O decreto de situação de emergência no RS devido à circulação do vírus da febre amarela amplia as ações de prevenção de municípios da Serra. A estratégia de imunização deve ser intensificada imediatamente, conforme orientação do governo do Estado para expandir as coberturas vacinais em áreas vermelhas e amarelas, principalmente em pessoas residentes em áreas rurais e silvestres e também em pontos onde as atividades rurais e urbanas se misturam. As áreas vermelhas são aquelas onde foram encontrados primatas mortos contaminados por mosquitos que transmitem o vírus da doença, caso da Serra. Na região, 16 municípios confirmaram a morte de 52 bugios infectados pela doença. Os demais municípios que ficam nos limites com as comunidades afetadas são considerados de área amarela, com riscos de ter circulação do vírus. Até o momento, a doença não foi detectada em humanos.
Ainda em fevereiro, a Serra confirmou casos de febre amarela em macacos encontrados mortos em Pinhal da Serra na divisa do RS com Santa Catarina. Foi a primeira vez desde 2009 que o Estado voltou a registrar a incidência da doença em primatas. Desde então, na Serra, foi confirmada morte provocada pela doença em primatas encontrados em Caxias do Sul, Antônio Prado, Campestre da Serra, Esmeralda, Ipê, Monte Alegre dos Campos, Muito Capões,Vacaria, Bom Jesus, Farroupilha, Jaquirana e São Marcos. Também foi coletado material em Guabiju para análise.
A titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Cláudia Daniel, lembra que os primatas servem como indicadores da presença do vírus no ambiente silvestre. Ela reitera que os bugios, assim como os humanos, são picados pelo mosquito transmissor da doença, portanto, não são eles que transmitem o vírus.
— Estamos em alerta desde o primeiro caso, em janeiro. Temos conversado com os secretários de saúde para mobilizar as comunidades, que são aliadas dos setores de vigilância sanitária. São os moradores que avisam onde estão os corpos para que as coletas e análises possam ser feitas — afirma Cláudia.
Ela ressalta a necessidade da vacina para quem não foi imunizado:
— A Serra é uma região de rotatividade de pessoas, então precisamos fazer uma nova busca daqueles que não foram vacinados em 2009, durante a mobilização pela vacinação devido ao aumento de casos no Rio Grande do Sul, para que sejam imunizados.
Também foram notificados casos em Lagoa Vermelha, André da Rocha e Capão Bonito do Sul, que são municípios atendidos pela 6ª CRS.
Prevenção passa pela vacina
Em 20 de abril, Caxias do Sul confirmou que dois bugios encontrados mortos no interior do município testaram positivo para o vírus da febre amarela. A Vigilância Sanitária ainda aguarda o resultado dos testes de outras coletas, sendo que até o momento já coletaram doze amostras, e esperam o retorno de dez. Contudo, como a cidade já confirmou que o vírus está em circulação no município, o Estado prioriza outros municípios até para controlar a área de risco no RS.
— Coletamos mais amostras, principalmente, em Criúva,Vila Seca e Fazenda Souza. Também recebemos notificações de bugios mortos em Santa Lúcia do Piaí e Santa Bárbara de Ana Rech, mas não conseguimos coletar material porque os corpos já estavam em decomposição avançada — diz Rogério Poletto, veterinário da Vigilância Ambiental em Saúde.
Ele explica que o número de animais mortos ou a questão de coletas não provoca diferença, uma vez que já está confirmado que o vírus da febre amarela circula na região.
— Nós coletamos até para ampliar a área de controle e determinar a direção para onde está seguindo o vírus. Uma coleta ou várias sinalizam que o vírus está circulando na região. Como já estamos cientes, alertamos as unidades básicas de saúde para ficarem atentas às pessoas com sintomas, e temos ações para que as vacinas sejam mantidas em dia.
Quem ainda não estiver imunizado, precisa procurar uma UBS para aplicação da vacina, que faz parte do calendário de vacinação com imunidade permanente.
— A circulação não faz com que sejam feitas campanha extras porque essa é uma imunização que está no calendário vacinal. Temos feito um censo vacinal, especialmente no interior, para garantir aos adultos essa imunização contra a febre amarela, sendo que desde 2009 Caxias recomenda a vacinação para os residentes e não apenas para quem vai viajar. No interior, as unidades básicas tem intensificado a busca por quem não está vacinado _ complementa a diretora da Vigilância em Saúde de Caxias do Sul, Juliana Argenta Calloni
Em Caxias, as vacinas são aplicadas às quartas-feiras. Em janeiro, foram vacinadas 1.389 pessoas na cidade, em fevereiro, outras 1.201, e, em março, 566. No mês de abril, até esta quinta-feira (29), 1.632 buscaram a imunização. Segundo Juliana, o aumento de casos de covid-19 pode ter influenciado os números, uma vez que as pessoas evitaram circular em serviços de saúde.
Casos de macacos encontrados mortos podem ser informados diretamente para a Vigilância Ambiental em Saúde pelo telefone (54) 3202-1438, das 8h às 17h.
Ação em Farroupilha
Em Farroupilha, após a confirmação de febre amarela em um bugio encontrado morto na cidade, a prefeitura solicitou que os moradores daquela região e da zona rural nas proximidades do bairro Santa Rita procurem a UBS do bairro Cruzeiro para garantir a imunização até esta sexta-feira (30). O horário de atendimento é das 7h30min às 11h30min e das 13h às 17h, mediante agendamento, em função da pandemia de covid-19. A marcação deve ser feita pelo telefone (54) 3268-4614.
— A vacina está disponível no município porque integra o calendário de vacinas, contudo no posto do Cruzeiro fizemos essa ação diferente porque teve uma confirmação da doença em um bugio encontrado morto naquela região — esclarece Paulina Inês Guisso, diretora da Vigilância Epidemiológica da cidade.
Ela explica a que a população pode procurar a vacinas nos postos de saúde da região onde vive, mas nos dias em que ocorre a imunização para evitar que doses sejam colocadas fora, já que tem um prazo curto de validade depois que os frasco são abertos.
— Adultos que já receberam a vacina, que é dose única, não precisam fazer novamente a imunização. Já as crianças, a partir de nove meses, devem receber a primeira dose e, aos quatro anos, a segunda.
Em caso de dúvida se a vacina foi feita, basta contatar a UBS que é referência para confirmar se teve a imunização, e caso não tenha sido imunizado, agendar o atendimento no dia em que o posto realiza a vacinação. Para o interior de Farroupilha, a unidade de atendimento é a UBS Central
Caso sejam encontrados animais mortos, as pessoas devem comunicar imediatamente a Vigilância Epidemiológica pelo telefone (54) 3261-1094.
Pinhal da Serra vacinou toda a população desde confirmação de circulação da doença
Pinhal da Serra registrou a primeira morte de bugio devido à febre amarela em sete de janeiro de 2021. A confirmação de que o animal estava infectado veio um pouco depois, no começo de fevereiro, o que acendeu o alerta em todo o território gaúcho uma vez que foi a primeira vez desde 2009 que o RS confirmou a circulação da doença. No total, até o momento, foram encontrados 39 bugios mortos. Desse total, em 11 foram confirmados que a causa da morte era febre amarela. Os demais animais não tiveram material colhido para análise porque já estavam em avançado estado de decomposição.
A diretora da UBS do município, Tailane Cristina da Costa, afirma que desde o primeiro caso, a cidade intensificou a vacinação:
— Fizemos uma campanha grande de vacinação, chamamos quem não foi vacinado e comunicamos a comunidade, pedindo que eles fizessem a vacina da febre amarela. Temos dois mil habitantes e, quando começou a campanha, 1.555 já havia sido vacinados. Agora, todos os moradores estão com a vacina em dia porque até aqueles que não tinham carteira de vacinação foram imunizados. Acredito que seja difícil ter caso em humanos porque contemos a doença com a imunização. Todos vieram em busca da vacina e imunizamos todos
Saiba por que o bugio é considerado um termômetro da febre amarela
Os macacos são considerados uma espécie de termômetro sobre a existência do vírus da febre amarela em circulação em determinadas regiões. Isso ocorre porque eles costumam ser as primeiras vítimas quando o vírus está presente nas cidades gaúchas. O biólogo Leonardo Seidler De Marchi explica que a biologia do bugio é parecida com a do ser humano.
— Consideramos o bugio um termômetro, um sentinela, porque quando ele é infectado pelo mosquito que transmite a doença, o bugio desenvolve uma doença febril bem parecida com a do ser humano porque ele tem uma característica muito parecida com a nossa.
De acordo com com o biólogo, a febre amarela é provocada por um vírus transmitido por mosquitos da espécie Aedes, principalmente Aedes aegypti, responsável também por transmitir a zika, a dengue e a chikungunya, e da espécie Haemogogus.
— É sempre bom deixar bem claro que o bugio, assim como o ser humano, não transmite a febre amarela. Quando o ser humano fica doente, ele não transmite, e os primatas também não. Eles são o nosso alerta e chamamos de termômetro porque, quando há muitas mortes dos animais, é um sinal da presença da febre amarela na mata próxima à gente.
De Marchi esclarece que os casos são investigados porque os bugios podem morrer de outras causas, mas quando há mortalidade acentuada, cresce a suspeita de febre amarela.
— Quando some um bando todo, dificilmente será outra coisa que não febre amarela. Não conhecemos outra doença que vá matar tantos bichos em tão pouco tempo.
Além dos bugios, a febre amarela também afeta outros primatas da região, como o bugio ruivo e o macaco-prego na Serra, e em outras regiões gaúchas, o bugio preto. E no país, o sagui e demais tipos de primatas.
— A febre amarela tem grande mortalidade nesses primatas não humanos, por isso, quem mora no interior deve ficar alerta para, quando encontrar animais mortos, avisar a Secretaria de Saúde dos municípios para que coletem o material e verifiquem se o primata foi contaminado.
Ele alerta ainda:
— Mesmo se a pessoa encontrar só a ossada, tem que ser notificada (a secretaria) para que seja investigado o lugar onde ele morreu, porque às vezes são encontrados outros animais nas proximidades ou mortos ou doentes, e até mesmo mosquito, o que indica a presença da febre amarela nessas regiões.
Os casos de bugios mortos por febre amarela neste ano na área da 5ª CRS
Antônio Prado - 1
Jaquirana - 1
Farroupilha - 1
Caxias do Sul - 2
Ipê - 3
Bom Jesus - 3
Monte Alegre dos Campos - 3
Campestre da Serra - 4
São Marcos - 4
Muito Capões - 5
Esmeralda - 6
Vacaria - 8
Pinhal da Serra - 11
Total: 52
Também foram notificados casos em Lagoa Vermelha, André da Rocha e Capão Bonito do Sul, municípios atendidos pela 6ª CRS.