Após atingir o maior patamar da última década, os novos casos de dengue têm subido em menor intensidade no Rio Grande do Sul. Com pico de diagnósticos positivos no mês de abril e alto número em maio, a curva de infecções agora apresenta estabilidade.
Em todo o ano de 2021, já são 8.757 casos confirmados. Deste total, 8.508 são considerados autóctones, o que significa que foram contraídos em solo gaúcho — esta parcela corresponde a 97,15%. Os dados estão incluídos no informativo epidemiológico do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), que contém dados até o dia 14 de agosto.
Ainda no início de maio já era possível identificar o recorde atingido pela doença causada pelo mosquito Aedes aegypti e que não tem vacina para prevenção. Mesmo naquele período, o número de casos era o maior desde 2010, mesmo quando comparado o intervalo de janeiro a dezembro dos anos anteriores.
Observando a curva desde o início do ano, é possível notar o comportamento da doença — a coleta de dados é feita por semanas epidemiológicas, e não por mês. Até o dia 3 de abril, eram apenas 742 casos confirmados. As quatro semanas seguintes apresentaram crescimento expressivo, com 3.349 registros entre os dias 4 de abril e 1º de maio — o pico. O mês seguinte também apresentou alto número de infecções, com 2.871 diagnósticos positivos entre os dias 2 e 29 de maio.
Junho e julho, no entanto, registraram média inferior a mil em cada mês. O ritmo mais lento faz com que, desde meados de junho, o número de pacientes infectados não tenha passado da casa dos 8 mil.
Para a responsável pelo programa das Arboviroses no Estado, Catia Favreto, a explicação para a melhora passa pelas medidas adotadas nas cidades após um cenário de gravidade.
— Surtiram efeito as atividades ambientais. A população acabou se conscientizando com o grande número de casos que a gente apresentou durante o ano, com óbitos inclusive, e acabou fazendo as atividades necessárias, o que fez com que diminuísse o número de casos.
Outro fator que pode ter contribuído para a mudança do cenário é a chegada do frio, que costuma evitar a proliferação de mosquitos. No entanto, Catia alerta para o fato de que, no Rio Grande do Sul, o Aedes aegypti "se acostumou" às baixas temperaturas, diferentemente do que ocorre em outros lugares do Brasil.
— O mosquito, hoje, está bem domiciliado. Ele está dentro das residências, acabou se adaptando ao nosso frio também. Em maio, por exemplo, a gente já tinha baixas temperaturas. Mas o frio deu uma impactada sim, porque, a partir de junho, houve uma queda brusca nas confirmações.
Número de mortes também é recorde
Conforme o último informativo epidemiológico, 11 mortes por dengue já foram registradas em 2021: cinco em Santa Cruz do Sul, três em Erechim, uma em Passo Fundo, uma em Mariano Moro e uma em Bom Retiro do Sul. O número também é o maior desde 2010.
No total, 427 das 497 cidades são consideradas infestadas pelo Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença – e também da Zika e Chikungunya. Assim, conforme Catia, quanto mais municípios nessa situação, maior a chance de o Estado apresentar casos e óbitos — o que é uma das justificativas para os recordes de 2021.
— O que a gente acredita é que, tanto no ano passado quanto neste ano, por causa da pandemia, a população acabou se descuidando dos cuidados básicos com o mosquito, que são as limpezas. As pessoas foram orientadas a ficar em suas casas e acabaram esquecendo de fazer o básico. Além disso, temos cada vez mais cidades infestadas pelo mosquito.
A dica para evitar a proliferação do mosquito é não manter recipientes com água parada. Entre as medidas recomendadas, está manter as garrafas vazias com o gargalo para baixo, fechar caixas d'água, toneis e latões, escovar os bebedouros de animais, guardar pneus velhos sob abrigos e manter piscinas tratadas o ano inteiro.
Conforme o Cevs, normalmente a primeira manifestação da dengue é a febre alta (39°C a 40°C), que tem início abrupto e geralmente dura de dois a sete dias. Ela vem acompanhada de dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, dor atrás dos olhos, exantema (erupção avermelhada na pele) e coceira. Náuseas e vômitos também podem ocorrer, além de manifestações hemorrágicas leves.
Alerta para febre amarela
Em abril, o Rio Grande do Sul declarou emergência em saúde pública devido a uma outra doença também transmitida por mosquitos: a febre amarela. O motivo é o registro da circulação viral em primatas — até agora, não houve infecção confirmada em humanos em 2021.
A última vez em que o Estado havia registrado a circulação do vírus da febre amarela foi em 2009, quando, inclusive, nove pessoas morreram após contrair a doença.
No caso da febre amarela silvestre, que é a que tem sido registrada no Brasil, a doença é transmitida por mosquitos que vivem em áreas de mata, sem transmissão direta de pessoa para pessoa. Os primatas não passam a moléstia adiante, mas servem de sentinelas da chegada do vírus. Ou seja, quando eles aparecem mortos e testam positivo para a doença, significa que há a presença do vírus na região e, por isso, intensifica-se a vacinação.
Desde o começo do ano, o Estado registrou 253 encontros de um ou mais animais mortos, sendo que o total de primatas identificados chega a 353. Houve coleta para 160 amostras, sendo que 103 foram confirmadas.
Assim, 36 municípios gaúchos já registraram circulação viral em primatas neste ano, o que corresponde à chamada área afetada. Os municípios limítrofes a esses ou considerados com maior possibilidade de circulação do vírus compõem a área ampliada. Apesar de a vacina contra a febre amarela já fazer parte do calendário vacinal no Rio Grande do Sul, cidades incluídas nas áreas afetada e ampliada devem intensificar a vigilância e ampliar a cobertura vacinal, principalmente na área rural.
— Nós iniciamos a intensificação da vacinação contra a febre amarela ainda em 2019 com o senso rural, porque deveria ser a região mais afetada. Desde lá, a gente já vem intensificando a vacinação, e agora, com um maior número de municípios com circulação viral, isso aumentou. Temos uma adesão bem boa — explica Catia.
A vacina contra a febre amarela é pública, gratuita e disponibilizada em postos de saúde. A doença tem alta letalidade e, entre os sintomas mais comuns, estão febre, dor de cabeça, náusea e vômito.