Um dia após a mudança de orientação na vacinação contra a covid-19 em adolescentes no Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que não entende “porque tanta polêmica” em torno da decisão tomada pela pasta. Após o lançamento de um plano de testagem em massa em Natal, no Rio Grande do Norte, nesta sexta-feira (17), Queiroga defendeu a posição do governo federal em não recomendar a imunização de pessoas entre 12 e 17 anos sem comorbidades.
— Diante do evento adverso, da necessidade de ter segurança, de oferecer às mães brasileiras segurança para seus filhos, o Ministério da Saúde decidiu suspender o subgrupo sem comorbidades enquanto se avalia de uma maneira mais detalhada — falou o ministro, citando os 24 mil adolescentes que, segundo o ministério, receberam vacinas não aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para esse público.
Queiroga citou como exemplo o Reino Unido que, segundo ele, também “fez isso”, ou seja, suspendeu a vacinação de adolescentes sem comorbidades. Porém, os países que compõe o bloco começaram a vacinar esse público na última segunda-feira (13).
— Eu não sei porque tanta polêmica, porque o Reino Unido, que tem um dos maiores sistemas de saúde do mundo, fez isso. Aí ficam com essa cortina de fumaça desnecessária — completou.
No NHS do Reino Unido, que corresponde ao Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, adolescentes de 12 a 15 anos podem receber a primeira dose da vacina covid-19. Quem estiver em algum grupo prioritário, com alto risco para a doença, pode receber as duas doses. A aplicação da primeira dose em pessoas de 16 a 17 anos também está sendo realizada.
Em junho, a agência regulatória britânica (MHRA) já havia aprovado a aplicação da vacina da Pfizer em adolescentes de 12 a 15 anos. O único órgão que se posicionou de forma contrária à imunização nesse público foi o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização (JCVI), que recomendou não aplicar vacinas em adolescentes saudáveis, com idades entre 12 a 15 anos.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou a condenar estados e municípios por terem iniciado a vacinação dessa faixa etária antes do previsto pelo ministério — pela orientação nacional, a imunização deveria ter começado no último dia 15.
— Os adolescentes com comorbidades, segundo a lei, continuam tomando a vacina normalmente. Aquele sem comorbidades não estavam previstos para serem vacinados agora — reafirmou Queiroga, citando a Lei 14.190, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro no final de julho, que incluiu crianças e adolescentes com comorbidades, deficiência permanente ou privados de liberdade, nos grupos prioritários do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO).
A decisão do Ministério da Saúde em não recomendar a vacinação de adolescentes sem doenças pré-existentes pegou de surpresa estados e municípios. O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conassems) afirmam que não participaram da discussão. A nova orientação nem mesmo passou pela Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, órgão da pasta composto por membros de sociedades científicas, conselhos de classe e especialistas na área e que orienta a tomada de decisões relacionadas à vacinação dos brasileiros com base no Programa Nacional de Imunizações (PNI).