O Rio Grande do Sul recebeu, em agosto, a maior quantidade mensal de vacinas contra o coronavírus desde o início dos repasses federais, com um aumento de 22% em comparação a julho e um total superior a 2,7 milhões de doses entregues.
Apesar de ser o maior volume repassado em termos nominais, proporcionalmente essa carga de imunizantes representa uma diminuição na fatia proporcional que o Ministério da Saúde entrega aos gaúchos. O Estado, que costumava contar com cerca de 6% das doses distribuídas pelo país, agora fica com cerca de 4% (veja detalhes no gráfico abaixo).
Os dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) indicam que, ao longo de todo o mês passado, desembarcaram no Aeroporto Internacional Salgado Filho, na Capital, 2.775.900 unidades de vacina para distribuição a todos os municípios. Isso representa 22,4% a mais do que o volume recebido em julho.
Em termos proporcionais, porém, o Rio Grande do Sul vem perdendo participação nas remessas feitas pelo Ministério da Saúde desde abril, quando ficou com 7,7% das aplicações disponíveis em nível nacional. O fato de ter uma população mais idosa, faixa que estava sendo contemplada nas fases iniciais do processo de imunização, também favorecia os gaúchos naquele momento.
Desde então, esse percentual vem oscilando para baixo até ficar em cerca de 4% agora – isso quer dizer que, embora a quantidade de doses enviada ao Estado tenha aumentado, as cargas remetidas a outras regiões do país aumentaram ainda mais ao longo desse período.
No dia 26 de agosto, durante uma apresentação online, o governador Eduardo Leite já havia observado esse recuo a partir da remessa realizada em 20 de julho:
– Entre o que esperávamos e o que se efetivou, recebemos cerca de 500 mil doses a menos desde 20 de julho. Mesmo assim, contamos com o empenho das equipes de saúde dos municípios para que pudéssemos avançar – observou Leite.
O Ministério da Saúde alega que passou a priorizar Estados com índices mais baixos de imunização para “equiparar a cobertura vacinal” no Brasil. Os gaúchos estão acima da média nacional, com pelo menos 36,5% da população integralmente protegida, contra cerca de 29%.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), Juarez Cunha, que atua em Porto Alegre, reconhece que o governo federal precisa combater desequilíbrios no avanço da imunização entre as regiões. Mas observa que a redução proporcional dos envios para Estados como o Rio Grande do Sul, que reúne cerca de 5,4% da população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografica e Estatística (IBGE) para 2021, pode prejudicar a performance registrada até agora.
– Temos de pensar nos dois lados: avançar mais rápido em Estados que estão com desempenho bem abaixo, como Amapá e Roraima, mas procurando não interferir no andamento de quem está tendo uma melhor performance, como o Rio Grande do Sul. Essa redução atrapalha para mantermos o nosso bom ritmo de imunização até aqui – opina Cunha.
Apenas entre a população adulta, que já pode ser vacinada independentemente de outros critérios como comorbidades, falta vacinar 1,3 milhão de gaúchos com a primeira dose e outros 5,1 milhões com a aplicação complementar. Desde o início da campanha, os gaúchos já receberam 13,7 milhões de aplicações.