O governo do Rio Grande do Sul declarou, na última quarta-feira (28), emergência em saúde pública devido à circulação do vírus da febre amarela no Estado. O motivo foi a identificação da presença do vírus em primatas, como bugios, que morreram em decorrência da doença.
O vírus causador da febre amarela não era identificado em território gaúcho desde 2009. De acordo com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), no período entre julho de 2008 e junho de 2009, 131 pessoas desenvolveram formas graves da doença e precisaram ser hospitalizadas. Dessas, nove morreram.
Transmissão e sintomas
A febre amarela é uma doença viral transmitida por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que habitam áreas silvestres. Ao serem picados, os seres humanos e os primatas são afetados pela doença, que tem alta letalidade (de aproximadamente 50% entre os casos graves), mas pode ser prevenida por meio de vacina.
— O macaco serve hoje com um sinalizador de alerta. O primata pode ser infectado pelo vírus amarílico, ficar doente e morrer. Por causa disso, somos capazes de identificar a presença do vírus naquele território. Se não fosse isso, provavelmente só saberíamos da circulação quando já existissem pessoas doentes. O período de maior incidência da doença, por causa da proliferação dos mosquitos, é de novembro a maio. Quanto mais mosquitos, mais chances de contaminação para os macacos e para os humanos — afirma Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs.
Pessoas que foram contaminadas pelo vírus podem apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, náusea e vômito. A moléstia pode causar quadros leves ou evoluir para formas mais severas.
— A infecção, quando evolui para a forma mais grave, compromete principalmente rins, fígado e, eventualmente, o coração, podendo levar à morte — afirma Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Situação no RS
De acordo com o último boletim de atualização da situação epidemiológica de febre amarela no RS, divulgado na última segunda-feira (3) pelo órgão de vigilância em saúde, entre julho de 2020 e 3 de maio de 2021, a circulação do vírus foi confirmada em 23 municípios, nos quais foram encontrados macacos mortos pela doença, conforme constataram análises laboratoriais (veja abaixo quais são eles). O Estado também registra 71 municípios que fazem parte da chamada área ampliada, composta por cidades que apresentam risco mais alto de virem a detectar a circulação do vírus. Pertencem a esse grupo cidades vizinhas àquelas em que a circulação foi confirmada, bem como municípios litorâneos ou que fazem divisa com Santa Catarina. Até o momento, a doença não foi detectada em humanos.
Municípios com circulação confirmada do vírus da febre amarela no período de julho de 2020 a 3 de maio de 2021: Pinhal da Serra, Barracão, Monte Alegre do Campos, Capão Bonito do Sul, Porto Alegre, André da Rocha, Esmeralda, Lagoa Vermelha, Muitos Capões, Rolante, Vacaria, Farroupilha, Ipê, Antônio Prado, Campestre da Serra, Bom Jesus, Santa Cruz do Sul, Ciríaco, Morro Reuter, São Marcos, Jaquirana, Canela e Caxias do Sul.
A ameaça que o RS enfrenta no momento é a da febre amarela transmitida por mosquitos silvestres, os vetores dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Mas há também uma preocupação em combater o Aedes aegypti, que além da dengue, pode transmitir a febre amarela em regiões mais urbanas, embora não haja registros recentes destes casos. Em Santa Cruz do Sul, que tem registrado aumento no número de casos de dengue, mutirões de vistoria em terrenos e imóveis estão sendo feitos para o combate ao mosquito transmissor.
Como se proteger
A equipe da vigilância em saúde do RS recomenda que municípios com confirmação da circulação do vírus ou que fazem parte da área aumentada recebam ações de intensificação do monitoramento de epizootias (mortes de primatas pela doença), de casos humanos suspeitos e ampliação da cobertura vacinal. Desde 2018, o Ministério da Saúde ampliou a área de recomendação de vacinação para a febre amarela no Rio Grande do Sul para 100% dos municípios. A vacina é pública, gratuita e disponibilizada em postos de saúde.
Diante do cenário atual, para evitar a ocorrência da doença em humanos, o Cevs reforça que habitantes de regiões sob alerta para a doença devem se certificar de que seu esquema vacinal está atualizado: a vacina é de dose única atualmente, para pessoas acima dos cinco anos de idade. A exceção são os bebês, que recebem o imunizante aos nove meses e devem repetir a dose antes de completar cinco anos.
— Temos vacinas para todos, visto que vamos vacinar só os faltosos, aqueles que não têm vacina, pois é uma dose para o resto da vida. Não tem por que as pessoas procurarem fazer novamente, se já fizeram. É importante que os indivíduos resgatem suas cadernetas de vacinação para terem certeza de que estão vacinados — afirma Tani.
A aplicação do imunizante contra a febre amarela está indicada para crianças e adultos até os 60 anos. Já idosos, gestantes e pessoas com algum grau de imunossupressão devem procurar orientação médica para avaliar se devem ou não se vacinar.
Outra forma de prevenção é se protegendo da mordida do mosquito, usando roupas para diminuir a exposição da pele ou aplicando repelentes.
— Pessoas mais velhas ou com algum grau de imunossupressão têm contraindicação pra essa vacina. Isso porque ela é feita com vírus atenuado (vírus enfraquecido), que causa sintomas muito leves e induz produção de anticorpos. Porém, em pessoas com defesas baixas, esse vírus enfraquecido pode causar doença — afirma Sprinz.
De acordo com a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde de Porto Alegre, os estoques do imunizante na cidade estão dentro da normalidade e a vacinação ocorre em postos de saúde que possuem sala de vacinação. Indivíduos que estão em processo de vacinação contra a covid-19 ou a gripe devem avaliar junto a um profissional de saúde o intervalo indicado entre doses de diferentes imunizantes.