Tecnologia de ponta que passa a ser ofertada gratuitamente a pacientes em tratamento contra o câncer no Sistema Único de Saúde (SUS). A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre recebeu, nesta terça-feira (14), a doação de uma Touca Inglesa, equipamento que permite reduzir ou até mesmo evitar a queda de cabelo provocada por sessões de quimioterapia.
A breve cerimônia foi realizada no Hospital Santa Rita, unidade dedicada à oncologia dentro do complexo. Jornalista e apresentadora da RBS TV, Cristina Ranzolin, que está em tratamento para um câncer de mama — agora na fase da imunoterapia — , esteve presente como “madrinha” da ação que permitiu presentear a comunidade. Cristina se beneficiou da crioterapia capilar, conseguindo preservar totalmente os fios.
Decidida a ajudar outras mulheres na mesma situação, a jornalista contatou a Paxman Brasil, que importa a touca da Inglaterra. Com o andamento das conversas, ficou acertado o repasse. Cada unidade custa em torno de R$ 300 mil. A cada 50 toucas comercializadas com a rede privada, uma é doada ao sistema público.
Cristina recebeu flores como agradecimento e confessou que, antes de adoecer, considerava a perda de cabelo um malefício não tão relevante entre os tantos que surgem no combate a um tumor. Quando informada do diagnóstico pelo médico, ficou abalada com o fato de que o tratamento teria potencial para transformar radicalmente sua aparência.
— Trabalho com a minha imagem. Fiquei sabendo desse equipamento e, com o maior orgulho, sou garota-propaganda. Obedeci a todos os cuidados e não perdi nada de cabelo — contou.
A Touca Inglesa não garante resultado igual ao de Cristina para todas as usuárias — o histórico de um cabelo livre de produtos químicos, como coloração, contribuiu positivamente. De acordo com Gustavo Spritzer, diretor comercial da Paxman Brasil, considera-se caso de sucesso aquele em que a paciente não precisa apelar a lenços ou perucas. Com o uso da touca em todas as sessões de quimioterapia, pode-se obter um índice de 50% a 90% de sucesso.
— Podemos oferecer, no SUS, o mesmo equipamento dos principais centros do mundo. Não é só uma perda de cabelo. Tem o estigma da doença ligado a isso — salientou Spritzer.
As primeiras beneficiadas no Santa Rita, que atende cerca de 300 pacientes em quimioterapia por semana pelo SUS, serão mulheres com câncer de mama — tumores que correspondem à metade desses casos. Nem todas poderão se submeter à máquina, capaz de atender duas pessoas simultaneamente, porque o equipamento é um só. Antonio Kalil, diretor médico e de ensino e pesquisa da Santa Casa, celebrou a aquisição:
— É um momento muito especial e de muita alegria para nós. A Santa Casa possibilita que pacientes do SUS recebam esse tipo de tecnologia graças a doações, e 70% dos pacientes são SUS na instituição.
A touca, que refrigera o couro cabeludo e reduz a absorção da medicação quimioterápica, é destinada a doentes com tumores sólidos — quem sofre de câncer hematológico (no sangue) não tem indicação para se submeter ao procedimento. Coloca-se o acessório meia hora antes do início da infusão das drogas, ele se mantém na cabeça ao longo da sessão e é retirado apenas 1h30min depois, dependendo do protocolo adotado.
Como funciona
- A touca, conectada a uma unidade de refrigeração, é colocada na cabeça do paciente meia hora antes do início da quimioterapia e mantida durante a sessão. É retirada cerca de 1h30min depois.
- O couro cabeludo é resfriado a uma temperatura em torno de 20ºC.
- O fluxo sanguíneo nos folículos capilares diminui, reduzindo a absorção dos medicamentos quimioterápicos.
- A taxa de sucesso depende do tipo de medicação administrada: 50% para as mais fortes, variando até 92% para as menos agressivas.
- A terapia não é indicada para câncer hematológico (no sangue) ou para quem tem alergia ao frio.