Uma versão atualizada da vacina de Oxford/AstraZeneca promete mais proteção contra as variantes do coronavírus, principalmente a sul-africana, também conhecida como Beta. De quebra, também deve ser mais eficaz contra a Delta, a cepa indiana que preocupa o mundo.
O novo imunizante, previamente batizado de AZD2816, já entrou em fase de estudos com humanos no Reino Unido, na Polônia e na África do Sul. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou os testes clínicos na quarta-feira (14), e, em breve, a vacina deve começar a ser aplicada em voluntários na Bahia, no Distrito Federal, no Paraná, no Rio Grande do Norte, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Instituição que conduziu os estudos da atual vacina de Oxford/AstraZeneca no Estado, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre também será responsável por administrar a nova versão. Mais uma vez, quem fica à frente do novo processo é o médico infectologista Eduardo Sprinz.
Segundo ele, a versão atualizada da vacina é baseada na mesma plataforma que o imunizante utiliza hoje, com a tecnologia de vetor viral, em que outro vírus é usado como portador, sendo modificado para carregar no organismo as informações genéticas que permitirão combater a covid-19. No entanto, consegue proteger contra a cepa original, a qual chama de ancestral, e contra a sul-africana, considerada a mais resistente às vacinas contra a covid-19. Portanto, se o novo imunizante é capaz de ser mais eficaz contra a variante identificada na África do Sul, entende-se que também será altamente eficiente contra as demais.
— Essa vacina que contempla o vírus ancestral, mais a variante sul-africana, será mais protetora contra as demais variantes, inclusive a Delta. Isso porque, do ponto de vista de resistência às vacinas, a variante da África do Sul está no extremo oposto ao vírus ancestral. No meio do caminho tem a P.1 (Gama, brasileira), a Delta e a inglesa — explica ele.
De acordo com um novo estudo do Public Health England (PHE), a atual vacina de Oxford/AstraZeneca é 92% eficaz contra hospitalizações decorrentes da variante Delta do coronavírus quando as duas doses são administradas.
Os testes clínicos da versão atualizada da vacina devem começar no Estado entre o fim de julho e o início de agosto, e poucas pessoas poderão participar. Cerca de 800 voluntários deverão integrar o processo no país todo.
Os participantes precisam ter 18 anos ou mais. Podem já ter se vacinado com duas doses do imunizante de Oxford ou da Pfizer, que tem uma tecnologia diferente, de RNA mensageiro. Para quem ainda não tomou qualquer vacina e não possui anticorpos, serão administradas as duas doses do novo imunizante.
De acordo com Sprinz, o requisito para que os voluntários tenham sido imunizados somente com Oxford/AstraZeneca ou Pfizer existe porque são as duas vacinas mais utilizadas no Ocidente. Nos casos em que a pessoa tenha sido vacinada antes dos testes clínicos, a segunda dose deve ter sido recebida pelo menos três meses antes da primeira aplicação efetuada no estudo.
Ainda não há previsão para que a nova vacina de Oxford/AstraZeneca chegue ao mercado.
— Ainda está engatinhando. Demora, há alguns passos a serem vencidos — diz Sprinz.