Efeito colateral da pandemia, o atraso nos diagnósticos e tratamentos de diversas doenças é tema de preocupação e debate constante entre especialistas. Com o câncer de mama não foi diferente: estima-se que, nesse período, houve uma redução de cerca de 50% nas mamografias, 39% das biópsias e 16% nas cirurgias eletivas no Brasil. A poucos dias do começo de mais um Outubro Rosa, uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido da Pfizer, trouxe dados sobre acesso aos serviços de saúde, conhecimento sobre câncer de mama e seus tratamentos.
O levantamento foi apresentado na manhã desta terça-feira (28).
Realizada no decorrer de setembro, a pesquisa online entrevistou 1,4 mil mulheres a partir de 20 anos e moradoras de São Paulo e das regiões metropolitanas de Belém, Brasília, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro. Intitulado de Câncer de mama: tabu, falta de clareza sobre a doença, diagnóstico precoce e autocuidado, o trabalho revelou que 47% delas deixaram de frequentar o ginecologista ou mastologista em razão da pandemia. Por outro lado, 42% das entrevistadas disseram ter mantido a mesma frequência de consultas a especialistas - índice maior do que o identificado no ano anterior.
— Esse dado foi melhor do que o ano passado, quando o percentual de quem deixou de ir ao médico chegou a 62% e o de quem manteve as consultas foi de 27% — observou Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil.
A pesquisa também mostrou a importância de reforçar a comunicação sobre a doença, especialmente quando o assunto é diagnóstico precoce: 42% responderam que precisam ficar atentas somente ao surgimento de nódulos detectados durante o autoexame. Na prática, a medida é importante, contudo, destacam especialistas, quando um tumor é identificado nessa fase, significa que já está em estágio mais avançado.
— A mamografia é o exame que tem a capacidade de detectar precocemente o câncer de mama e aumentar o tempo de vida das mulheres com diagnóstico. O autoexame ajuda a identificar em mulheres que têm o diagnóstico em fase mais tardia — pontuou Alessandra Menezes Morelle, oncologista do Hospital Moinhos de Vento.
Ainda que esses dados tenham aparecido, o levantamento também apontou que as mulheres reconhecem a importância da mamografia a partir dos 40 anos e o acompanhamento de um ginecologista desde o começo da vida adulta.
Fundadora e presidente do Oncoguia, Luciana Holtz se disse muito satisfeita com os resultados positivos apresentados pelo levantamento. Para ela, isso mostra que as mulheres estão mais conscientes em relação à doença, contudo, isso precisa ser expandido para os serviços de saúde:
— O sistema de saúde tem que caminhar junto com essa mudança de comportamento. Temos que discutir o tempo da biópsia, a qualidade dela, o estadiamento. Quando olhamos para os tratamentos que temos hoje à disposição, nos dois sistemas de saúde, vemos que eles estão cada vez mais distantes.
“Câncer não me tem”
Quando tinha 29 anos, às vésperas das férias na Europa, Anna Carolina Fernandes, atualmente com 37, visitou um ortopedista para averiguar as dores que sentia na coluna. O resultado de um exame de imagem trouxe a pior notícia que ela poderia receber: estava com câncer de mama metastático que já estava na coluna, bacia, costela e no fígado.
Foi então que criou um perfil no Instagram, o Fevereiro Rosa, para manter amigos, colegas e familiares mais distantes informados sobre os exames, tratamentos e situação de saúde. Aos poucos, a página foi crescendo e, hoje, é através dela que Anna compartilha um pouco da sua experiência de vida. Adaptada ao tratamento, ela garante que tem uma boa qualidade de vida.
— Como diz a minha irmã: eu tenho câncer, mas o câncer não me tem. Não quero romantizar. Nesses sete anos e meio, tiveram momentos difíceis, mas eu resolvi que tinha que viver a vida da melhor forma possível — destacou.