Parte das pessoas imunizadas com a primeira dose da AstraZeneca reclama que, após a vacinação, apresentam sintomas como dores no corpo, de cabeça, febre e inchaço no local da injeção. Já na segunda dose, os vacinados com esse imunizante contra covid-19 podem sentir com bem menos intensidade tais efeitos colaterais. A informação consta na bula da AstraZeneca.
Vale lembrar que todos os efeitos citados acima são considerados comuns e já estavam previstos pelo laboratório responsável com base nos ensaios clínicos. Na bula do imunizante, o fabricante reforça que “a maioria dos efeitos colaterais foi de natureza leve a moderada e resolvida dentro de poucos dias”, geralmente, em um prazo de 24 a 48 horas. Por fim, apontam que “menos efeitos colaterais foram relatados após a segunda dose”.
Para entender como isso acontece, primeiramente é preciso saber como funciona a AstraZeneca. Ela é uma vacina de vetor viral, explica Fabiano Ramos, chefe do serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS):
— Ela faz uso de um outro vírus para introduzir genes do coronavírus nas células. Nesse caso, o imunizante é resultado da adição de partes desse DNA em um adenovírus, que infecta chimpanzés, mas que é inofensivo aos seres humanos.
O adenovírus é geneticamente alterado para não se multiplicar no organismo humano. Porém, depois da vacinação, o adenovírus penetra em algumas células do corpo humano e elas, por sua vez, fazem uso desses pedaços do vírus invasor e passam a produzir a proteína spike, utilizada pelo coronavírus para invadi-las. O sistema imunológico reconhece isso como algo estranho e, em resposta, produz anticorpos.
E é a essa tecnologia aplicada na fabricação da vacina que a ciência tem creditado o motivo das reações adversas mais robustas. Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ressalta que efeitos colaterais podem ser sentidos pelo uso de qualquer tipo de imunizante porque esse é um movimento natural da resposta imune. Porém, essa plataforma de vetor viral ativa o sistema de defesa de maneira diferente.
— Esse tipo de tecnologia torna o imunizante mais reatogênico porque ele coloca todo o corpo em estado de alerta, por isso, surgem os sintomas. Nosso corpo responde com vigor, como se fosse realmente uma infecção, apesar de não ser. Quando vem a segunda dose, o organismo já sabe como reagir, não é mais uma novidade. É mais um reforço para que ele lembre o que precisa ser feito. Por isso, a reação, caso aconteça, pode ser bem mais branda — explica.
É preciso completar o ciclo vacinal, reforça especialista
O chefe do serviço de Infectologia do São Lucas pontua que os efeitos adversos são mínimos quando comparados aos benefícios.
— A proteção máxima se dará quando o esquema vacinal estiver completo. No caso da AstraZeneca, quando a pessoa receber as duas doses. Sabemos que há proteção significativa com uma dose só, porém ela será maior com a realização das duas doses. Não há motivo para temer essa vacina, nem pelos sintomas pós-injeção, nem pelo risco de desenvolver trombose, porque, neste último caso, as chances dessa reação surgir são extremamente raras — pontua Ramos.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção da AstraZeneca no Brasil, um artigo, ainda em pré-print (sem revisão de outros cientistas), submetido à revista científica The Lancet revelou que a primeira dose do imunizante já garante eficácia geral de 76% de 22 a 90 dias após a aplicação. Depois desse período, com uma segunda dose, a eficácia da vacina sobe para 82,4%. Para casos mais graves da doença, a eficácia foi de 100%, uma vez que não houve internações hospitalares.
Os especialistas afirmam, e a bula da AstraZeneca também assinala, que, caso os efeitos adversos apareçam com intensidade após a segunda dose, medicamentos para alívio de dor e febre podem ser administrados. Se eles persistirem, o aconselhado é que o indivíduo vá ao médico para averiguar se o desconforto está realmente relacionado ao imunizante ou se tem outra causa.