Pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas correm maior risco de sofrer da forma grave da covid-19 e maior chance de morte, aponta estudo divulgado nesta segunda-feira (19) pela Fundação FondaMental, rede de pesquisadores sobre doenças psiquiátricas
Esse prognóstico poderia ser explicado pelos obstáculos para receber atendimento médico adequado, pelas alterações imunoinflamatórias relacionadas aos transtornos psiquiátricos ou pelo impacto dos tratamentos feitos por esses pacientes, indicam dois dos autores da pesquisa, que ressaltam a prioridade na vacinação desses pacientes.
O artigo, que sintetiza 33 estudos publicados sobre o assunto em 22 países, conclui que as pessoas que sofrem de transtornos mentais têm um risco duas vezes maior de morrer de covid-19 em relação às demais. Essa associação é especialmente verdadeira para transtornos psicóticos, transtornos de humor e vícios, mas não para transtornos de ansiedade. Fazer tratamento com antipsicóticos, ansiolíticos ou antidepressivos está associado a um alto risco de sobremortalidade (multiplicada por 3,7, 2,6 e 2,2, respectivamente).
O estudo, publicado no último dia 15 na revista britânica The Lancet Psychiatry, também mostra que os pacientes afetados por transtornos mentais têm 2,2 vezes mais chance de serem internados em caso de covid-19, mas não são atendidos em UTIs com maior frequência.
— Sabemos que esses pacientes enfrentam obstáculos importantes para receber atendimento médico, e nossos resultados sugerem que um acesso reduzido ao atendimento contribui para o aumento da mortalidade observado nesse grupo — considera uma das autoras, Livia De Picker, do hospital psiquiátrico universitário Campus Duffel (Bélgica).
Outra hipótese é de que o risco aumentado poderia refletir processos biológicos, como alterações imunoinflamatórias relacionadas aos transtornos psiquiátricos, aponta Marion Leboyer, diretora da Fundação FondaMental. "Os tratamentos antipsicóticos poderiam aumentar os riscos cardiovascular e tromboembólico, interferir na resposta imunológica e causar interações com medicamentos usados para tratar a covid", acrescenta.
"Nossos resultados ressaltam a necessidade de análises mais precisas para gerenciar e prevenir a covid em grupos onde haja pacientes de risco identificados neste estudo", indicam os autores.
— As autoridades de saúde pública devem tomar medidas específicas para garantir a máxima vacinação (dos pacientes) e lutar contra uma eventual redução do acesso ao atendimento — considera Livia De Picker.