Um ensaio clínico publicado nesta quarta-feira (27) aponta que o antidepressivo fluvoxamina pode reduzir em até 32% as taxas as hospitalizações entre pacientes com covid-19 com perfis de maior risco. O fármaco é usado como antidepressivo e contra o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e só é vendido com receita controlada.
"A fluvoxamina, um medicamento que já existe e é de baixo custo, reduz a necessidade de cuidados avançados da doença em uma população de alto risco", concluíram os pesquisadores do publicado na Lancet Global Health, vinculada à revista referência Lancet.
Os autores do estudo – pesquisadores brasileiros e canadenses – realizaram os testes em 11 hospitais de Minas Gerais (veja lista abaixo) para estimar se o remédio permitiria evitar a hospitalização de pacientes com covid-19 que o receberam rapidamente após a detecção do vírus. Estudos anteriores já apontavam efeitos interessantes da fluvoxamina contra a covid-19, mas foram realizados com amostras pequenas e uma metodologia que oferecia conclusões incertas.
Nesse caso, a análise foi feita com 700 pacientes e igual número tratado com placebos, sem que os médicos soubessem realmente que tratamento estavam administrando. Todos apresentavam pelo menos um fator de risco: idade acima de 50 anos, tabagismo, diabetes, não estar vacinado, etc.
O ensaio clínico com a medicação começou em janeiro de 2021, período em que o número de mortes pela doença começava a subir vertiginosamente no país.
A pesquisa mediu quantos pacientes em cada grupo acabaram hospitalizados após 28 dias ou tiveram que passar mais de seis horas em um pronto-socorro. Encontraram-se em uma dessas situações 11% dos pacientes tratados com fluvoxamina, contra 16% do grupo do placebo. Não houve mortes em quem recebeu a medicação.
Apesar dos resultados serem considerados promissores, mais estudos e protocolos são necessários para definir, entre outros pontos, quem se pode se beneficiar do remédio, com qual dosagem e por quanto tempo de uso.
– Este estudo sugere claramente que a fluvoxamina é uma opção eficaz, segura, barata e bem tolerada para tratar pacientes com covid-19 não hospitalizados – disse o pesquisador Otavio Berwanger, não vinculado ao ensaio, em um comentário à revista.
Ao mesmo tempo, Berwanger assinala os limites do estudo, como o fato de não abordar o efeito do medicamento sobre os óbitos e suas conclusões sobre as internações serem fragilizadas por ter misturado dois critérios.
Os autores explicam que levaram em consideração a permanência nos serviços de emergência porque os hospitais brasileiros estavam saturados pela pandemia e às vezes não conseguiam atender os pacientes que precisavam.
Parceria com o Canadá
A pesquisa foi realizada em parceria com os pesquisadores Edward Mills, Lehana Thabane e Gordon Guyatt, da Universidade de McMaster, no Canadá. Juntos, eles formaram no ano passado a plataforma de pesquisa “Together” que vem testando vários medicamentos durante a pandemia, entre eles, a hidroxicloroquina e a ivermectina.
Cidades onde houve teste com fluvoxamina
- Sete Lagoas
- Ibirité
- Brumadinho
- Governador Valadares
- Montes Claros
- Nova Lima
- Santa Luzia
- Ouro Preto
- Belo Horizonte
- Betim
- Odilon Behrens