De seis bugios encontrados mortos no início do mês, no interior de Caxias do Sul, pelo menos dois testaram positivo para o vírus da febre amarela. Os casos foram confirmados na tarde desta terça-feira (20) pela Vigilância Sanitária do município, que ainda aguarda o resultado dos testes nos demais macacos. Em fevereiro, uma amostra coletada em Pinhal da Serra, próximo à divisa com Santa Catarina, registrou a primeira confirmação no Rio Grande do Sul desde 2009.
Outros municípios da região também confirmaram casos e este é o primeiro, desde então, registrado em Caxias do Sul, acendendo o alerta para a circulação da doença na cidade.
De acordo com a prefeitura, os animais foram encontrados por moradores, em diferentes pontos de Fazenda Souza e Criúva. Outros onze macacos também foram localizados sem vida, mas não foi possível coletar material para exames.
— Provavelmente, assim como em outras cidades, os outros também morreram por febre amarela. É importante lembrar que os bugios não são transmissores, quem transmite é o mosquito. Eles acabam sendo apenas um indicativo de que a doença está circulando na comunidade — afirma a secretária municipal da Saúde, Daniele Meneguzzi.
Ela afirma que, até o momento, não há nenhuma confirmação de febre amarela em humanos no município, e que o alerta deve servir para que, quem ainda não estiver imunizado, procure as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para aplicação da vacina, que faz parte do calendário de vacinação com imunidade permanente. Ou seja, pessoas que já fizeram a dose não precisam mais aplicá-la.
As UBSs aplicam as vacinas às quartas-feiras (devido à curta validade do imunizante, os frascos são abertos para aplicação apenas um dia por semana). Nesta semana, em função do feriado de 21 de abril, a aplicação ocorreu na terça-feira. A vacina da raiva é agendada pelas UBSs, conforme avaliação após casos de agressão (mordeduras, arranhaduras ou lambeduras de ferimentos e mucosas).
De acordo com a 5ª Coordenadoria Regional da Saúde (CRS), que abrange 49 municípios da Serra, neste ano a região já notificou casos de febre amarela em macacos nas cidades de Antônio Prado, Bom Jesus, Campestre da Serra, Caxias do Sul, Esmeralda, Farroupilha, Ipê, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, Pinhal da Serra, São Marcos e Vacaria. Também da região foram notificados casos em Lagoa Vermelha, André da Rocha e Capão Bonito do Sul, sendo estes municípios atendidos pela 6ª CRS.
A titular da 5ª CRS, Claudia Daniel, afirma que o Estado está em alerta desde que os primeiros casos voltaram a ser notificados nas cidades gaúchas e que a preocupação aumenta uma vez que o mosquito aedes aegypti também pode ser vetor da doença em áreas urbanas. Até o início de abril, 78 focos do mosquito já haviam sido identificados neste ano somente em Caxias do Sul.
— A febre amarela causa febre, dores no corpo, cansaço, náuseas, vômito, pele e olhos amarelados, entre outros, por isso na presença de qualquer sintoma, a pessoa deve procurar imediatamente atendimento médico, necessitamos instrumentalizar ao máximo as equipes médicas para que as mesmas realizem o diagnóstico diferencial, visto que a sintomatologia pode ser muito semelhante a de outras doenças. É uma doença que pode ser prevenida através de vacina, a qual temos disponível gratuitamente em nossa rede pública de saúde — destaca Claudia.
Saiba por que o bugio é considerado um termômetro da febre amarela
Os macacos são considerados uma espécie de termômetro sobre a existência do vírus da febre amarela em circulação em determinadas regiões. Isso ocorre porque eles costumam ser as primeiras vítimas quando o vírus está presente nas cidades gaúchas.
O biólogo Leonardo Seidler De Marchi explica que isso ocorre porque a biologia do bugio é semelhante com a do ser humano.
– Consideramos o bugio um termômetro, um sentinela, porque quando ele é infectado pelo mosquito que transmite a doença, o bugio desenvolve uma doença febril bem parecida com a do ser humano porque ele tem uma característica muito parecida com a nossa.
De acordo com com o biólogo, a febre amarela é provocada por um vírus, do gênero flavivírus, transmitido por mosquitos pertencentes às espécies Aedes, principalmente Aedes aegypti, responsável também por transmitir a Zika, a dengue e a chikungunya, e Haemogogus.
– É sempre bom deixar bem claro que o bugio, assim como o ser humano, não transmite a febre amarela. Quando o ser humano fica doente, ele não transmite, e os primatas também não. Eles são o nosso alerta, e chamamos de termômetro porque, quando há muitas mortes dos animais, é um sinal da presença da febre amarela na mata próxima à gente.
De Marchi esclarece que os casos são investigados porque os bugios podem morrer de outras causas, mas quando há mortalidade acentuada, cresce a suspeita de febre amarela.
– Quando some um bando todo, dificilmente será outra coisa que não febre amarela. Não conhecemos outra doença que vá matar tantos bichos em tão pouco tempo.
Além dos bugios, a febre amarela também afeta outros primatas da região, como o bugio ruivo e o macaco prego na Serra, e em outras regiões gaúchas, o bugio preto. E no país, o sagui e demais tipos de primatas.
– A febre amarela tem grande mortalidade nesses primatas não humanos, por isso, quem mora no interior deve ficar alerta para, quando encontrar animais mortos, avisar a Secretaria de Saúde dos municípios para que coletem o material e verifiquem se o primata foi contaminado.
Ele alerta ainda:
– Mesmo se a pessoa encontrar só a ossada, tem que ser notificada (a secretaria) para que seja investigado o lugar onde ele morreu, porque às vezes são encontrados outros animais nas proximidades ou mortos ou doentes, e até mesmo mosquito, o que indica a presença da febre amarela nessas regiões.
:: Em Caxias do Sul, casos de macacos encontrados mortos podem ser informados diretamente para a Vigilância Ambiental em Saúde pelo telefone (54) 3202-1438, das 8h às 17h.