A decisão do Ministério da Saúde de voltar atrás na vacinação contra a covid-19 de adolescentes sem comorbidades não foi bem recebida pelos representantes de Estados e municípios. Tanto o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) quanto o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conassems) não participaram da discussão.
Os dois órgãos enviaram um ofício à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pedindo mais informações sobre a imunização desse público. No texto, consta a informação de um "advento grave relacionado à Pfizer" – única vacina autorizada no Brasil para jovens de 12 a 17 anos.
No ministério, circulam nos bastidores que o assunto não passou nem pela Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, órgão da pasta composto por membros de sociedades científicas, conselhos de classe e especialistas na área e que orienta a tomada de decisões relacionadas à vacinação dos brasileiros com base no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Nesta quarta-feira (15), o Ministério da Saúde divulgou duas notas sobre a vacinação de adolescentes. A primeira, de número 40, foi publicada no sistema eletrônico do Governo Federal às 16h15 e orientava a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos a partir do dia 15 de setembro, obedecendo a seguinte ordem:
- População de 12 a 17 anos com deficiências permanentes;
- População de 12 a 17 anos com presença de comorbidades;
- População de 12 a 17 anos privados de liberdade.
O texto substituiu a nota técnica de número 36, publicada pelo ministério no início de setembro, e que orientava a vacinação de adolescentes sem comorbidades após a aplicação de doses no público considerado de maior vulnerabilidade. O documento foi retirado do ar na manhã desta quinta-feira (16).
A segunda nota, que mudou a orientação, subiu no sistema eletrônico do Ministério às 21h30 de quarta. Nela, a pasta afirma que a "Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades" e que os benefícios da vacinação para este público "ainda não estão claramente definidos".
Houve rumores de que esse documento fosse falso. Porém, fontes do Ministério da Saúde confirmaram a veracidade da nota para GZH.
As duas recomendações foram assinadas pela secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19, Rosana Leite de Melo. O Ministério da Saúde ainda não se pronunciou oficialmente sobre a mudança na orientação.