Criado exclusivamente para tratar as sequelas da covid-19, demanda cada vez maior nos hospitais e unidades de saúde, o ambulatório de reabilitação do Centro de Saúde IAPI, na zona norte de Porto Alegre, dobrou o atendimento em apenas um mês e já conta com reforço de professores universitários e estagiários.
Quando foi inaugurado, ao lado do setor de fisioterapia, em julho deste ano, o ambulatório acolhia 10 pacientes por semana, atendidos pelos profissionais da casa. São enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionista e até psicólogo que tratam os traumas físicos e emocionais deixados pela doença. A agenda ficou mais cheia a partir de agosto. Agora, atende 20 pessoas por semana. No total, são 53 pacientes vinculados.
A ampliação só foi possível com o auxílio de estudantes e professores universitários. O ambulatório já inaugurou com parceria firmada com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Recentemente, também abriu as portas para receber sete estudantes de fisioterapia e enfermagem da Unisinos, que são guiados por um professor.
— Os profissionais da Unisinos já começaram com vários pacientes agendados, que estavam esperando esse atendimento. Com a vinda dos alunos, conseguimos acolher mais pacientes — conta a fisioterapeuta Aline Casaril, coordenadora do ambulatório.
Há dois lugares que atendem sequelas da covid-19 pela rede municipal de saúde da Capital e a porta de entrada são as unidades básicas. Se a pessoa apresenta um caso mais complexo, como problemas cardíacos, é encaminhada ao Hospital de Clínicas. Se for mais simples, pode seguir para o IAPI, onde a maioria chega reclamando de fadiga, que permanece após a doença.
— São pessoas que levantam da cadeira, caminham 20 metros e se cansam. Chegam no consultório já sem ar. Não conseguem fazer coisas básicas, precisam de ajuda para tomar banho ou até conseguem fazer sua higiene, mas não conseguem fazer comida, limpar a casa. Não têm fôlego — diz Aline.
Nessas situações, o paciente é encaminhado para a fisioterapia. Pode acontecer de apresentar outros problemas provocados pela covid-19, como perda de massa muscular ou mesmo aflições emocionais, atendimento integral que o ambulatório do IAPI busca suprir. Quem faz essa triagem é um profissional da enfermagem, que observa cada situação e faz os encaminhamentos.
Depois de ficar entubada por quase 20 dias por causa da covid-19, Solange Terezinha Fogaça, 57 anos, ficou com o lado direito do corpo afetado. Perdeu o movimento da perna e de dois dedos da mão. Passou a fazer fisioterapia no ambulatório do IAPI e recebeu até sessões de acupuntura, pelas mãos da própria Aline.
Ao contar aos profissionais sobre o que viveu na cama do hospital, a experiência do isolamento e a incerteza sobre a vida, Solange foi convidada a ter um encontro com a psicóloga. E gostou.
— Tem coisas que ficam, que a gente precisa conversar com alguém. A gente passa por um período difícil. Depois que tu sai do coma, que tu é desentubado, fica sozinho muito tempo dentro do hospital, precisando de familiar, e não podia por causa da covid... Tudo isso deixa traumas na gente — confessa.
Diante de um vírus que não dá sinais de ir embora, o ambulatório do IAPI vai ganhar mais um tipo de atendimento a partir de setembro — o de fonoaudiólogo — e não há qualquer previsão para encerrar o serviço especializado para quem sofreu com a covid-19.
— Não imagino que em menos de um ano a demanda de pacientes com sequelas pós-covid-19 diminua. Vai levar um bom tempo ainda — projeta Aline.