o assunto até lá.
Essa distinção na contratação é necessária porque a dosagem da vacina aplicada em crianças de cinco a 11 anos é diferente da destinada a pessoas acima dessa idade, tem dosagem menor. As 40 milhões de unidades são suficientes para vacinar com duas doses todas as crianças brasileiras nesta faixa etária, segundo o Ministério da Saúde.
Integrantes da pasta justificam a negociação antecipada como uma forma de se preparar para, assim que a agência autorizar, o Brasil tenha as vacinas para crianças. Uma das principais acusações da CPI da Covid no Senado ao governo de Jair Bolsonaro foi justamente a negligência nas negociações de imunizantes.
Ainda na gestão do general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, o governo brasileiro ignorou dezenas de tentativas de contato da Pfizer, o que contribuiu para o atraso na vacinação no País e o agravamento da pandemia.
Análise
A palavra final para o uso em crianças da vacina depende da Anvisa. Na terça-feira (9), a Pfizer já havia feito uma reunião de pré-submissão do pedido de indicação da vacina do laboratório para crianças. Segundo a agência, esse tipo de encontro é feito com laboratórios para apresentar os dados técnicos logo antes do envio formal do pedido de autorização.
— De acordo com o laboratório, a dose da vacina para as crianças de 5 a 11 anos será ajustada e será menor que a dose para maiores de 12 anos, porque há uma nova formulação desenvolvida pela empresa — informou a Anvisa.
Nos EUA, a Agência de Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) deu o aval para o uso da vacina da Pfizer em crianças, que já começou a ser aplicada. Serão realizadas duas doses com três semanas de intervalo. A quantidade do imunizante foi ajustada para um terço por injeção em comparação com a aplicada em adultos e adolescentes.
Ameaças
Em outubro, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar ameaças de morte enviadas aos diretores da Anvisa em razão de eventual aprovação das vacinas contra a covid-19 para crianças. Um homem do Paraná enviou e-mails para integrantes da agência e instituições escolares no Estado com ameaças e outras mensagens sem identificação também foram recebidas.
A Anvisa já sinalizou que a avaliação do uso de vacinas na população pediátrica será rigorosa. Em agosto, a agência negou autorização para a aplicação do imunizante Coronavac contra a covid-19 em crianças e adolescentes de três a 17 anos. O pedido havia sido feito pelo Instituto Butantan, produtor da vacina no Brasil.
A decisão alega que os dados apresentados pelo instituto não eram suficientes para comprovar a segurança da vacina no grupo pediátrico.
— Há que se lembrar que o sistema imunológico ainda está em fase de maturação nas crianças. Decorre daí todo um cuidado adicional, que nunca será pouco em relação a essa população — afirmou o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, em seu voto à época.
Pressão dos Estados
Na semana passada, a coordenadora do Programa Estadual de Imunização (PEI), Regiane de Paula, disse que representantes do governo de São Paulo e de outros Estados participaram de uma reunião com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), em que se observou "uma unanimidade de todos os Estados na necessidade de fazer a vacinação da população de cinco a 11 anos".