A confirmação de mais casos de febre amarela em bugios encontrados mortos em Esmeralda, Muitos Capões, Monte Alegre dos Campos, Lagoa Vermelha, Capão Bonito do Sul e André da Rocha intensifica o alerta sobre a circulação do vírus no Rio Grande do Sul. Ainda em fevereiro, a Serra confirmou casos da doença em macacos encontrados mortos em Pinhal da Serra. Esta foi a primeira vez desde 2009 que o Estado voltou a registrar a incidência da doença em macacos. Já em Vacaria e Farroupilha foram encontrados animais mortos, mas ainda não há confirmação se a morte foi em função de febre amarela. Também foram encontrados animais mortos em Ipê. Contudo, conforme a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS), os corpos dos animais estavam em estado avançado de decomposição, o que inviabilizou a coleta de material.
Os casos mais recentes foram confirmados na última semana. Nas cidades de abrangência da 5ª CRS, já havia a recomendação para intensificar a vacina. A orientação partiu do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS). Na região da 6ª CRS, que abrange Lagoa Vermelha, André da Rocha e Capão Bonito do Sul, será realizada uma reunião online nesta quarta-feira (3) com os gestores municipais da região para expor a situação, já que as cidades entraram para a área de risco e é preciso intensificar a imunização.
A Coordenadora de Vigilância e Atenção em Saúde de Lagoa Vermelha, Rachel Bombassaro, explica que foram encontrados no início de fevereiro cinco animais mortos na área rural do município. A equipe da prefeitura coletou amostras de sangue, que foram encaminhadas à 6ª CRS para realização de exames. Dos cinco, dois exames tiveram resultado positivo para febre amarela. Os macacos que estavam infectados foram localizados nas comunidades de São Joaquim e em Estância no começo do mês de fevereiro.
Ela alerta que os primatas servem como indicadores da presença do vírus no ambiente silvestre. Raquel reitera que os animais, assim como os humanos, são picados pelo mosquito transmissor da doença.
– Encontramos no município cinco animais, e dois positivaram para a febre amarela. Sempre é importante frisar que o bugio não transmite o vírus, ele é mais uma vítima da doença, assim como o ser humano. O animal é picado pelo mosquito e desenvolve a doença, e morre em decorrência disso.
A coordenadora ressalta que é importante que a população informe o município caso encontro bugios mortos para que eles possam ser examinados. Basta ligar para (54) 3358-9627:
– Se encontrarem primatas mortos, nos avisem e isolem o local, se possível cubram o corpo dele para que outros bichos não comam até que seja recolhida a amostra.
Vacinação
As pessoas que não estão imunizadas contra a doença são contaminadas somente ao serem picadas pelo mosquito transmissor . Por isso, segundo a coordenadora de vacinação de Lagoa Vermelha, Malvina Lima, as pessoas que não possuem comprovação vacinal contra a febre amarela são consideradas não imunizadas e devem ligar na unidade básica de saúde de referência.
– A vacina contra a febre amarela é de rotina, por isso, é difícil ter pessoas que não estejam imunizadas. Porém, caso alguém não tenha sido vacinado, basta ligar para uma unidade de saúde.
A vacina contra a febre amarela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e precisa ser aplicada somente uma vez entre os cinco e os 59 anos. Crianças devem tomar a primeira dose aos 9 meses e um reforço aos 4 anos.
A vacinação de pessoas com mais de 60 anos de idade, gestantes e mulheres que estejam amamentando crianças menores de 6 meses deve ocorrer em situações especiais, como emergência epidemiológica. Pessoas que têm dúvidas se foram ou não imunizadas devem procurar uma unidade básica de saúde (UBS) para receber a dose.
Apesar dos avisos emitidos aos municípios, a Serra tem alto índice de imunização contra a febre amarela, de acordo a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde. Normalmente quem ainda não tomou as vacinas são pessoas que migraram a partir de outras regiões. Por isso, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) recomenda aos municípios a busca ativa de pessoas não vacinadas para a aplicação das doses. A estratégia, contudo, varia de acordo com cada município.
Saiba por que o bugio é considerado um termômetro da febre amarela
Os macacos são considerados uma espécie de termômetro sobre a existência do vírus da febre amarela em circulação em determinadas regiões. Isso ocorre porque eles costumam ser as primeiras vítimas quando o vírus está presente nas cidades gaúchas.
O biólogo Leonardo Seidler De Marchi, que atua na 6ª CRS, explica que isso ocorre porque a biologia do bugio é semelhante à do ser humano.
– Consideramos o bugio um termômetro, um sentinela, porque quando ele é infectado pelo mosquito que transmite a doença, o bugio desenvolve uma doença febril bem parecida com a do ser humano porque ele tem uma característica muito parecida com a nossa.
De acordo com com o biólogo, a febre amarela é provocada por um vírus, do gênero flavivírus, transmitido por mosquitos pertencentes às espécies Aedes, principalmente Aedes aegypti, responsável também por transmitir a Zika, a dengue e a chikungunya, e Haemogogus.
– É sempre bom deixar bem claro que o bugio, assim como o ser humano, não transmite a febre amarela. Quando o ser humano fica doente, ele não transmite, e os primatas também não. Eles são o nosso alerta, e chamamos de termômetro porque, quando há muitas mortes dos animais, é um sinal da presença da febre amarela na mata próxima à gente.
De Marchi esclarece que os casos são investigados porque os bugios podem morrer de outras causas, mas quando há mortalidade acentuada, cresce a suspeita de febre amarela.
– Quando some um bando todo, dificilmente será outra coisa que não febre amarela. Não conhecemos outra doença que vá matar tantos bichos em tão pouco tempo.
Além dos bugios, a febre amarela também afeta outros primatas da região, como o bugio ruivo e o macaco prego na Serra, e em outras regiões gaúchas, o bugio preto. E no país, o sagui e demais tipos de primatas.
– A febre amarela tem grande mortalidade nesses primatas não humanos, por isso, quem mora no interior deve ficar alerta para, quando encontrar animais mortos, avisar a Secretaria de Saúde dos municípios para que coletem o material e verifiquem se o primata foi contaminado.
Ele alerta ainda:
– Mesmo se a pessoa encontrar só a ossada, tem que ser notificada (a secretaria) para que seja investigado o lugar onde ele morreu, porque às vezes são encontrados outros animais nas proximidades ou mortos ou doentes, e até mesmo mosquito, o que indica a presença da febre amarela nessas regiões.
Maus tratos
Matar ou cometer algum tipo de mau-trato a esses animais, assim como demais animais silvestres, é crime ambiental previsto na Lei nº 9.605/1998; Decreto Federal 6.514/2008; e Decreto Estadual 53.202/2016.
Tire suas dúvidas
O que é a febre amarela
É uma doença infecciosa causada por vírus, que se manifesta por febre, dor no corpo, amarelão, fraqueza e com alto risco de morte em suas formas graves.
Sintomas da febre amarela
Os sintomas iniciais incluem febre de início súbito, calafrios, dores de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Após esse período inicial, geralmente ocorre declínio da temperatura e diminuição dos sintomas, provocando uma sensação de melhora no paciente. No entanto, cerca de 15% apresentam um breve período de horas a um dia sem sintomas e, então, desenvolvem uma forma mais grave da doença.
Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Entre 20% e 50% das pessoas que desenvolvem doença grave podem morrer. A doença pode levar à morte, se não for tratada rapidamente. Nos casos que evoluem para a cura, a infecção confere imunidade duradoura. Isso quer dizer que você só pode ter febre amarela uma vez na vida.