Apesar da importância dos investimentos em ciência e tecnologia ficar escancarada pela pandemia de coronavírus, até o momento o Brasil segue caminho oposto ao adotado por outros países ao longo dos últimos anos. Entre 2014 e 2018, os gastos mundiais nesses setores aumentaram 19% de acordo com um relatório divulgado neste ano pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Depois da pandemia, mesmo ainda sem dados consolidados, a aplicação global de recursos nessas áreas cresceu ainda mais.
Somente os Estados Unidos aumentaram em mais de 10 vezes o orçamento da Autoridade Biomédica de Pesquisa e Desenvolvimento Avançado em 2020 em relação ao ano anterior, superando a casa dos US$ 6,5 bilhões. Enquanto isso, o governo brasileiro anunciou recentemente o corte de mais de R$ 600 milhões do orçamento previsto para financiamento de pesquisas. O Planalto prometeu recuperar o nível de financiamento no próximo ano, mas esse aceno é visto com desconfiança pela comunidade científica habituada a sofrer contingenciamentos.
– No Brasil, a situação atual só mostra como está completamente errado o rumo que o governo está tomando, completamente alheio a essa revolução tecnológica que está ocorrendo no mundo – analisa Cristina Bonorino, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O Ranking Global de Competitividade de Talentos, que mede a capacidade de 134 países em disputar profissionais de alta qualificação, revela que o Brasil ocupa um modesto 75º lugar neste ano. Quando se analisa exclusivamente a capacidade de atrair pessoal altamente especializado, o cenário é ainda pior: o país figura na 106ª posição global (uma abaixo em comparação ao ano anterior), atrás de lugares como Nigéria, Nicarágua ou Tanzânia. O Iêmen é o último dessa lista específica, apenas 28 degraus abaixo do Brasil.
Em compensação, quando se analisa as condições para o desenvolvimento de novos talentos, o país sobe para o 49º posto. Ou seja, formam-se talentos que são exportados, e não se consegue atrair profissionais de excelência de outras nações pela falta de estímulos.
Para o virologista e pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Feevale, Fernando Spilki, além de ampliar recursos para o setor de ciência e tecnologia em vez de cortá-los, o país tem um longo trabalho de base a ser feito envolvendo até a percepção social dessas áreas:
– Precisamos que os gestores entendam a importância de viabilizar recursos, desenvolver ferramentas para enfrentar próximas pandemias, mas também de expandir a educação e a comunicação científica. Não é de graça que temos parte da população que não entende como se processa o fato científico, a construção do conhecimento. Temos de aprofundar o processo de educação científica ao longo da formação do indivíduo, desde a mais tenra idade.
O ranking de competitividade de talentos 2021
- 1º Suíça
- 2º Singapura
- 3º Estados Unidos
- 4º Dinamarca
- 5º Suécia
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- 74º Namíbia
- 75º Brasil
- 76º Turquia
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- 134º Chade
Fonte: relatório de 2021 elaborado por Instituto Portulans, Accenture e Insead